Uma semana depois de milhares de pessoas se terem mobilizado contra a lei «racista e xenófoba» em dezenas de cidades francesas, o país europeu voltou a ser cenário, este domingo, de nova jornada de mobilização. No dia 25, o texto legislativo relativo à imigração – aprovado em meados de Dezembro – será presente ao Conselho Constitucional.
As manifestações, que tiveram lugar em mais de 160 localidades, foram uma resposta a um apelo lançado por 201 personalidades para dizer «não» a este «perigoso ponto de viragem na nossa República» e a um texto escrito «sob o ditado de traficantes de ódio que sonham em impor a França o seu projecto de "preferência nacional"».
Na sequência da aprovação parlamentar da lei da imigração, em 19 de Dezembro, mais de 200 personalidades subscreveram um apelo à mobilização, dia 21 de Janeiro, para exigir a sua não promulgação. A lista de signatários, em que se incluem muitas figuras do mundo da cultura, dirigentes sindicais e partidários, foi divulgada este domingo, entre outros, por L’Humanité ou o portal da Confederação Geral do Trabalho (CGT). Ao todo, são mais de 200 personalidades que se juntam no apelo à manifestação, para dizer «não» a este «perigoso ponto de viragem na nossa República» e a um texto legislativo escrito «sob o ditado de traficantes de ódio que sonham em impor a França o seu projecto de "preferência nacional"», tal como se pode ler no documento firmado. De acordo com Fabien Roussel, secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), trata-se de um «apelo histórico», na medida em que une pessoas de forma ampla, para além da esquerda, refere L’Humanité. Na frente de oposição à chamada lei de «asilo-imigração» juntam-se figuras como Manuel Bompard (França Insubmissa), Marine Tondelier (Ecologistas), Olivier Faure (PS) ou Benjamin Saint-Huile (Liot). Subscrevem também o apelo à mobilização contra a lei que, entre outros aspectos, exige a estudantes estrangeiros o pagamento de uma caução, diversos dirigentes sindicais, como Marylise Léon (CFDT) e Sophie Binet (CGT), que não tem poupado críticas à legislação da «França lepenizada». A Confederação Geral do Trabalho (CGT) apelou à mobilização e à desobediência civil contra a lei da imigração, tendo anunciado iniciativas para resistir às normas aprovadas na terça-feira no Parlamento. «A norma põe em causa todos os nossos princípios republicanos e estende uma passadeira vermelha à extrema-direita», denunciou a secretária-geral da CGT, Sophie Binet, em declarações à cadeia RMC. A dirigente sindical disse que, nas próximas semanas, serão agendadas iniciativas para rejeitar a lei aprovada pela direita e a extrema-direita, e instou «todos aqueles que não se sentem parte desta França lepenizada [em alusão a Marine Le Pen] a mostrar a sua determinação em fazer respeitar os valores da solidariedade». Mais de cem colectivos, associações, partidos e sindicatos apelam à mobilização unitária por toda a França, dia 23, «contra a violência policial e o racismo sistémico» e «pelas liberdades públicas». No seu portal, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) declara o apoio ao apelo unitário à mobilização, cujo texto pode ser consultado em marchespourlajustice.fr/appel. Ontem à tarde, estava anunciado o apoio de 135 organizações e estavam agendadas mais de 80 mobilizações pelo país fora. A este propósito, a CGT lembra que, no passado dia 27 de Junho, um jovem foi morto pela Polícia. Nahel, como se chamava, «foi a 15.ª vítima de um tiroteio fatal por "recusa em obedecer" desde 1 de Janeiro de 2022». A «execução» provocou várias noites de revoltas urbanas e levou a um destacamento de forças e meios sem precedentes, afirma a central sindical, sublinhando que «a repressão foi feroz, com quase 4000 detenções (incluindo mais de mil menores), duas mortes e mutilações irreversíveis». «O assassinato de Nahel voltou a lançar luz sobre a violência policial injustificável e o racismo sistémico que afecta fortemente as forças da ordem», afirma a CGT, considerando que esta situação é encorajada por «declarações facciosas de alguns sindicatos policiais e por uma cultura de impunidade dos autores da violência policial mantida pela instituição». «Obcecado em manter um sistema desigual que beneficia os ultra-ricos e precariza a grande maioria da população, o governo utiliza métodos autoritários para acabar com qualquer contestação», denuncia a estrutura sindical. «Os obstáculos às liberdades públicas multiplicam-se», «com proibições de manifestações, uma doutrina de manutenção da ordem denunciada pelas principais instituições internacionais, tentativas de dissolução de associações…». Neste contexto, alerta a CGT, «as liberdades sindicais são gravemente violadas com uma criminalização cada vez maior das acções – sobretudo as da CGT», num processo que «se acelerou desde a aprovação da reforma das pensões». Exemplos de que «se passou uma linha vermelha» são os da intimação a Sébastien Menesplier, membro da direcção nacional da CGT, ou a acusação contra David Bodin, secretário da União Departamental da CGT de Deux-Sèvres. A central sindical, que há vários anos alerta para «os estragos das políticas de austeridade e de precarização», afirma que «a degradação dos serviços públicos e do comércio, especialmente nos bairros populares, após a morte de Nahel, deteriorou ainda mais as condições de vida e de trabalho». «Num contexto de inflação elevada e de queda do poder de compra, Macron prossegue uma política regressiva que favorece a extrema-direita, agrava as desigualdades sociais e atropela o nosso modelo social ao estigmatizar os mais fracos com reformas destrutivas», denuncia a CGT. Assim, a central sindical exige respostas imediatas e urgentes, que passam, entre outras, pela revogação da lei sobre flexibilização das regras relativas à utilização de armas de fogo pelas forças da ordem; uma reforma profunda da Polícia, das suas técnicas de intervenção e armamento; um plano de investimento público nos bairros populares e em todo o território para restaurar os serviços públicos, o financiamento de associações e centros sociais; e o respeito pelas liberdades sindicais, pelos direitos à greve e de manifestação, e pela liberdade de expressão. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O texto aprovado no Senado e na Assembleia Nacional contém medidas destinadas a criar obstáculos à reunificação familiar dos imigrantes, aos estudantes estrangeiros (que são obrigados a pagar uma caução para obter uma autorização de permanência) e à obtenção de ajudas sociais e subsídios de habitação (será aplicado o princípio de preferência nacional). Além disso, diminui a possibilidade de regularizar a situação de pessoas «sem documentos» que trabalham no país, cria o crime «permanência irregular» e deixa a porta aberta a uma reforma da Ajuda Médica do Estado a «sem papéis». No seu portal, a central sindical de classe denuncia que a nova legislação e os debates que a rodearam são uma «violência para todos aqueles que são estrangeiros ou de origem estrangeira». «Baseia-se numa grande mentira: não, a imigração não é responsável pela insegurança», afirma, sublinhando que, ao invés, a imigração é uma «mais-valia para o nosso país». «Todos os anos, os trabalhadores estrangeiros fazem entrar 60 mil milhões em impostos e contribuições para a segurança social», afirma a CGT, acrescentando que, «sem trabalhadores estrangeiros, haverá muito menos médicos nos nossos hospitais, ajudantes domésticos, cozinheiros, entregadores ou pedreiros». A propósito de mais uma intimação de um dirigente sindical, a CGT denuncia a repressão existente em França e a «vontade de asfixiar a voz do mundo do trabalho que reivindica». Myriam Lebkiri, co-secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT) no departamento de Val-d’Oise e membro do Conselho Geral da central sindical, foi intimada a depor na esquadra da Gendarmeria de Pontoise, na passada sexta-feira, na sequência das acções realizadas no âmbito dos protestos contra a reforma das pensões que Macron aprovou por decreto. Em declarações à agência Anadolu, depois de uma concentração de apoio à dirigente sindical visada, outra representante da CGT, Valérie Lesage, confirmou que a intimação estava relacionada com «a luta contra uma reforma completamente injusta e injustificada». Lesage denunciou «a criminalização