De acordo com o estudo agora publicado pelo Centro para o Estudo da Sociedade e Secularismo (CSSS, na sigla em inglês), 59 incidentes de violência sectária foram registados na Índia em 2024.
O relatório, que inclui o seguimento de reportagens publicadas em diversos jornais (Indian Express, Times of India, The Hindu, Shahafat e Inquilab), aponta um aumento de 84% em relação aos 32 casos verificados no ano anterior, 2023.
O estado de Maharashtra testemunhou o maior número de casos de violência sectária (com 12 incidentes documentados, seguido de Uttar Pradesh e Bihar, com sete cada), algo que a equipa de investigadores não estranha, tendo em conta o panorama eleitoral (eleições gerais de Abril-Maio e eleições para a assembleia estadual em Novembro).
Maharashtra, onde governa a extrema-direita (BJP-SS) e que tem historial de conflitos sectários, aparece como um foco de violência, ao registar, em 2024, o maior número de casos de violência sectária e de incidentes de linchamento por multidões.
Os «motins sectários», como são designados pelo CSSS, provocaram a morte de 13 pessoas – três das quais eram hindus e as restantes muçulmanas. O facto de a maioria dos casos de violência ter sido desencadeada durante festivais religiosos ou procissões é uma evidência, para os autores do relatório, de «como as celebrações religiosas estão a ser cada vez mais exploradas como desencadeadores de tensões comunitárias e de mobilização política».
O programa «Hate Watch», da organização indiana Citizens for Justice and Peace (Cidadãos pela Justiça e a Paz; em defesa da liberdade e dos direitos constitucionais), acompanha de forma meticulosa, diariamente, este tipo de incidentes – e permite visualizá-los no mapa «Nafrat ka Naqsha».
Doze casos de linchamento
Além dos casos de «motins sectários», o relatório registou 12 incidentes de linchamento coletivo em 2024, dos quais resultaram dez mortes: um hindu, um cristão e oito muçulmanos. No Newsclick, o CSSS destaca o facto de este número representar uma diminuição em relação aos 21 incidentes de linchamento registados em 2023, mas também que «a persistência destes ataques continua a ser uma preocupação».
Seis dos linchamentos registados estiveram associados aos «vigilantes» de vacas ou a acusações de abate de vacas. Outros casos de linchamento ocorreram sob o pretexto de relações inter-religiosas ou foram ataques a muçulmanos «devido à sua identidade religiosa». Em Maharashtra ocorreram três linchamentos; nos estados de Chhattisgarh, Gujarate, Haryana e Uttar Pradesh foram registados dois (em cada), e em Karnataka um.
«Em conjunto, estes desenvolvimentos significam uma escalada das tensões comunitárias e a marginalização dos muçulmanos indianos, ameaçando ainda mais o tecido secular da sociedade indiana», afirma o CSSS ao analisar os dados relativos a violência sectária no seu conjunto.
Com base neste exercício anual de acompanhamento das notícias publicadas em vários periódicos, o CSSS refere ainda que no ano passado se assistiu a uma «mudança perturbadora», no sentido de formas de violência mais institucionalizadas.
Estas – afirma – caracterizam-se sobretudo por ataques a locais de culto religioso e por tentativas de pressão da parte de grupos de extrema-direita hindus para que mesquitas históricas e locais sagrados para os muçulmanos sejam alvo de pesquisas arqueológicas.
«Estas acções reflectem um esforço concertado para remodelar o panorama sociopolítico e cultural da Índia», alerta a organização indiana de defesa dos direitos humanos, que deverá proceder a uma análise mais detalhada dos dados agora revelados.
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