Com a cerimónia que ontem teve lugar no Congresso, o Uruguai deu cumprimento a uma condenação do Tribunal Interamericano dos Direitos Humanos de 2021. Na ausência do presidente Luis Lacalle Pou, coube à vice-presidente, Beatriz Argimón, assumir a responsabilidade em nome do Estado.
Ao discursar, Argimón reconheceu os crimes perpetrados contra Óscar Tassino e Luis Eduardo González, bem como o massacre das jovens Silvia Reyes, Laura Raggio e Diana Maidanik, conhecidas como as «Raparigas de Abril», pois foram crivadas de balas no dia 21 de Abril de 1974, numa operação do Exército e da Polícia.
«Reconhecemos que o Estado é responsável pela violação dos direitos e o reconhecimento da personalidade jurídica à vida, à integridade pessoal e à liberdade pessoal», disse a vice-presidente da República.
Argimón instou quem tiver informação sobre os restos mortais dos detidos desaparecidos a entregá-la, para que possam ser encontrados.
Na cerimónia, que a TeleSur classifica como «emotiva», procedeu-se também ao reconhecimento do significado dos crimes perpetrados durante a ditadura, bem como da política de repressão e terrorismo de Estado então vigente.
Em simultâneo, refere a fonte, tratou-se de uma homenagem às vítimas e aos seus familiares, que mantiveram viva a memória dos seus entes queridos, mesmo sem saber o seu paradeiro.
Em comunicado, os familiares dos desaparecidos, que tinham convocado os cidadãos a participar na cerimónia que se realizou no Salão dos Passos Perdidos do Congresso, reclamaram um maior empenho dos comandos das Forças Armadas e do governo, com vista a saber mais sobre o paradeiro dos desaparecidos antes e depois do golpe de Estado de 27 de Junho de 1973.
Com o 20 de Maio e a Marcha do Silêncio à porta, Elena Zaffaroni, das Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos, alertou para a falta de resposta do Estado e a «cultura institucional de impunidade». Zaffaroni, hoje com 73 anos, foi presa na madrugada de 13 de Dezembro de 1974, estando grávida de quatro meses, juntamente com o seu companheiro, Luis Eduardo Chiqui González, militante do Partido Comunista Revolucionário que viu pela última vez a 24 de Dezembro daquele ano. O seu período de cativeiro acabaria em 1976 mas a sua luta prolongou-se no tempo, contra a impunidade e pelo direito dos familiares e da sociedade uruguaia a saberem o destino dos presos desparecidos. Em entrevista à revista Caras y Caretas, falou do alcance que a Marcha do Silêncio hoje tem, do «abraço» que os membros da associação Mães e Familiares sentem de muita gente de várias gerações, que fizeram sua a causa de insistir na busca dos desaparecidos da ditadura (1973-1985) e na procura da verdade e da justiça, face a um Estado que, nos 37 anos de democracia, não «assumiu as suas responsabilidades». A propósito dos 48 anos da instauração da ditadura no Uruguai, o PIT-CNT evocou a greve geral de então, em que trabalhadores e estudantes se posicionaram face ao «novo avanço do terrorismo de Estado». A 27 de Junho de 1973, o presidente eleito do Uruguai, Juan María Bordaberry, decretou a dissolução do Parlamento, com o apoio das Forças Armadas, e a data marca o início da ditadura cívico-militar que se prolongou até 1985 no país sul-americano. O golpe de Estado foi «mais um passo» no «autoritarismo» que existia no país desde 1968, afirma o Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT) numa declaração comemorativa, sublinhando que, no período que antecedeu o golpe, o movimento popular «levou a cabo várias estratégias para fazer frente» à «acção ilegítima do Estado», em que se incluía a prática da tortura, desaparecimentos, detenções sem intervenção do Poder Judicial, homicídios, o exílio político ou o desterro da vida social. A central destaca o papel do movimento sindical organizado em torno da outrora Convenção Nacional dos Trabalhadores e da Federação dos Estudantes do Uruguai, em conjunto com organizações sociais e alguns partidos políticos, «face ao novo avanço do terrorismo de Estado». A associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos acusa as Forças Armadas de ocultar informação sobre atrocidades cometidas na ditadura (1973-85), ao apresentar novos documentos. Um coronel preso por crimes na ditadura do Uruguai admitiu ter matado e torturado, e confirmou um voo clandestino com prisioneiros na Argentina que estavam desaparecidos, segundo documentos oficiais divulgados na sexta-feira passada. «Tive de matar e matei e não me arrependo. Tive