Uma emboscada a cinco indígenas do povo Guarani Kaiowá, na localidade de Amambai (estado brasileiro de Mato Grosso do Sul), resultou na morte, a tiro, de Márcio Moreira, na quinta-feira à tarde.
Era líder do Tekoha Gwapo'y Mi Tujury, um território ancestral que está no nome da Fazenda Borda da Mata, da empresa VT Brasil Administração, da família Torelli, e que foi retomado pelos indígenas em Junho último, revela o Brasil de Fato.
O assassinato de Márcio Moreira ocorre três semanas depois daquilo que ficou conhecido como Massacre de Gwapo'y, quando a Polícia Militar invadiu a região, ferindo 15 pessoas e matando a tiro o indígena Vitor Fernandes.
Segundo revelou a Aty Guasu – a Grande Assembleia Guarani Kaiowá –, os cinco indígenas aperceberam-se da emboscada quando chegaram ao local onde iam fazer um trabalho de construção, junto à rodovia MS 386.
«Encontraram em torno de 20 pistoleiros, jagunços e policiais», afirma a nota da Aty Guasu, de acordo com a qual Márcio Moreira foi morto a tiros, dois indígenas se encontram desaparecidos, um conseguiu fugir e outro foi preso pela Polícia Militar, acusado de ter cometido o assassinato – versão contestada e denunciada pelos indígenas.
Ao Brasil de Fato, a Comunicação da Polícia Civil do Mato Grosso do Sul informou que, ao que consta no Boletim de Ocorrência, uma testemunha relatou que Márcio teria sido morto por dois suspeitos não identificados, que outra pessoa teria fugido e que, até o momento, ninguém foi preso.
Ameaças de morte
Márcio Moreira já tinha sido ameaçado de morte, tal como foram outros líderes da retomada de terras. «Existe uma ameaça de morte organizada, planejada, contra as lideranças do Gwapo'y Mi Tujury. Já denunciámos, mas continua», afirma um membro da Aty Guasu, que pediu anonimato.
No passado dia 4, um juiz da Justiça Federal no município de Ponta Porã (junto à fronteira com o Paraguai) recusou as pretensões da Fazenda Borda da Mata. «O fato de não existir demarcação sobre a área ou qualquer processo administrativo tendente a promovê-la não é suficiente para descaracterizar a luta pela posse das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios», lê-se na decisão judicial.
Três Guarani Kaiowá foram feridos por disparos, no dia 11, à noite, na Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá I, no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul. Nenhum corre risco de vida. Três indígenas Guarani Kaiowá – um homem de 32 anos e dois adolescentes, de 15 e 17 anos – foram atingidos a tiro enquanto faziam uma dança ritual. Tudo aponta para que os fazendeiros da região sejam os autores do ataque, refere o Brasil de Fato no seu portal. No mesmo local, a Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá I, localizada no município de Caarapó, a 273 km de Campo Grande, a capital do estado brasileiro de Mato Grosso do Sul, foi assassinado há um mês (14 de Junho) o indígena da etnia Kaiowá Cloudione Souza, de 26 anos. De acordo com o relato dos indígenas, este tiroteio, que fez mais dez feridos, foi perpetrado por fazendeiros e pistoleiros («jagunços»). As «retomadas» de terras Na base do conflito que se vive nesta região do Brasil, estão as «retomadas» ou ocupações das terras tradicionais, de onde os Kaiowá foram deslocados para uma área de pequena dimensão. No local, Matias Rempel, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), explicou ao Brasil de Fato que «a reserva é um quadradinho, bem superficial», com três mil hectares para cerca de cinco, sete