|Timor-Leste

Há 20 anos, Timor-Leste renascia graças à resistência do seu povo

A 20 de Maio de 2002, Timor-Leste restaurava finalmente a sua independência, após 27 anos de ocupação indonésia, marcada pela tortura e pela execução de milhares de timorenses.

Dili, Timor-Leste, 15 de Maio de 2022 
CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

A 28 de Novembro de 1975, resultado da Revolução dos Cravos, Timor-Leste proclamou a sua independência com Xavier do Amaral como Presidente da República e Nicolau Lobato como primeiro-ministro. Mas não passou um mês até ser invadido pela Indonésia, sob beneplácito dos EUA. A 7 de Dezembro de 1975, as forças indonésias levaram o terror a Timor-Leste, dois dias após o presidente norte-americano Gerald Ford ter visitado Jacarta e dado luz verde à invasão.   

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Às vezes a dignidade pode mudar o mundo

A causa pela qual o povo de Timor Leste lutou dá razão a todos os povos que aspiram a conquista da sua autodeterminação. Mas dá também inspiração aos que se empenham na luta por um ideal libertador.

CréditosAntónio Dasiparu / EPA

Na passada sexta-feira assinalaram-se 30 anos após o massacre no cemitério de Santa Cruz, um trágico acontecimento, mas determinante na luta pela independência de Timor Leste.

Naquele dia 12 de Novembro de 1991, mais de duas mil pessoas dirigiram-se ao cemitério de Santa Cruz para homenagear o jovem Sebastião Gomes, que alguns dias antes fora morto no bairro de Motael, em Díli, por aliados das forças indonésias.

Os militares indonésios entraram no cemitério e metralharam a multidão, provocando a morte de 74 pessoas no local. Nos dias seguintes mais 120 jovens perderam a vida, no hospital ou em consequência da perseguição que as forças ocupantes do território lhes moveram.

Este brutal acontecimento viria a ter um forte impacto na opinião pública internacional, através das imagens filmadas pelo jornalista Max Stahl e divulgadas pelos órgãos de comunicação social de todo o mundo.

Anos mais tarde Max Stahl escreveu: «Aquela mensagem de dignidade que filmei e coloquei na TV ao redor do mundo, transformou as perspetivas não apenas daqueles que saíram pacificamente para protestar no dia 12 de Novembro, não apenas daqueles da resistência que os tornou quem eles eram, não apenas os guerrilheiros cuja luta desafiava toda a lógica militar, mas também de muitos povos em todo o mundo que haviam perdido as esperanças». E acrescentou: «Às vezes a dignidade pode mudar o mundo».

Entre 1999 e 2000, tive o privilégio de integrar a missão portuguesa de apoio à criação de estruturas neste novo país, na circunstância, no âmbito do sistema de proteção civil e dos bombeiros.

Nessa verdadeira epopeia, que certamente marcou todos aqueles que tiveram a honra de nela participar ativamente, testemunhei a verdade da afirmação de que só é derrotado quem desiste de lutar.

A causa pela qual o povo de Timor Leste lutou dá razão a todos os povos que aspiram a conquista da sua autodeterminação e independência. Mas dá também inspiração a todos aqueles que, nas várias paragens do planeta, se empenham na luta por um ideal libertador.

Nesta luta todas as frentes são necessárias. Porque o processo histórico não se constrói de uma forma esquemática, a luta continuará sempre pela concretização das grandes aspirações dos povos, continuando a motivar sucessivas gerações de resistentes.

Para aqueles que de forma obsessiva continuam a ambicionar o fim da História, com a extinção das forças democráticas empenhadas na construção de soluções que melhor sirvam os interesses dos trabalhadores e dos povos, a referida História demonstra que os avanços e os recuos são apenas momentos de um processo feito de muitas batalhas, que é preciso enfrentar com grande coragem e determinação, sem desvios que possam comprometer os seus superiores desígnios.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

Tipo de Artigo: 
Opinião
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Para combater a ocupação indonésia, que proibiu o uso do português, desincentivou o tétum e censurou a imprensa, entre outras atrocidades, com o massacre do cemitério de Santa Cruz a ser uma das mais divulgadas, a resistência timorense contou com a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin). 

Graças à luta do povo timorense, a 30 de Agosto de 1999 foi submetido a sufrágio um referendo sobre a independência de Timor-Leste, e 78% dos votantes disseram «sim». Mas os resultados não foram aceites pelas milícias pró-indonésias, que em poucos dias voltaram a fazer milhares de mortos e desaparecidos, e destruíram a capital do país. 

Também a 30 de Agosto, mas de 2001, foram realizadas eleições para a Assembleia Constituinte, e a 20 de Maio de 2002 Timor-Leste recuperou oficialmente a sua soberania. 

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