de torturar e torturei», disse o coronel reformado Gilberto Vázquez num Tribunal de Honra militar em 2006 e cujas actas foram agora reveladas, informa a agência AFP. «Perco muitas noites de sono ao lembrar-me dos tipos que matei à paulada, mas não me arrependo», acrescentou Vázquez, que foi condenado, há 14 anos, pelo homicídio de 28 uruguaios capturados em 1976 na Argentina. Os autos do processo foram obtidos pela organização Mães e Familiares de Presos Uruguaios Desaparecidos, que os disponibilizou ao Senado. Entretanto, o organismo teve acesso a um segundo pacote de documentos, na sequência de um pedido efectuado ao Ministério da Defesa, deferido pelo ministro da tutela. Neste segundo pacote, aparece uma carta de Gilberto Vázquez em que este admite ter sido felicitado por altas patentes militares por ter «executado numerosas pessoas, sequestrado e oprimido em vários países», revelaram representantes do organismo, esta terça-feira, numa conferência de imprensa em Montevideu. Por isso, os Familiares dos Presos Desaparecidos pediram ao sistema político que dê «sinais claros» de que «os militares devem prestar contas à Justiça». O Tribunal de Honra Militar declarou Gilberto Vázquez culpado «por ter ofendido a honra [das Forças Armadas]», mas «não por todas as atrocidades que confessou no tribunal e na carta assinada», disse o porta-voz da associação, Ignacio Errandonea. «Onde está a honra dos generais? A resposta do comando foi que se comunicaria oportunamente, quando a sua obrigação era denunciar imediatamente à Justiça. Estes generais continuam a esconder os factos à Justiça e hoje continuam a reclamar porque estes crimes caducaram porque passou muito tempo e são velhinhos», denunciou o dirigente. Errandonea destacou que as Forças Armadas queriam combater estes documentos e que a «Justiça deve investigar tudo, a fundo». «Entendemos que o mais grave de tudo o que foi revelado nestes processos é o ocultamento, por parte das Forças Armadas, de todos os crimes que cometeram, o continuar a esconder os nossos familiares, porque, hoje em dia, os nossos familiares continuam a ser sequestrados pelos militares», frisou Errandonea, citado por La Diaria. O porta-voz denunciou que, desde o fim da ditadura, houve sempre um poder paralelo ao democrático e que «os generais de agora continuam a amparar a impunidade e os crimes da ditadura». Por seu lado, Elena Zaffaroni, outra dirigente da associação, lamentando a impunidade dos militares, que perdura e «nos envergonha», sublinhou a persistência da denúncia, bem como a tomada de consciência crescente entre as gerações mais novas. Convidou ainda todos a participar numa concentração, esta sexta-feira, às 18h00, na Praça Libertad, na capital uruguaia, «com as fotos dos nossos desaparecidos», pelo fim da impunidade, pela verdade e por justiça. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Para o PIT-CNT, a greve geral foi «uma resposta adequada e justa aos tempos que estavam para vir», em que se intensificou a política de terrorismo Estado que havia precedido o golpe: «milhares de prisões ilegítimas, torturas, assassinatos, desaparecimentos, crimes sexuais, apropriação de menores, exílio», explica. Hoje, 35 anos depois do primeiro governo democrático, ainda se «luta por verdade, justiça, memória e reparação integral», nota a central sindical uruguaia no seu portal. Sobre a campanha de recolha de assinaturas, num contexto de emergência sanitária, para levar a referendo 135 artigos da Lei de Urgente Consideração, promovida pelo governo de direita, o PIT-CNT afirma que se trata de um «novo capítulo de resistência face à instalação de inovadoras formas de autoritarismo estatal». A Crysol, associação de ex-presos políticos uruguaios, afirma que o regime da ditadura deixou um «legado funesto» para a sociedade, com «enorme incidência na realidade nacional, no plano judicial e político, mas também no económico». A nível económico, a Crysol refere o aumento das despesas orçamentais com as Forças Armadas, a partir 1972, bem como o sistema de reformas e pensões dos militares, «privilegiado» e «amplamente deficitário», que só em 2020 custou 500 milhões de dólares. Com o 20 de Maio à porta, familiares de desaparecidos e Instituição Nacional de Direitos Humanos (INDH) abordam o «silêncio» dos militares sobre a repressão na ditadura (1973-1985). O presidente da INDH do Uruguai, Wilder Tayler, defendeu que «militares subalternos silenciam elementos sobre os detidos desaparecidos na ditadura por temerem perder as reformas». Tayler referiu-se a esse «obstáculo» para a principal tarefa do organismo – dar com o paradeiro de cerca de 200 vítimas da ditadura no país – os desaparecidos –, no âmbito da operação Condor apoiada pelos Estados Unidos contra opositores de esquerda em vários regimes na América do Sul. Em declarações ao programa «Mejor hablar», da rádio M24, Tayler afirmou que a estrutura das Forças Armadas está repleta de gente (de guardas a enfermeiros e a choferes) que se encontrava perto dos detidos desaparecidos. A associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos acusa as Forças Armadas de ocultar informação sobre atrocidades cometidas na ditadura (1973-85), ao apresentar novos documentos. Um coronel preso por crimes na ditadura do Uruguai admitiu ter matado e torturado, e confirmou um voo clandestino com prisioneiros na Argentina que estavam desaparecidos, segundo documentos oficiais divulgados na sexta-feira passada. «Tive de matar e matei e não me arrependo. Tive de torturar e torturei», disse o coronel reformado Gilberto Vázquez num Tribunal de Honra militar em 2006 e cujas actas foram agora reveladas, informa a agência AFP. «Perco muitas noites de sono ao lembrar-me dos tipos que matei à paulada, mas não me arrependo», acrescentou Vázquez, que foi condenado, há 14 anos, pelo homicídio de 28 uruguaios capturados em 1976 na Argentina. Os autos do processo foram obtidos pela organização Mães e Familiares de Presos Uruguaios Desaparecidos, que os disponibilizou ao Senado. Entretanto, o organismo teve acesso a um segundo pacote de documentos, na sequência de um pedido efectuado ao Ministério da Defesa, deferido pelo ministro da tutela. Neste segundo pacote, aparece uma carta de Gilberto Vázquez em que este admite ter sido felicitado por altas patentes militares por ter «executado numerosas pessoas, sequestrado e oprimido em vários países», revelaram representantes do organismo, esta terça-feira, numa conferência de imprensa em Montevideu. Por isso, os Familiares dos Presos Desaparecidos pediram ao sistema político que dê «sinais claros» de que «os militares devem prestar contas à Justiça». O Tribunal de Honra Militar declarou Gilberto Vázquez culpado «por ter ofendido a honra [das Forças Armadas]», mas «não por todas as atrocidades que confessou no tribunal e na carta assinada», disse o porta-voz da associação, Ignacio Errandonea. «Onde está a honra dos generais? A resposta do comando foi que se comunicaria oportunamente, quando a sua obrigação era denunciar imediatamente à Justiça. Estes generais continuam a esconder os factos à Justiça e hoje continuam a reclamar porque estes crimes caducaram porque passou muito tempo e são velhinhos», denunciou o dirigente. Errandonea destacou que as Forças Armadas queriam combater estes documentos e que a «Justiça deve investigar tudo, a fundo». «Entendemos que o mais grave de tudo o que foi revelado nestes processos é o ocultamento, por parte das Forças Armadas, de todos os crimes que cometeram, o continuar a esconder os nossos familiares, porque, hoje em dia, os nossos familiares continuam a ser sequestrados pelos militares», frisou Errandonea, citado por La Diaria. O porta-voz denunciou que, desde o fim da ditadura, houve sempre um poder paralelo ao democrático e que «os generais de agora continuam a amparar a impunidade e os crimes da ditadura». Por seu lado, Elena Zaffaroni, outra dirigente da associação, lamentando a impunidade dos militares, que perdura e «nos envergonha», sublinhou a persistência da denúncia, bem como a tomada de consciência crescente entre as gerações mais novas. Convidou ainda todos a participar numa concentração, esta sexta-feira, às 18h00, na Praça Libertad, na capital uruguaia, «com as fotos dos nossos desaparecidos», pelo fim da impunidade, pela verdade e por justiça. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Sabia-se tudo e nos centros de detenção também, mas o que acontece é que são bastante impermeáveis ao fornecimento de informação, devido ao espírito de corpo, à ideologia ou ao receio da estrutura hierárquica», destacou, citado pela Prensa Latina. Considerou que, se é bastante difícil pensar em procurar arquivos em todas as instalações do Estado, poder-se-ia pensar em procurá-los nas unidades militares onde houve bases do Órgão Coordenador de Operações Anti-subversivas (OCOA), o que «já limita bastante o raio». No que respeita aos arquivos recentemente encontrados em instalações militares, que foram entregues ao organismo pelo presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e pelo ministro da Defesa, Javier García, disse que não trazem elementos que possam alterar o curso das investigações sobre detidos desaparecidos. Um representante da associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos durante a ditadura (1973-1985) sublinhou, no passado fim-de-semana, a falta de respostas do governo às iniciativas propostas com vista ao esclarecimento daquela etapa da história recente do país. Há aproximadamente um ano, a associação pediu ao executivo que começasse a procurar no Comando da Região Militar Um um arquivo do OCOA, de modo a esclarecer questões sobre os desaparecidos. Entre os condenados figuram políticos, ex-chefes de Estado e militares ligados ao assassinato, tortura e desaparecimento de italianos no Chile, Peru, Uruguai e Bolívia nos anos 70 e 80. A Justiça italiana condenou, esta segunda-feira, a prisão perpétua 24 envolvidos na Operação Condor. Entre os condenados estão ex-chefes de Estado, ministros e figuras destacadas dos serviços militares e de segurança de Bolívia, Chile, Peru e Uruguai, acusados de sequestrar e assassinar 23 cidadãos de origem italiana que viviam em países sul-americanos nas décadas de 1970 e 1980, informa a Agência Brasil. A chamada Operação Condor foi uma estratégia político-militar da CIA em coordenação com ditaduras do Cone Sul, levada a cabo nos anos 70 e 80 do século passado com o propósito de coordenar a repressão sobre a oposição a essas ditaduras – no Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai – e eliminar os adversários políticos (dirigentes de partidos de esquerda, sindicalistas, manifestantes, entre outros). Com a decisão ontem tomada, o Tribunal de Apelação de Roma alterou a sentença de primeira instância, proferida em 2017, de acordo com a qual oito réus eram condenados a prisão perpétua e 19 eram absolvidos, por delitos prescritos. O processo teve início há 20 anos, em 1999, com a denúncia, formulada em Itália, de familiares de desaparecidos. Inicialmente, a investigação incluía 140 pessoas, mas problemas burocráticos ligados à morte de muitos dos suspeitos reduziram o número de réus, refere a Agência Brasil. Um dos condenados é o ex-militar uruguaio Jorge Néstor Troccoli, que foi o único a comparecer ao julgamento, uma vez que também tem nacionalidade italiana e reside no país transalpino desde 2007, quando fugiu do Uruguai, depois de ter confessado o seu envolvimento em torturas. Troccoli, chefe do serviço de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais do Uruguai, foi acusado de ligação ao aparelho de repressão argentino, com o qual executava o planeamento de assassinatos. Em Abril deste ano, o governo uruguaio enviou à Justiça italiana informações de acordo com as quais Troccoli teria participado na organização de um voo que levou ao desaparecimento de 22 uruguaios. Em primeira instância foram condenadas a pena perpétua o ditador boliviano Luis García Meza, falecido em Abril de 2018, e o seu ministro do Interior, Luis Arce Gómez. Também o antigo presidente peruano Francisco Morales Bermúdez, o seu primeiro-ministro, Pedro Richter Prada, falecido em Julho de 2017, o ex-militar peruano Germán Ruiz. Ainda os chilenos Hernán Ramírez e Rafael Ahumada Valderrama, e o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros uruguaio Juan Carlos Blanco. A estes, juntam-se agora os ex-militares chilenos Pedro Octavio Espinoza Bravo, Daniel Aguirre Mora, Carlos Luco Astroza, Orlando Moreno Vásquez e Manuel Abraham Vásquez Chauan, indica o Resumen Latinoamericano. Foram também condenados os ex-militares uruguaios José Ricardo Arab, José Nino Gavazzo, Juan Carlos Larcebeau, Pedro Antonio Mato, Luis Alfredo Maurente, Ricardo José Medina, Ernesto Avelino Ramas Pereira, José Sande Lima, Jorge Alberto Silveira, Ernesto Soca e Gilberto Vázquez. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O familiar defendeu que ali existia informação, na medida em que o OCOA centralizava todas as operações de repressão de outras unidades, por vezes policiais, principalmente em Montevideu e Canelones. De acordo com o semanário Brecha, o silêncio presidencial ao pedido feito pelo familiar pode ficar a dever-se às reacções que provocou nos diversos níveis das Forças Armadas. «O problema da documentação sobre o terrorismo de Estado é tão hermético como um pacto de silêncio dos oficiais envolvidos», disse, acrescentando que o governo, mesmo com vontade de avançar, «não tem, pelo menos agora, força suficiente para derrubar muros». Em contexto de pandemia de Covid-19, a 26.