mil pessoas. «Desde que foram removidos das suas terras tradicionais, na década de 20, eles têm lutado para voltar para os territórios tradicionais. Em 2007, um Termo de Ajuste de Conduta do Ministério Público forçou a Funai [Fundação Nacional do Índio] a reconhecer essas remoções forçadas», acrescentou. Em 2016, foi concluído um relatório, no qual a Funai identifica como terra indígena 55 mil hectares no Sul do Mato Grosso. Então, os produtores reuniram-se para exigir a sua revogação, tendo em conta que «o relatório foi publicado pelo governo Dilma, como se fosse um contra golpe dela. Uma loucura deles», afirma Rempel. Desde o ataque ocorrido no mês passado, a Força Nacional de Segurança tem estado no local para garantir a segurança dos indígenas. No entanto, os Guarani afirmam que as autoridades não atenderam a chamada que fizeram por volta das 21h, quando se aperceberam da emboscada. Os agentes de segurança só chegaram por volta das 23h, já depois do tiroteio. Violação do acordo Na semana passada, um sindicato agrícola da região, os indígenas e o Ministério Público firmaram um acordo de paz, em que os fazendeiros se comprometiam a não recorrer mais à violência e os Kaiowá a não realizarem mais «retomadas». O acordo foi celebrado na sequência do ataque contra os indígenas em Junho. Como estão a cumprir o acordo, os Guaranis foram surpreendidos pela acção violenta desta segunda-feira, em que um grupo de homens, deslocando-se em tractores e camionetas, vieram na sua direcção, «bem devagarzinho». Depois de saírem das viaturas, começaram a disparar. Desde 2003, mais de 400 índios Guarani foram assassinados no âmbito de conflitos por terras no Mato Grosso do Sul, de acordo com dados divulgados pelos próprios indígenas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Índios Guarani Kaiowá atacados por fazendeiros no Mato Grosso do Sul
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«Quando não conseguiram a ordem de reintegração de posse, os fazendeiros passam para essa segunda opção, que é assassinar lideranças para intimidar», denuncia o membro da Aty Guasu. «É a continuidade do massacre. O genocídio mesmo, que continua. Isso não para. E a segurança e a proteção, nós não temos», alerta.
Numa nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirma que existe o temor de que «os policiais façam "queima de arquivo" com os indígenas que presenciaram o ataque».
«A violência recorrente só mostra mais uma vez a atuação dos fazendeiros como bandidos milicianos, que tomam as terras indígenas, pagam pistoleiros para assassinar aqueles que resistem e contam com o estímulo e a conivência da Funai anti-indígena e do governo Bolsonaro», denuncia a Apib.
Agronegócio cercou os Guarani Kaiowá e indígenas tentam retomar as suas terras
O argumento pró-ruralista de Jair Bolsonaro de que no Brasil há «muita terra para pouco índio» já foi rebatido até à exaustão e, sublinha o Brasil de Fato, «é especialmente mentiroso quando se fala dos Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul».
Para tal, afirma, «basta olhar para a Terra Indígena (TI) Amambai, perto da fronteira com o Paraguai», cujos habitantes «foram vítimas de um massacre no dia 24 de Junho, quando retomavam o território ancestral Gwapo'y Mirim».
De acordo com a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal do Mato Grosso do Sul, uma família de quatro indígenas precisa de 30 hectares para garantir a sua subsistência e conduzir actividades económicas sustentáveis.
