De acordo com um inquérito realizado pelo instituto Elabe para o canal BFM TV, apenas 27% dos inquiridos apoiam a tese governamental de que, em França, é preciso trabalhar mais anos.
Destes, 18% apoiam o aumento da idade legal da reforma dos actuais 62 anos para os 64, enquanto 9% apoiam o prolongamento até aos 65 – que era a ideia inicial do projecto.
Os detalhes da reforma das pensões devem ser apresentados pelo governo francês no próximo dia 10 – prevendo-se que o projecto seja apresentado em Conselho de Ministros no dia 23, para começar a ser debatido na Assembleia Nacional no início de Fevereiro.
No entanto, as grandes linhas que orientam a iniciativa governamental são já conhecidas: aumento da idade legal da reforma dos actuais 62 anos para os 65 anos (até 2031).
Em declarações à France Info, na terça-feira, a primeira-ministra, Elisabeth Borne, disse que «os 65 não são um totem» e que há outras vias a ser estudadas, nomeadamente a passagem dos 62 para os 64 anos, mas estando isto sujeito a um aumento progressivo do período de contribuição.
Neste caso, para receber a reforma por inteiro, seria necessário ter trabalhado 43 anos.
Ampla rejeição
A pesquisa ontem divulgada indica que 47% dos inquiridos defendem que a idade de reforma se deve manter nos 62 anos e que 25% consideram que os trabalhadores se devem reformar mais cedo.
Centenas de milhares de pessoas manifestaram-se em várias cidades francesas, esta quinta-feira, no âmbito da nona jornada de protestos contra o projecto de reforma das pensões de Macron. Os protestos contra a reforma do sistema público de pensões voltaram a sentir-se ontem em França, onde a plataforma intersindical que integra a CGT, a Força Operária, a Federação Sindical Unitária e os Solidários, entre outros, convocou uma nova jornada nacional de mobilização – a nona, depois das realizadas em 5, 10 e 17 de Dezembro, e em 9, 11, 16, 24 e 29 de Janeiro. Tal como em ocasiões anteriores, houve elevada participação de trabalhadores de diversos sectores, de estudantes e reformados, com o apoio de partidos políticos. Também se voltou a sentir uma forte presença policial nas ruas e a registar a habitual divergência entre os números de manifestantes divulgados pelo Ministério do Interior e pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), nomeadamente no que respeita a Paris – com a primeira fonte a referir que estiveram nas ruas 15 mil pessoas e a segunda, 130 mil. A greve contra o projecto de reforma das pensões, iniciada a 5 de Dezembro, chegou a ter grande impacto nos transportes públicos, mas nas últimas semanas a situação neste sector regressou quase à normalidade. No entanto, o protesto ganhou maior dimensão entre outros sectores profissionais que se opõem à reforma, como os advogados, os controladores de tráfego aéreo e os trabalhadores da estiva, das refinarias, das estações de tratamento de lixo, entre outros. Entretanto, na Assembleia Nacional, o controverso projecto que pretende impor um sistema único de pensões enfrenta milhares de emendas ao texto, apresentadas por diversos deputados, naquilo que foi designado como frente de luta parlamentar. No entanto, um representante da plataforma sindical que mais activamente tem lutado contra a reforma – que convocou para 20 de Fevereiro nova jornada de mobilização – disse à imprensa que o debate na Assembleia «não trouxe nada de novo» aos trabalhadores e que a «convicção» destes é «mais forte a cada dia que passa», uma vez que «não se pode melhorar um projecto» como este. Num comunicado ontem emitido, esta plataforma destaca que «os plenários se multiplicam nos locais de trabalho, nas escolas e nas universidades, apesar de todas as pressões», e afirma que «a rejeição da reforma e a determinação de alcançar a sua retirada estão intactas e se propagam». A CGT, a Força Operária, a Federação Sindical Unitária, os Solidários e outros sindicatos continuam a contar com o apoio da maioria da sociedade francesa na oposição ao sistema universal de pensões, entendendo que prejudica os interesses dos trabalhadores e pensionistas, e favorece os interesses dos bancos, das seguradoras e dos fundos de pensões. Apesar de o executivo francês afirmar que se trata de um sistema mais justo do que o que está em vigor, a CGT acusa Macron de querer impor aos franceses uma reforma das pensões «à custa da democracia». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Protestos contra a reforma das pensões em França mantêm-se há 2 meses
Greve com menor incidência nos transportes, maior noutros sectores
«Determinação intacta»
Contribui para uma boa ideia
Na mensagem de fim de ano, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a reforma das pensões será concretizada em 2023 e defendeu-a como uma necessidade para trazer equilíbrio ao sistema.
Recorde-se que Macron já tentou avançar com uma versão da reforma das pensões no seu primeiro mandato (2017-2022), mas viu-se forçado a adiá-la devido ao surgimento da pandemia de Covid-19 e à forte contestação nas ruas e nos locais de trabalho, com grandes manifestações e greves em Dezembro de 2019 e nos dois primeiros meses do ano seguinte.
Partidos de esquerda e sindicatos – até os que não se costumam dar mal no Eliseu – estão contra o aumento da idade da reforma e já anunciaram mobilizações.
No seu portal, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) apresenta um dossiê sobre o tema, no qual afirma que já está mobilizada e sublinha que a versão de 2023 é ainda «mais dura do que a que foi abortada em 2020».
A central sindical de classe, que defende a visão anti-liberal de que os reformados têm direito a gozar uma nova etapa da vida, alerta que, caso seja aprovada, a reforma será mais rapidamente desfavorável aos trabalhadores e irá acelerar a diminuição das pensões.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui