O magistrado Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou, para além das buscas, que os empresários sejam ouvidos pela PF e o bloqueio das suas contas nas redes sociais.
Entre os suspeitos estão alguns dos grandes empresários apoiantes de Bolsonaro Luciano Hang, da Havan, José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan, Ivan Wrobel, da Construtora W3, José Koury, do Barra World Shopping, André Tissot, do Grupo Sierra, Meyer Nigri, da Tecnisa, Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, e Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu.
Segundo notícia do jornalista Guilherme Amado, um grupo de empresários apoiantes de Jair Bolsonaro passaram a defender abertamente um golpe de Estado caso Lula da Silva seja eleito em outubro, derrotando o atual presidente. A possibilidade de ruptura democrática foi abordada explicitamente no grupo privado WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado e cujas trocas de mensagens vêm sendo acompanhadas há meses pelo jornalista Guilherme Amado. A defesa explícita de um golpe, feita por alguns integrantes, soma-se a uma postura comum a quase todos: ataques sistemáticos ao STF, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a quaisquer pessoas ou instituições que, pare eles, à continuação no poder de Jair Bolsonaro.
«Ninguém vai deixar de fazer negócios connosco se formos uma ditadura»
O apoio a um golpe de Estado para impedir a eventual posse de Lula ficou explícito no dia 31 de Julho. José Koury, proprietário do shopping Barra World e com extensa atuação no mercado imobiliário do Rio de Janeiro, foi quem abordou o tema, ao dizer que preferia uma ruptura à volta do PT. Koury defendeu ainda que o Brasil voltar a ser uma ditadura não impediria o país de receber investimentos externos. «Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo», publicou.
A discussão sobre o tema havia começado às 17h23 daquele dia, após postagem de Ivan Wrobel, proprietário da W3 Engenharia, construtora especializada em imóveis de alto padrão, principalmente na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ao se apresentar ao grupo, Wrobel disse ser eleitor de Bolsonaro desde o segundo mandato do ex-capitão na Câmara dos Deputados :«Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público», publicou. A manifestação bolsonarista na Avenida Atlântica, em Copacabana, estava previsto para o 7 de Setembro, e haveria um desfile militar, com presença do exército, da marinha e da aviação. O prefeito Eduardo Paes informou na quarta-feira passada que não haverá nenhum desfile militar em terra, só exibição da aviação e marinha.
A mesma visão sobre o aspecto simbólico do desfile militar na orla de Copacabana foi compartilhada pelo médico gaúcho Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo e dono da rede de lojas Mormaii, uma das principais marcas de surfwear do país. «O 7 de Setembro está sendo programado para unir o povo e o exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro», escreveu.
Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, é dono da rede de lojas Mormaii, uma das principais marcas de surfwear do país, é um dos empresários com visões mais extremistas no grupo e defende que o Brasil está em guerra contra quem é contra Bolsonaro. Ao responder à defesa do golpe feita por Koury, o dono do shopping Barra World, Morongo escreveu três mensagens consecutivas.
«Golpe foi soltar o presidiário!!»
«Golpe é o ‘supremo’ agir fora da Constituição!»
«Golpe é a velha média só falar merda.»
Mais à noite, no mesmo dia da mensagem pró-golpe de Koury, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa gaúcha especializada na venda de móveis de luxo, defendeu que uma intervenção deveria ter ocorrido há mais tempo.
«O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo.
«[Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais», publicou.
Koury, segundo o portal de notícias Metrópoles, também chegou a sugerir o pagamento de bónus a funcionários que votassem seguindo a indicação dos empresários.
Empresários negam acusações
Após a divulgação das mensagens que defendiam golpe, Luciano Hang, dono da Havan, confirmou ao diário Folha de São Paulo que integra o grupo, mas disse que quase nunca se manifesta e em momento algum falou sobre golpe de Estado.
«Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polémica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história», disse Hang à Folha. «Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso.»
O empresário é investigado em outro processo, em que é acusado de financiar o chamado «gabinete do ódio», o aparelho bolsonarista nas redes sociais que divulga «fake news».
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