ª edição da Marcha do Silêncio, que se realizou pela primeira vez em 1996, assume um formato mais virtual, mas também com «corredores» nas ruas de Montevideu, e tem como lema «Onde estão? Não ao silêncio nem à impunidade. Memória, Verdade e Justiça». Organizada pela associação Mães e Familiares de Uruguaios Detidos e Desaparecidos, a Marcha do Silêncio também se realiza noutros pontos do país austral e evoca os assassinatos, perpetrados a 20 de Maio de 1976 em Buenos Aires, do senador da Frente Ampla Zelmar Michelini, do deputado do Partido Nacional Héctor Gutiérrez Ruiz e de Rosario Barredo e William Whitelaw, bem como o desaparecimento do comunista Manuel Liberoff, a 19 de Maio de 1976, também na capital argentina. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Os militares mantiveram um papel de destaque no Uruguai durante o governo do presidente Julio María Sanguinetti, afirma a Crysol, dando como exemplo disso a Lei da Caducidade de 1986, que impediu que membros da instituição armada fossem julgados como «criminosos» por acções cometidas na ditadura. «Quase 200 detidos desaparecidos. 200 assassinados. Milhares de presos políticos e exilados. A ditadura cívico-militar deixou um saldo trágico para o país inteiro em matéria de violações dos direitos humanos mas também noutras esferas da vida. Os trabalhadores perderam 50% do poder de compra dos seus salários. Uma enorme massa de dinheiro foi destinada às arcas dos grupos económicos poderosos, os "malla de oro" da época, que apoiaram o processo», sublinha a associação. Também a propósito do 48.º aniversário do golpe de Estado que instaurou a ditadura no Uruguai, a associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos publicou um vídeo editado pelo Colectivo Catalejo, com os lemas «Nunca mais» e «Onde estão?». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. No princípio, nos anos 80, «as mães procuravam os seus filhos, as esposas os seus companheiros, os seus irmãos e era, como início, o desespero pelas suas vidas», disse. Depois, veio um «manto de silêncio» e a nível legislativo procurou-se «encerrar o assunto», «fazer com que não houvesse uma condenação». Então, frisou, ficou apenas um grupo de três ou quatro mães a reunir-se porque cada um foi à sua vida. Por isso, considera «espectacular» a adesão paulatina das pessoas, sublinhando que «o coração desta luta é a entrega dos desaparecidos, a procura dos arquivos que contêm a informação, em vez dos papéis provenientes do Ministério da Defesa, que não ajudam muito». Elena Zaffaroni enfatizou a importância do acesso aos arquivos existentes, porque aquilo a que a associação pôde aceder confirma que existiu uma «operação institucional, que os desaparecimentos se deram no quadro do terrorismo de Estado, em detenções massivas da população mas também selectivas», sem que se saiba por que os altos comandos seleccionaram aqueles. Questionada pela Caras y Caretas sobre a existência de «documentos ocultos» sobre as vítimas, a ex-presa política manifestou essa convicção e lembrou a metodologia dos aparelhos da repressão da ditadura, que tudo anotava, bem como o facto de determinados arquivos terem «dado à costa» nos últimos anos. Zaffaroni afirmou que nenhum dos presidentes da democracia lhes conseguiu estes arquivos. «Deixou de ser um assunto dos familiares apenas e entende-se que é um tema do presente, da qualidade da democracia, que diz respeito e nos condiciona a todos», disse. A associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos reclamou, terça-feira, o acesso a arquivos militares recentemente encontrados e com informação sobre actividades repressivas na ditadura. No fim-de-semana passado, o Ministério uruguaio da Defesa revelou que tinham sido encontrados arquivos militares com informações sobre a repressão, na base de artilharia número cinco de Montevideu, que funcionou como centro de detenção de presos políticos e onde estiveram detidas cerca de 100 pessoas. De acordo com diário El País, a que a agência Prensa Latina faz referência, as informações, posteriores ao golpe de Estado de 1973, estão contidas em cinco livros e dois dossiês, e dizem respeito a ordens e investigações de pessoas, ao Serviço de Informação e Defesa (SID) e ao Órgão Coordenador de Operações Anti-subversivas (OCOA). Referiu a mesma fonte que os documentos, previamente