No primeiro de três dias de greve, milhares de jovens médicos do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) britânico aderiram à paralisação em Inglaterra, em defesa de melhores salários e condições de trabalho.
O sindicato BMA (British Medical Association) disse que se trata de uma «mensagem forte» para o governo de que não valoriza adequadamente os médicos recém-formados e que se estão a especializar, não abordando, nomeadamente, mais de uma década de cortes salariais em termos reais.
O BMA reivindica um aumento de 35%, afirmando que só dessa forma será possível reverter a queda de 26% nos salários – em termos reais – desde 2008/09.
Aquilo que designa como «restauro salarial» inclui também o elevado custo de vida, a actual crise económica, a inflação e a degradação das condições de trabalho, explicou.
De acordo com o BMA, os jovens médicos britânicos, que representam cerca de 45% de todo o pessoal médico do NHS, ganhariam mais por hora, hoje, se trabalhassem na cadeia de cafés Pret a Manger, que anunciou recentemente um aumento salarial de 19%, refere o Morning Star.
Na sexta-feira passada, o secretário da Saúde, Steve Barclay, disse estar disposto a negociar, mas exigindo o cancelamento da greve. Por seu lado, o sindicato refutou aquilo que considerou «condições inaceitáveis», sublinhando a inexistência de uma «negociação credível».
Competências e responsabilidades desvalorizadas
Becky Bates, a exercer a profissão no seu primeiro ano após a licenciatura, disse à imprensa que deixou a faculdade com uma dívida superior a 100 mil libras (113 mil euros) e que depende do apoio da mãe para conseguir pagar as despesas.
«É humilhante para mim e não é justo para ela», disse.
«Posso ficar responsável por mais de 400 pacientes da noite para o dia – tenho de os avaliar, receitar a medicação, ter conversas muito difíceis com famílias sobre cuidados de fim de vida, e sou o primeiro porto de acostagem se alguma coisa correr muito mal», disse, acrescentando: «No entanto, as nossas competências e responsabilidades são completamente desvalorizadas.»
Ao Morning Star, destacou: «A minha situação está longe de ser um caso único e é por isso que eu e a maioria esmagadora dos meus colegas fomos forçados a vir para o piquete de greve esta semana.»
Subfinanciamento crónico
Questionado sobre a segurança dos pacientes durante a greve, Philip Banfield, presidente do conselho do BMA, disse que o NHS até pode ser «mais seguro que o normal» durante das greves e denunciou, a um programa da BBC Radio 4, que «é escandaloso que 300 ou 500 pacientes morram todas as semanas no serviço actual devido ao subfinanciamento crónico».
Mais tarde, ao participar num piquete de greve junto ao Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, alertou que o NHS vive «a pior crise a que já assistiu» e que «os médicos em início de carreira se estão a ir embora em massa».
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