O funeral partiu do hospital de Ramallah na manhã de sábado, em direcção ao cemitério de Al-Mughayyer, onde o corpo foi sepultado, noticiou a agência Wafa.
Centenas de palestinianos marcharam de Ramallah e assistiram à cerimónia fúnebre, apesar das restrições impostas pela epidemia de coronavírus na Cisjordânia.
O presidente da câmara de Al-Mughayyer declarou à Wafa que Ali Abu Alayya, de 13 anos, foi abatido a tiro por um soldado israelita durante protestos contra o estabelecimento de um novo colonato ilegal na zona. Ferido com gravidade no estômago, foi transportado para o hospital de Ramallah, onde veio a falecer.
Segundo a autoridade local, verificaram-se outros feridos por balas de borracha embora sem necessitarem de tratamento hospitalar.
As tropas ocupantes negaram o uso de munição real na manifestação, mas uma fotografia publicada no twitter mostra o jovem com o estômago perfurado por um tiro.
Desde a ocupação da Cisjordânia em 1967, Israel já estabeleceu mais de 450 mil colonos ilegais no território e continua a construir novos colonatos ilegais, ao arrepio das leis e convenções internacionais e das decisões da Organização das Nações Unidas (ONU).
Condenação palestiniana e internacional
O primeiro-ministro palestiniano Mohammad Shtayyeh descreveu o incidente como «um novo crime na já longa lista da ocupação». A presidência da Autoridade Palestiniana apelou à comunidade internacional para «garantir protecção para o nosso povo, pôr fim à ocupaçãao e estabelecer um Estado Palestino independente e com Jerusalém Leste como capital.
Hanan Ashrawi, dirigente da Organização da Libertação da Palestina (OLP), lembrou que «usar crianças como alvo de munição real é uma flagrante violação das leis e convenções internacionais, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, ratificada por Israel em 1991».
O enviado especial da ONU para o Médio Oriente, Nikolai Mladenov, exprimiu no twitter a sua consternação pela morte do jovem e desafiou Israel a investigar «rápida e independentemente este chocante e inaceitável incidente».
A delegação da União Europeia para os Palestinianos juntou-se ao pedido de investigação deste «crime de guerra», afirmando no twitter que a mesma deve ser conduzida «de forma a trazer os perpetradores perante a justiça», sublinhando o reiterado «uso de força letal excessiva por parte das forças de segurança israelitas» contra crianças e jovens palestinianos.
A congressista norte-americana Betty McCollum denunciou hoje a morte do jovem como «um grotesco assassinato patrocinado pelo Estado [de Israel]» e «um resultado directo da permanente ocupação militar da Palestina», e pediu à nova administração do presidente eleito Joe Biden para investigar o incidente e «assegurar ao povo americano que nenhuma ajuda militar a Israel paga pelos contribuintes permitiu tirar a vida a esta criança».
Em Israel, o jornalista Gideon Levy escreveu no Haaretz que «ninguém pode ficar indiferente à vista desta face inocente na sua última imagem», apesar de reconhecer que em Israel «ninguém mostrou interesse, durante o fim-de-semana, pela morte de uma criança, uma criança mais».
O jovem, referiu Levy, não fazia mais do que participar no protesto semanal contra os «selvagens e violentos postos avançados que se expandem do colonato de Kokhav Hashahar, tomando o que resta da terra [palestiniana] em Al-Mughayyer».
O jornalista, um especialista do conflito israelo-palestiniano, afirmou que «não há luta mais justa que a travada neste local» e acresscentou que «não há nada mais odioso do que disparar munições reais contra manifestantes e não existe a possibilidade de que o disparo sobre o abdómen de Ali tenha qualquer justificação».
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