Portugal foi eliminado nos quartos-de-final do Mundial 2022. Enquanto meta, um resultado dentro das expetativas. Portugal consegue o seu terceiro melhor Mundial de sempre, num contexto onde a equipa apresentava potencial para aspirar a algo mais, mas onde acabou por apresentar um futebol de altos e baixos e sem ser capaz de se afirmar dentro do maximizar das suas capacidades e características, algo que era apontado como objetivo do seu treinador. Fernando Santos foi o primeiro agente desta ideia de individualismo que tocou quase todos os aspetos da análise à equipa nacional no Mundial do Catar. O excessivo foco nas características dos seus jogadores como elemento definidor do jogo que a equipa poderia alcançar acabou por deslocalizar responsabilidades e fazer perder um fio que se espera encontrar numa equipa.
Na primeira pergunta que lhe é feita depois do encontro, questionado sobre o que teria acontecido que pudesse explicar a incapacidade para obter outro resultado, Fernando Santos disse “não sei”. Entre a sua expetativa e o resultado parecia não existir um processo de trabalho que pudesse ser explicado ou questionado. Aliás, depois da conquista do Europeu 2016, esse parece ter sido o destino da equipa nacional sob o comando de Fernando Santos. Tendo tido o enorme mérito de transformar uma equipa nacional que se encontrava em cacos numa equipa campeã europeia, o Engenheiro nunca conseguiu potenciar a quantidade de talento que teve ao seu dispor. Geriu sempre bem um balneário que, no passado, era um foco de problemas, mas foi incapaz de desenvolver os aspetos ligados ao rendimento desportivo. Um bom gestor não é suficiente para fazer uma boa equipa de futebol.
A caça ao culpado
O selecionador tem responsabilidades, mas não é o culpado. Existe todo um processo a sustentar a sua manutenção na posição e a avaliação do seu trabalho terá vários outros pontos de análise que ficarão para ser tratados e, esperemos, explicados, pelo Presidente da Federação. Mas no espaço mediático não deixa de parecer que para explicar a derrota num jogo de futebol é mesmo preciso encontrar um culpado. Cristiano Ronaldo parece ter sido, durante boa parte deste Mundial, o candidato ideal. Sem o rendimento desportivo que apresentou no passado, envolto em problemas pessoais e num momento de incapacidade para entender a sua utilidade na equipa, o internacional português sofreu com o facto de estar num pedestal há demasiado tempo. Cristiano Ronaldo foi culpado pelo que fez e pelo que não fez. Mas, uma vez mais, olhando até para tudo aquilo que foram as explicações dos seus companheiros de equipa e a gestão da sua utilização, o facto é que Cristiano Ronaldo se apresentou dentro daquilo que seria de esperar.
Rúben Neves foi outro dos alvos apontado como culpado. Um jogador que é titular em quatro dos cinco jogos da equipa nacional, que apresenta diferentes comportamentos e rendimento nos vários encontros, taxado como responsável da incapacidade coletiva. Mas também o dedo pôde ser apontado a Diogo Costa, como o responsável de um golo sofrido num jogo decisivo, ou a qualquer outro jogador que não tenha feito aquilo que se esperava como ato salvador e redentor de todo um país. Esse exercício de individualização das culpas no espaço mediático é um problema com o qual o país se reflete nos vários temas que nos afetam. O futebol apenas nos oferece um campo mais reduzido, imediato e perceptível. Tentar encontrar um culpado isolando-o do trabalho coletivo é uma boa forma de crucificar o sofrimento e não atender às causas profundas dos acontecimentos. Uma tentação à qual devemos resistir, por respeito à necessidade que temos para com nós próprios de não deixar nunca de tentar perceber o mundo.
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