digitalizados, iriam ser entregues, ainda ontem, ao presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e ao ministro da Defesa, Javier García, bem como ao procurador-geral, Jorge Díaz, e à Instituição Nacional de Direitos Humanos (INDH). A associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos acusa as Forças Armadas de ocultar informação sobre atrocidades cometidas na ditadura (1973-85), ao apresentar novos documentos. Um coronel preso por crimes na ditadura do Uruguai admitiu ter matado e torturado, e confirmou um voo clandestino com prisioneiros na Argentina que estavam desaparecidos, segundo documentos oficiais divulgados na sexta-feira passada. «Tive de matar e matei e não me arrependo. Tive de torturar e torturei», disse o coronel reformado Gilberto Vázquez num Tribunal de Honra militar em 2006 e cujas actas foram agora reveladas, informa a agência AFP. «Perco muitas noites de sono ao lembrar-me dos tipos que matei à paulada, mas não me arrependo», acrescentou Vázquez, que foi condenado, há 14 anos, pelo homicídio de 28 uruguaios capturados em 1976 na Argentina. Os autos do processo foram obtidos pela organização Mães e Familiares de Presos Uruguaios Desaparecidos, que os disponibilizou ao Senado. Entretanto, o organismo teve acesso a um segundo pacote de documentos, na sequência de um pedido efectuado ao Ministério da Defesa, deferido pelo ministro da tutela. Neste segundo pacote, aparece uma carta de Gilberto Vázquez em que este admite ter sido felicitado por altas patentes militares por ter «executado numerosas pessoas, sequestrado e oprimido em vários países», revelaram representantes do organismo, esta terça-feira, numa conferência de imprensa em Montevideu. Por isso, os Familiares dos Presos Desaparecidos pediram ao sistema político que dê «sinais claros» de que «os militares devem prestar contas à Justiça». O Tribunal de Honra Militar declarou Gilberto Vázquez culpado «por ter ofendido a honra [das Forças Armadas]», mas «não por todas as atrocidades que confessou no tribunal e na carta assinada», disse o porta-voz da associação, Ignacio Errandonea. «Onde está a honra dos generais? A resposta do comando foi que se comunicaria oportunamente, quando a sua obrigação era denunciar imediatamente à Justiça. Estes generais continuam a esconder os factos à Justiça e hoje continuam a reclamar porque estes crimes caducaram porque passou muito tempo e são velhinhos», denunciou o dirigente. Errandonea destacou que as Forças Armadas queriam combater estes documentos e que a «Justiça deve investigar tudo, a fundo». «Entendemos que o mais grave de tudo o que foi revelado nestes processos é o ocultamento, por parte das Forças Armadas, de todos os crimes que cometeram, o continuar a esconder os nossos familiares, porque, hoje em dia, os nossos familiares continuam a ser sequestrados pelos militares», frisou Errandonea, citado por La Diaria. O porta-voz denunciou que, desde o fim da ditadura, houve sempre um poder paralelo ao democrático e que «os generais de agora continuam a amparar a impunidade e os crimes da ditadura». Por seu lado, Elena Zaffaroni, outra dirigente da associação, lamentando a impunidade dos militares, que perdura e «nos envergonha», sublinhou a persistência da denúncia, bem como a tomada de consciência crescente entre as gerações mais novas. Convidou ainda todos a participar numa concentração, esta sexta-feira, às 18h00, na Praça Libertad, na capital uruguaia, «com as fotos dos nossos desaparecidos», pelo fim da impunidade, pela verdade e por justiça. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Cabe-lhes verificar a importância dos escritos encontrados, que abrangem o período entre 1972 e 1976, para ligar nomes, operações ou investigações e proceder da forma que entenderem adequada. Para Elena Zaffaroni, uma das dirigentes da associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos, os documentos encontrados confirmam que, desde o regresso à democracia, em 1985, «a informação existe», sendo que «continua espalhada por todos os quartéis que operaram durante a ditadura». Zaffaroni defendeu que as Forças Armadas têm de mudar de atitude e exigir às suas unidades que «façam aparecer tudo quanto permita chegar ao fundo» do passado recente e fazer justiça. A revelação destes documentos agora encontrados ocorreu 11 dias antes do 20 de Maio, data em que habitualmente se realiza a Marcha do Silêncio, para reivindicar a verdade sobre o paradeiro dos presos desaparecidos e o que se passou na ditadura. Este ano, a marcha terá um formato virtual, devido à incidência da pandemia de Covid-19. O procurador-geral do Uruguai, Jorge Díaz, revelou que os documentos militares sobre a ditadura contêm informação valiosa sobre crimes perpetrados nesse contexto. A busca de memória e verdade tem no portal Sitios de la Memoria Uruguay uma das suas trincheiras. Um recurso didáctico, construído à base de militância, com informação sobre vítimas, verdugos e processos. A punição dos verdugos da última ditadura, no Uruguai, continua a ser um processo lento e parcial, afirma o diário argentino Página 12 na sua edição de ontem. No entanto, a busca de memória e verdade foi criando os seus próprios caminhos, à força de militância. Um deles plasmou-se no portal Sitios de Memoria Uruguay, onde se pode encontrar um mapa interactivo do país repleto de informação sobre cada lugar onde o terrorismo de Estado deixou a sua marca. «O objectivo do projecto é identificar, visibilizar, ligar e disponibilizar a informação sobre os locais a partir de onde se organizaram e cometeram crimes contra a humanidade», informa a página. Num primeiro momento foram alfinetes num mapa de papel. Esse foi o gérmen do Sitios de Memoria Uruguay, segundo contam ao Página 12 os criadores da página. Estava-se em 2018, no governo do recentemente falecido Tabaré Vázquez. O Congresso uruguaio tinha aprovado uma lei que possibilitava a criação de espaços da memória no país. «Nessa altura começámos a pensar uma página que concretizasse a possibilidade de um mapeamento e uma geo-referenciação, incorporando informação significativa sobre as lutas por Memória, Verdade e Justiça», refere a investigadora Mariana Risso. Uma vez traçado o plano, era preciso reunir os materiais. «Existiam muitas fontes dispersas que tinham sistematizado cada uma por seu lado a informação sobre cárceres de presos políticos, centros de detenção clandestinos, uma delas, muito importante, levada a cabo pela central sindical PIT-CNT. Aquilo que fizemos foi incorporar todas essas fontes num espaço interactivo», comenta Rodrigo Barbajo, líder da parte informática do projecto. A página viu a luz pela primeira vez a 1 de Outubro do ano passado. Os alfinetes digitalizaram-se e agora aparecem como pontos coloridos num mapa virtual. «Uma pessoa pode procurar o seu bairro e descobrir que a poucos quarteirões da sua casa existiu um Centro Clandestino de Detenção e Tortura. Nós localizámos mais de 140 no mapa, quando apenas uns 40 estão identificados no seu lugar físico», conta María Eugenia Sotelo, outra das responsáveis do projecto. Além disso, pode-se aceder ao ficheiro completo dos 176 uruguaios que continuam desaparecidos, bem como dos 192 que foram assassinados pela violência estatal no Uruguai, na Argentina e noutros países da região. «A maior parte das detenções e desaparecimentos de pessoas de nacionalidade uruguaia deu-se no contexto do Plano Condor, e desapareceram na Argentina», refere Risso. Em breve, o site publicará um apartado especial para as vítimas da acção repressiva coordenada pelas ditaduras do continente. Outra característica do terrorismo de Estado uruguaio é que muitas das suas vítimas tiveram de atravessar períodos de prisão e torturas prolongados. «Isto fez com que a Amnistia Internacional informasse em 1978 que o Uruguai era o país com mais presos políticos por habitante. Aqui, houve pessoas que estiveram 12 ou 14 anos presas», diz Sotelo. Um deles foi o ex-presidente José «Pepe» Mujica, que, com outros dirigentes do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, sofreu tormentos físicos e psicológicos durante 13 anos. Recolher a informação de fontes tão diversas era e é o grande desafio. Trata-se de informação que na maioria dos casos não está sistematizada. O Uruguai enfrentou múltiplas barreiras para começar a conhecer a verdade sobre os crimes cometidos pela ditadura liderada por Juan María Bordaberry em 1973, bem como sobre a acção ilegal do Estado durante o período que antecedeu o golpe. «Os entraves judiciais foram sistemáticos e persistentes, apoiados em todos os governos, mais fortemente no período anterior à chegada da Frente Ampla ao poder», aponta Risso. Depois do regresso à democracia, em 1985, os militares uruguaios conseguiram a sua amnistia com a «Ley de Caducidad de la Pretensión Punitiva del Estado», aprovada em 1986 sob ameaça de um novo levantamento militar. «É uma lei sinistra porque ainda obrigava o Poder Judicial a