A Google deu acesso total às contas do Gmail, o seu serviço de email, a empresas «parceiras», que puseram os seus trabalhadores a vasculhar o conteúdo das mensagens de milhões de utilizadores. Para isso, basta que a conta seja utilizada para aceder a determinadas aplicações: a partir daí, a via aberta à correspondência pessoal é assegurada pela transnacional.
A revelação foi feita pelo The Wall Street Journal, que dá conta que empresas como a Return Path, especialista em marketing por email, leram as mensagens de milhões de utilizadores do Gmail, mas também com contas de email da Microsoft ou da Yahoo, com o intuito de desenvolver os seus produtos.
No caso da Google, a revelação surge pouco depois de esta ter garantido que ia deixar de usar os seus computadores para pesquisar as caixas de email e usar essa informação para refinar os resultados da sua própria plataforma publicitária.
O esquema é idêntico ao que está por trás do escândalo que envolveu o Facebook: a partir do momento em que é dado o acesso de alguma aplicação à conta, a empresa que desenvolveu essa aplicação fica com acesso total. Neste caso, para além de informações pessoais, essas empresas terceiras ganharam também acesso a correspondência pessoal.
A empresa argumenta que foram os próprios utilizadores que deram acesso a terceiros às suas caixas de email, ao ligarem a sua conta a aplicações externas. Uma argumentação que só pode ser sustentada na ausência de informação clara por parte da própria Google. Na generalidade dos casos, as empresas escondem-se atrás de aplicações gratuitas sem qualquer ligação com o verdadeiro propósito da recolha de dados: são criadas empresas de «fachada», que desenvolvem aplicações com o único objectivo de conseguir «infiltrações» no máximo de contas.
O artigo 34.º da Constituição da República Portuguesa estabelece que «o domicílio e o sigilo da correspondência e dos outros meios de comunicação privada são invioláveis» – um comando constitucional que, para a Google ou o Facebook, vale zero.
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