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Grande maioria dos mortos em operações policiais no Rio são negros

Um relatório publicado esta quarta-feira pela Rede de Observatórios de Segurança revela que 86% dos mortos em operações policiais em 2019 no estado brasileiro do Rio de Janeiro foram negros.

Créditos / causaoperaria.org.br

Os dados do estudo agora publicado, com o título «A Violência Policial Tem Cor: a Bala Não Erra o Alvo», mostram que a população negra é a mais atingida pelas armas da Polícia.

Os elementos foram obtidos por via da Lei de Acesso à Informação e através das secretarias de Segurança dos cinco estados abrangidos pela investigação: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará.

No que respeita ao estado carioca, das 1814 pessoas registadas como vítimas da acção letal da Polícia em 2019, 1423 são negras – termo que, de acordo com o estudo, inclui a soma de pretos e mestiços.

O relatório destaca que o número de mortes provocadas por agentes policiais em 2019 é o maior em 30 anos no estado do Rio de Janeiro e chama a atenção para a elevada percentagem (86%) de negros mortos nas operações policiais, tendo em conta que os negros representam 51,7% da população fluminense, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


O elevado número de mortes provocadas pela Polícia continuou por 2020 adentro; daí que o estudo afirme que «os moradores da favela passaram 2020 fugindo de vírus e de tiros». Confrontado com «números assustadores» – 115 mortes por agentes policiais em Março, 179 em Abril e 130 em Maio –, o Supremo Tribunal Federal (STF) teve de intervir para proibir as operações em comunidades durante a pandemia.

«Há décadas não há notícias de operações com alta letalidade policial nos bairros abastados, onde predominam brancos. No Rio, o racismo da segurança pública e da cultura de policiamento é explícito e se exerce sem disfarces. É nas favelas que a Polícia faz operações cotidianas e mata sem controle. Talvez por esta razão, o STF foi específico quando proibiu acções policiais durante a pandemia, dizendo literalmente que estavam proibidas "operações em comunidades"», sublinha o estudo.

Para a coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança e do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Sílvia Ramos, os dados apontam para uma conclusão incontestável, que é a da permanência do racismo como política de Estado.

«Com esses dados podemos mostrar que não é um viés racial, não é excesso de uso da força, não é violência policial letal acima do tolerado, é racismo», denunciou, citada pelo Brasil de Fato.

Destacou ainda que as estratégias policiais implementadas no Rio de Janeiro são racistas e fazem dos negros um alvo.

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