perguntar ao Poder Executivo se podia julgar determinado crime contra a humanidade», defende a investigadora. Houve dois plebiscitos no Uruguai que tentaram acabar com esta lei. O de 1989 teve 42,4% dos votos, e o de 2009 alcançou 47,7%. Ou seja, nenhum conseguiu passar a barreira dos 50% para deitar abaixo a lei. No entanto, em 2005, durante a primeira presidência de Vázquez, deu-se um primeiro passo para começar a julgar os militares. «O presidente permitiu que se investigassem os desaparecimentos forçados. Depois, em 2011, aprovaram-se leis que na prática acabam por revogar a "Ley de Caducidad"», diz Risso. Desde 2011, teve início uma enorme reactivação de processos por tortura e prisão prolongada. Até à data, houve 281 processos no Uruguai e foram indiciados e/ou condenados 46 verdugos. Destes, 32 faziam parte das Forças Armadas. Só dois membros do governo civil da ditadura foram condenados. Um deles foi Bordaberry, condenado a 30 anos de prisão. Esteve preso desde 2006 até morrer, em 2011. A lista completa dos processos está disponível na página. Nos últimos anos, no Uruguai, começou a ganhar maior visibilidade uma retórica militarista. Guido Mannini Ríos, ex-comandante em chefe do Exército, aparece à cabeça deste movimento que nega as atrocidades cometidas durante a ditadura. O seu partido, Cabildo Abierto, integra a Coalición Multicolor que levou à presidência Luis Lacalle Pou, em 2019. «É algo que, se sempre existiu, agora tem uma representação parlamentar muito forte, e no Poder Executivo. O horror tenta sistematicamente ser negado, como uma forma de que os seus executantes possam continuar a ter apoio político-social», defende Risso. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Em declarações à imprensa, disse que se apercebeu do facto depois de uma primeira leitura e que a avaliação vai prosseguir, para depois atribuir provas à Procuradoria especializada em crimes contra a humanidade imprescritíveis e a outras autoridades processuais, indica a Prensa Latina. Por seu lado, o presidente da INDH, Wilder Tayler, referiu-se aos militares reformados que continuam sem comunicar aquilo que sabem sobre o período da ditadura (1973-1985). Considerou apressado dizer que existe uma mudança de atitude por parte das Forças Armadas, porque, se assim fosse, «fariam um apelo público para que os militares retirados que têm algum tipo de informação a providenciassem voluntariamente e não nos obrigassem a investigá-la», disse. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Sobre algumas condenações existentes, disse que há «sentenças interessantes», mas que «a Justiça tem de ser sobre toda a operação, porque não foram actos individuais, embora existam perpetradores individuais». «A detenção, a tortura, o desaparecimento foram uma política de um Estado ditatorial comandada por instituições repressoras onde continuaram os mesmos exactamente como até agora», afirmou, referindo-se sobretudo ao Exército, de onde provém o senador Manini, do Cabildo Abierto (extrema-direita). Sobre a actuação deste partido «da apologia do golpe de Estado», sentado no Parlamento, a questionar os crimes contra a humanidade e a pôr em causa uma série avanços alcançados em termos de direitos humanos, Zaffaroni diz que as culpas são dos governantes que, desde 1985 até à data, confiaram na impunidade, condenaram os uruguaios a essa impunidade, «a de acreditar que se ia mudar ou avançar […] sem verdade e justiça». A Marcha do Silêncio existe porque são necessárias respostas e para que «a sociedade não naturalize a impunidade». «É preciso mudar isto», defendeu Elena Zaffaroni. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Além disso, Karina Tassino, representante da associação Mães e Familiares de Uruguaios Presos Desaparecidos, lamentou a ausência do presidente da República nesta cerimónia.
Recorde-se que, no passado dia 21 de Abril, passaram 49 anos sobre o massacre, levado a cabo por efectivos do Exército e da Polícia, de Silvia Reyes, grávida de 19 anos, e das suas companheiras Laura Raggio e Diana Maidanik, ambas estudantes de Psicologia.
Luis Eduardo González, de 22 anos, foi levado de sua casa em Dezembro de 1974 e morreu devido às torturas. Óscar Tassino, funcionário da empresa eléctrica UTE e militante do Partido Comunista, foi preso a 19 de Julho de 1977. Foi levado para o centro de detenção de La Tablada, onde morreu depois de ter sido espancado. Tinha 40 anos de idade.
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