A acusação é de Samara Pataxó, assessora jurídica da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que no passado dia 9 denunciou o presidente brasileiro no Tribunal Penal Internacional (TPI). Pela primeira vez, os povos indígenas brasileiros uniram-se para denunciar um presidente no TPI. No Dia Internacional dos Povos Indígenas, 9 de Agosto, a APIB, em conjunto com a sua equipa de advogados, solicitou à procuradoria do Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia (Países Baixos), que examine os crimes praticados contra os povos indígenas pelo presidente Jair Bolsonaro desde o início do seu mandato, em Janeiro de 2019. A equipa jurídica entende que «estão em curso no Brasil actos que se configuram como crimes contra a humanidade, genocídio e ecocídio», e, «dada a incapacidade do actual sistema de justiça no Brasil de investigar, processar e julgar essas condutas», decidiu denunciar estes actos junto da comunidade internacional, através do TPI. Dados preliminares divulgados esta terça-feira pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontam para um aumento das invasões de terras indígenas nos nove primeiros meses do governo de Bolsonaro. O organismo, ligado à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), refere que entre Janeiro e Setembro deste ano foram registadas 160 «invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao património» a 153 terras indígenas em 19 estados brasileiros. O Cimi sublinha que estes dados apontam para mais casos, mais terras originárias e mais estados relativamente a todo o ano de 2018, quando foram contabilizados 111 casos em 76 terras indígenas de 13 estados da federação, segundo informa o portal brasil247.com. O relatório do Cimi, intitulado «Violência contra os Povos Indígenas do Brasil – dados de 2018», refere ainda que, no ano passado se registou um aumento no número de assassinatos de indígenas (135) em relação a 2017 (110). De acordo com o organismo, o tipo de invasões alterou-se nos últimos anos. Enquanto, antigamente, os invasores entravam na terra, roubavam madeira, exploravam minérios e depois, em algum momento, se iam embora, agora tem havido a invasão com intenção de permanecer nos terrenos. «Chama a atenção o aumento da prática ilegal de loteamento das terras indígenas, especialmente na região Norte», diz o documento, em que o Cimi dá conta de um novo modelo de apropriação das terras dos povos originários, mais agressivo. O relatório refere ainda que 305 povos habitam em 1290 terras indígenas no Brasil. Na maioria dos casos – 821 (63%) –, os territórios estão ainda em fase de reivindicação ou regulamentação; destes, 528 não tiveram qualquer providência tomada pelo Estado, noticia a mesma fonte. O presidente Jair Bolsonaro já anunciou que não pretende demarcar ou finalizar a demarcação de quaisquer novas terras indígenas durante o seu governo. Em declarações ao Brasil de Fato, Roberto Antônio Liebgott, do Cimi região Sul, disse que «o discurso de Bolsonaro na ONU é sinal [de] que não há perspectiva. A Funai [Fundação Nacional do Índio] foi completamente desmontada. Dados preliminares de 2019 já indicam que houve mais invasões do que no período anterior. Todo período de construção da democracia. Agora é um período de desconstrução.» O levantamento do Cimi apurou outros problemas, como ameaças de morte (oito), conflitos por terra (11), casos de disseminação de álcool e outras drogas (11; apesar de a venda de bebidas alcoólicas a indígenas ser proibida em todo território brasileiro). Ainda relativamente a 2018, o relatório regista 101 casos de suicídios de indígenas e, no âmbito da mortalidade infantil, 591 falecidos até aos cinco anos de idade. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O crime contra a humanidade e o genocídio estão previstos no Estatuto de Roma, o tratado que estabeleceu o TPI. O primeiro, refere o portal da APIB, consiste em «extermínio, perseguição e outros actos desumanos», enquanto o segundo – genocídio – é «causar severos danos físicos e mentais e deliberadamente infligir condições com vistas à destruição dos povos indígenas». Na denúncia, a Articulação apresenta uma série cronológica de acções do presidente e do governo federal contra as populações indígenas desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República. Para Samara Pataxó, assessora jurídica da APIB, «o que se tem assistido desde o primeiro dia de mandato é a construção de uma política anti-indígena sistemática e intencional». Esta política pode ser observada não apenas no discurso, mas em actos administrativos, «que mostra evidentemente que as atitudes do presidente Jair Bolsonaro configuram crime de genocídio e crimes contra a humanidade», defende Pataxó. Entre outros aspectos, o documento apresentado em Haia aponta o desmantelamento das infra-estruturas públicas de garantia dos direitos indígenas e socioambientais, estimulando a invasão e o desmatamento de terras indígenas, bem como o garimpo ilegal nesses territórios. Em plena pandemia, a actividade do garimpo ilegal avançou 30% no território e, só em 2020, desmatou o equivalente a 500 campos de futebol. Indígenas enfrentam mais riscos de doenças, violência e álcool. Um relatório divulgado esta quinta-feira revela que a exploração ou extracção de substâncias minerais (garimpo) ilegal está a entrar de forma cada vez mais rápida nas terras indígenas e na floresta amazónica. O levantamento aponta para a proliferação de novos núcleos de invasores, mais próximos dos povos originários, incluindo de grupos de índios isolados, bem como para a abertura de novas rotas para dentro do território. Intitulado «Cicatrizes na floresta: evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020», o estudo foi produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e a Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), tendo revelado que, entre Janeiro e Dezembro do ano passado, foi devastada uma área equivalente a 500 campos de futebol na Terra Indígena Yanomami, localizada no extremo Norte do Brasil, entre os estados do Amazonas e de Roraima. O total de área desflorestada é de 2400 hectares, sendo que em 2020 se registou um aumento de 30%. Ou seja, mesmo com a pandemia de Covid-19, a actividade ilegal nunca parou, antes pelo contrário. O relatório agora publicado denuncia como a actividade criminosa prolifera na terra indígena, subindo os rios e aproximando-se cada vez mais das comunidades indígenas, com novas rotas de acesso ao interior da floresta. O novo levantamento também alerta para o modo como o avanço dos garimpeiros em território indígena tem levado doenças às comunidades, sobretudo malária e Covid-19, e colocado em risco a sobrevivência de grupos de indígenas isolados, como os Moxihatëtëma, que são mais vulneráveis às enfermidades e correm sérios riscos de extinção com a exposição forçada pelos garimpeiros. Outros problemas, como o álcool e o aumento da violência, também são consequência da maior presença de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami e da maior proximidade dos invasores em relação aos povos originários. De acordo com o estudo, a actividade garimpeira no Território Indígena Yanomami realiza-se sobretudo de duas maneiras: em dragas flutuantes, localizadas nos leitos de grandes rios (Uraricoera, Mucajaí, Catrimani e Parima), e em terra firme, de modo semi-mecanizado, com recurso a mangueiras e a motores de combustão para extrair o sedimento de cavas ou barrancos. Com recurso à monitorização remota, foi possível examinar o conjunto das cicatrizes deixadas por esta segunda modalidade, que inclui desmatamentos recentes, solo exposto, áreas recém-abandonadas e pequenas lagoas de rejeito, revela o Brasil de Fato. O rio Uraricoera concentra mais de metade (52%) de toda a área degradada pelo garimpo identificada pela monitorização remota. Também é possível verificar que os novos locais de garimpo, surgidos no ano passado, estão colados às comunidades Yanomami e Ye’kwana. As pistas clandestinas de aterragem, agora, ficam a poucos metros do lugares onde os indígenas vivem. Um mapa recente com informações da actividade em terras demarcadas e protegidas mostra que a Amazónia brasileira abriga 453 explorações ilegais. O povo Yanomami prepara-se para a investida de Bolsonaro. Não sendo ilegal no Brasil, a exploração ou extracção de substâncias minerais (garimpo) é proibida em áreas protegidas e reservas indígenas. No entanto, o mapa Amazónia Saqueada, realizado pela InfoAmazónia e pela Rede Amazónica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) – organização que reúne técnicos de seis países da Amazónia –, mostra que existem pelo menos 2312 pontos e 245 áreas não autorizadas de extracção de ouro, diamantes e coltan no Brasil, na Bolívia, na Colômbia, no Equador, no Peru e na Venezuela. A pesquisa inédita compilou dados sobre a situação de mineração ilegal nos sete milhões de metros quadrados do território amazónico, sublinha o Brasil de Fato numa peça hoje publicada. No que respeita ao Brasil, a RAISG aponta a existência de 453 «garimpos» em 132 áreas. Sobre a pesquisa, os dados recolhidos e o seu significado, Alicia Rolla, geógrafa do Instituto Socioambiental (ISA), que coordena a RAISG, afirmou ao Brasil de Fato que «as informações obtidas sobre a exploração em áreas indígenas e de conservação são obtidas através das instituições que trabalham na Rede». Em seu entender, o mapa é importante para a compreensão da dinâmica extractivista de minérios. «O garimpo está presente dos dois lados da fronteira, e os garimpeiros atravessam-nas inclusive para fugir de fiscalização. Outra coisa que conseguimos observar é que a prática ilegal possui uma proximidade com a legal», afirmou a geógrafa. Outro aspecto sublinhado são as consequências ambientais da exploração mineira ilegal – bastante sentidas pelos pelos indígenas e comunidades ribeirinhas que dependem dos recursos naturais em áreas demarcadas e de preservação. «O uso do mercúrio para separar o ouro da areia contamina os rios e, consequentemente, os peixes. Além disso, a extracção de minérios provoca o desmatamento para chegar ao subsolo, e o assoreamento dos rios, causando distúrbios ambientais como o aumento de mosquitos transmissores de doenças», destaca o Brasil de Fato. «A nossa terra está demarcada pelo governo federal desde 1992, mas não está a ser respeitada», denunciou Dário Vitório Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, no estado de Roraima. «Várias doenças estão a surgir por conta da contaminação e de crimes ambientais feitos pelos garimpeiros», acrescentou. Os abusos cometidos na área indígena do povo Yanomami, com cerca de 9 419 108 hectares, são encaminhados para «órgãos públicos como a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e para o Exército Brasileiro, para que assumam as suas responsabilidades», afirma. Em Julho último, dois índios isolados foram mortos por garimpeiros. «Fizemos a denúncia para a Procuradoria-Geral da República e o Ministério da Justiça, e pedimos investigação sobre o garimpo ilegal, além de [uma] investigação sobre as mortes para o MPF e Polícia Federal», revela Dário. De acordo com a pesquisa da RAISG, a extracção de minérios começou a chegar à terra Yanomami em 2010, e tem vindo a aumentar: no final de 2016, já tinham sido identificadas 49 balsas na região. Tendo em conta as declarações do presidente eleito, no passado dia 12, relativas às «riquezas de Roraima» – o seu subsolo, a sua terra e os seus recursos hídricos – e a reafirmação, num encontro com deputados dos Democratas, também na quarta-feira, de que, se depender dele, não haverá «demarcações de terras para indígenas», o povo Yanomami «prepara-se para resistir». É que 46% do estado de Roraima é território indígena e, face às ameças de Jair Bolsonaro, Dário Vitório Kopenawa Yanomami destaca: «Estamos a organizar-nos e vamos posicionar-nos para cobrar os nossos direitos que estão na Constituição. Ele precisa de respeitar as áreas demarcadas, não pode quebrar o protocolo e enfrentar as autoridades anteriores que fizeram as demarcações.» Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O líder Yanomami e xamã Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, disse ao Instituto Socioambiental (ISA) estar preocupado e revoltado com a actual invasão garimpeira. «Você vê a água suja, o rio amarelado, tudo esburacado. Homem garimpeiro é como um porco de criação da cidade, faz muito buraco procurando pedras preciosas como ouro e diamante», afirmou Kopenawa. «Há vinte anos conseguimos mandar embora esses invasores e eles retornaram. Estão entrando como animais com fome, à procura da riqueza da nossa terra. Está avançando muito rápido. Está chegando no meio da terra Yanomami. O garimpo já está chegando na minha casa», alertou. O xamã disse ainda temer um conflito com os invasores. «Estou muito preocupado, pois o garimpeiro não está sozinho, são grandes grupos, andam armados, apoiados por empresários, pelo governador de Roraima e pelo presidente Bolsonaro, assim como outros empresários do Brasil. Aqui em Roraima, os garimpeiros, empresários e políticos não respeitam os povos indígenas, só querem tirar as nossas riquezas», denunciou Kopenawa. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A este cenário, afirma a organização, acresce a inacção do governo de Bolsonaro em relação à propagação da pandemia de Covid-19 no seio de comunidades indígenas. Como exemplo, Pataxó citou o incumprimento de uma medida liminar do Supremo Tribunal Federal, que obrigava o governo federal a prestar assistência aos povos indígenas no âmbito da pandemia. «É a primeira vez que os povos indígenas do Brasil vêem um presidente posicionar-se contrariamente à demarcação de terras, que incentiva a actuação ilegal de garimpeiros, grileiros, o desmatamento nas terras indígenas, associados a uma política anti-indígena, quando tem discurso discriminatório e violento contra os povos indígenas e que surte efeitos concretos», acusa Samara Pataxó, em declarações ao Brasil de Fato. As organizações que integram a APIB preparam mobilizações em Brasília contra a agenda anti-indígena no Congresso e no Supremo Tribunal Federal. Entre as propostas, está o chamado «marco temporal», uma tese jurídica segundo a qual os territórios só podem ser demarcados se os povos indígenas conseguirem provar que estavam a ocupar uma determinada área antes da promulgação da Constituição Federal (5 de Outubro de 1988) ou se ficar comprovado que existia um conflito pela posse da terra. Além de inviabilizar a demarcação, o «marco temporal» promove a abertura dos territórios ao agronegócio, à mineração e à construção de hidro-eléctricas e outras obras, denunciam os povos indígenas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Agosto Indígena
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No entanto, na TI Amambai, a média é de 0,8 hectares por unidade familiar. O espaço, mais pequeno do que um campo de futebol, é insuficiente para a caça, a pesca, o plantio e o extractivismo. A proporção foi calculada pelo Brasil de Fato com base em dados fornecidos por antropólogos e repete-se, com variações, nas principais terras indígenas do estado.
«Aqui é pouca terra para muitos indígenas», disse ao Brasil de Fato um membro da Aty Guasu. «Então, a nossa luta é por espaço. Por conta disso que estamos fazendo as retomadas e a reivindicação pela demarcação», disse o habitante na TI Amambai.
Sem espaço para produzir alimentos, os indígenas sobrevivem de maneira precária, tornando-se vítimas do trabalho precarizado. «Os homens têm que sair e deixar as mulheres para buscar o sustento. Vão para usina [de cana-de-açúcar], então deixam as crianças por dois ou três meses», relatou.
Afirmando estar sob ameaça de pistoleiros e policiais a serviço de fazendeiros, pediu anonimato. «Aqui é o estado onde mais se persegue e criminaliza a liderança. É o próprio estado, a própria polícia. Todas as pessoas que são foco do movimento são perseguidas. Não estamos nos sentindo seguros», frisou.
Cerco agro-bolsonarista
O confinamento dos indígenas do Mato Grosso do Sul remonta ao início do século XX, quando o Estado brasileiro estimulou a compra, por latifundiários, das terras ancestralmente ocupadas, com a perspectiva de delimitar e ocupar as fronteiras internacionais, no território que então fazia parte do estado do Mato Grosso.
«Havia a ideia da política indigenista de que os índios estavam em vias de assimilação e integração com a população nacional enquanto trabalhadores. Nessa lógica, não fazia sentido ampliar as porções de terras habitadas pelos indígenas», explica o antropólogo Diógenes Cariaga e professor da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) na unidade de Amambai.
«Esse processo longo e complexo se soma à força que o agronegócio tem na região. Hoje nenhuma família Kaiowá e Guarani ocupa a porção territorial correspondente ao que a gente chamaria de Terra Indígena nos modelos preconizados pelo pós-Constituição», afirma o docente, que teve uma aluna baleada no massacre de Gwapo'y.
A violência agravou-se com a chegada de Bolsonaro ao poder, segundo o membro da Aty Guasu. «Desde o começo do governo, esses fazendeiros se sentem donos de tudo, inclusive com a liberação de arma de fogo e com o marco temporal [das terras indígenas] que está no STF [Supremo Tribunal Federal]», diz o líder índigena.
Os grandes agropecuaristas do estado, que já tentaram organizar publicamente a formação de milícias rurais, dão o tom da política de segurança pública, cuja coordenada principal é favorecer os latifundiários nas disputas de terra, explica o portal brasileiro.
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