das nossas actividades sindicais» e recordou que o caso de Lebkiri não é o primeiro. Por exemplo, Sébastien Menesplier, dirigente da Federação Nacional de Minas e Energia (FNME/CGT), teve de comparecer, no passado dia 6 de Setembro, numa esquadra da Gendarmeria em Montmorency (arredores de Paris), também no âmbito de uma investigação sobre cortes de energia durante os protestos contra a reforma das pensões. A CGT denuncia uma vaga de «repressão», a propósito da intimação do dirigente sindical Sébastien Menesplier, que a Justiça acusa de estar ligado a um apagão nos protestos contra a reforma das pensões. Sébastien Menesplier, dirigente da Federação Nacional de Minas e Energia (FNME/CGT), teve de comparecer, no dia 6, numa esquadra da Gendarmeria em Montmorency (arredores de Paris), no âmbito de uma investigação em curso sobre cortes de energia durante os protestos contra a reforma das pensões que o governo de Macron aprovou por decreto. Centenas de trabalhadores mobilizaram-se em seu apoio, muitos dos quais filiados na Confederação Geral do Trabalho (CGT), mas também mobilizados pelo Partido Comunista (PCF) e o Movimento dos Jovens Comunistas de França (MJCF), entre outras organizações. O executivo não deixou que a Assembleia Nacional votasse a reforma das pensões, activando o artigo 49.3. Seguiram-se críticas da parte de dirigentes sindicais e políticos, e muitos protestos nas ruas. O presidente francês, Emmanuel Macron, autorizou esta quinta-feira o executivo de Élisabeth Borne a recorrer ao artigo 49.3 da Constituição, que permite fazer avançar projectos sem aprovação parlamentar. O projecto de reforma das pensões, muito contestado, ainda foi votado de manhã no Senado, onde, como era esperado, foi aprovado por grande maioria (193 votos a favor e 114 contra). Mas já não chegou a ser submetido à votação dos deputados da Assembleia Nacional. As ruas, avenidas e praças de França voltaram a encher-se de manifestantes que contestam o projecto do governo, num dia em que a comissão mista chegou a acordo sobre o texto a ser votado. De acordo com a Confederação Geral do Trabalho (CGT), um dos sindicatos que integram a Intersindical, esta quarta-feira vieram para as ruas 1,7 milhão de pessoas, 450 mil das quais em Paris. Os números do Ministério do Interior são, como sempre, bastante mais baixos. Em Marselha, mobilizaram-se 160 mil pessoas, também segundo a CGT, que deu conta de muitas outras manifestações – como em Toulouse (90 mil pessoas), Bordéus (50 mil), Le Havre (30 mil), Limoges (25 mil), Lyon (22 mil) ou Caen (20 mil). Nelas, os participantes condenaram a insistência do governo francês e do presidente da República, Emmanuel Macron, de levar por diante a reforma das pensões, ignorando a ampla oposição popular expressa nas ruas desde 19 de Janeiro e em sondagens repetidas. Tal como nas jornadas de luta de 19 e 31 de Janeiro, 7, 11 e 16 de Fevereiro, e 7 e 11 de Março, os manifestantes exibiram múltiplas faixas e cartazes a expressar revolta, sobretudo contra a exigência de que tenham de trabalhar mais anos. De acordo com a imprensa francesa, o ambiente nas ruas, esta quarta-feira, foi mais tenso, tendo em conta que se aproxima uma eventual aprovação do projecto contestado, também por implicar o aumento do período de contribuições e a eliminação de regimes especiais de reforma. Enquanto, decorriam os protestos pelo país fora, na capital uma comissão mista de sete senadores e sete deputados chegou a acordo sobre o texto a ser votado esta quinta-feira, primeiro no Senado, dominado pelos conservadores, e depois na Assembleia Nacional, onde Macron já não conta com maioria absoluta. Uma possibilidade muito discutida nos últimos dias é a de o governo poder recorrer ao artigo 49.3 da Constituição (que lhe permite aprovar projectos sem o voto parlamentar), no caso de percepcionar que a reforma não passa na Assembleia. «Recusamos que nos tirem dois anos de vida», afirmou a CGT numa declaração a apelar à participação na jornada de luta desta terça-feira, que mobilizou cerca de 3,5 milhões de pessoas em todo o país. Só em Paris manifestaram-se 700 mil pessoas, de acordo com a Confederação Geral do Trabalho (CGT), que nunca tinha avançado com um número tão elevado de manifestantes na capital – a contagem mais alta do sindicato dizia respeito à mobilização de 19 de Janeiro, com 500 mil pessoas nas ruas. Depois das jornadas de mobilização de 19 e 31 de Janeiro e de 7, 11 e 16 de Fevereiro contra a reforma das pensões de Macron e Borne, a aposta do movimento sindical unitário passava por aumentar a pressão e paralisar o país numa jornada de greve geral que, em diversos sectores, vai continuar (nomeadamente na ferrovia e na energia). Ao aumento da idade legal da reforma dos 62 para os 64 anos, à eliminação dos regimes especiais e ao aumento do período de cotização, os sindicatos responderam com aquilo a que chamaram o «endurecimento da luta», afirmando que não aceitam o «roubo de dois anos de vida» e uma reforma que vai no caminho oposto ao da igualdade e penaliza bastante as mulheres, que já recebem pensões 40% inferiores às dos homens. As empresas de transportes SCNF e RAPT deram contam de «fortes perturbações» nos serviços, que também se fizeram sentir no Metro e nos comboios suburbanos parisienses. Educação, energia, distribuição de combustível e recolha de lixo foram áreas onde também teve impacto a greve geral em França, que, segundo referiu o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, só se manteve porque o governo teima em ignorar a rejeição do projecto. «Ninguém pode dizer que a paralisação não foi evitada, porque nós avisámos que a íamos fazer caso o executivo continuasse a não ouvir as reivindicações dos sindicatos», disse Martinez à Franceinfo no âmbito da greve geral. Por seu lado, Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), mostrou-se confiante em que a jornada de mobilização fosse «imensa», sublinhando que não pode haver reforma das pensões sem o apoio dos trabalhadores. Estavam previstas entre 250 e 300 manifestações em todo o país contra o projecto que está a ser estudado actualmente no Senado e que o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, esta tarde voltou a defender na Assembleia Nacional. A manifestação em Paris foi gigantesca, mas outras houve com grande dimensão, nomeadamente em Marselha, onde, de acordo com os sindicatos, se mobilizaram 245 mil pessoas. Em Toulouse, foram 120 mil, em Bordéus e Lille, 100 mil. Outras grandes manifestações tiveram lugar em Nantes (75 mil pessoas), Grenoble (53 mil), Saint-Étienne e Lyon (50 mil), Le Havre (45 mil), Rennes (40 mil), Orléans (37 mil), Clermont-Ferrand e Caen (33 mil), Brest, Perpignan e Nice (30 mil) ou Lorient (25 mil). Em Saint-Brieuc, na Bretanha, manifestaram-se cerca de 20 mil pessoas. Duas delas, Patrick Evain, de 57 anos, e Didier Delourme, de 55, trabalham numa fábrica em Kermené, filial agroalimentar do grupo Leclerc, e são sindicalizados na CGT. Ao Le Monde, disseram: «Se o governo quer falar sobre dificuldades no trabalho, que venha aos nossos matadouros.» E falaram dos turnos às 4h da manhã, dos intervalos diários de 20 minutos, dos movimentos repetitivos que provocam problemas musculoesqueléticos, do barulho… «Aos 50 anos, o corpo está moído. Os trabalhadores do agroalimentar não podem durar até aos 64 anos», frisaram. Em Paris, Samantha, uma maquinista de 38 anos da SNCF na Gare de Lyon, tem horários escalonados, e o nível de concentração que lhe é exigido desgasta a sua saúde. Ao Libération disse: «Uma estupidez da nossa parte pode custar a vida a milhares de pessoas», referindo-se ao acidente mortal ocorrido na Grécia. Por isso, preocupa-se. De três em três anos, tem de fazer um exame médico exaustivo (electrocardiograma, teste de urina, da visão, etc.). Se não passar, o trabalho de maquinista acaba. E os bónus acabam. «Perderia metade do meu salário», diz. Se agora passa no «limite-limite», como vai ser com mais de 60 anos, pondera. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Phillipe Martinez, secretário-geral da CGT, e outros dirigentes sindicais exortaram o executivo a ouvir as exigências dos sindicatos e da maioria da população, sublinhando que o recurso ao 49.3 irá aumentar o mal-estar. Apesar de reconhecer que esse artigo está na Constituição, Martinez disse que usá-lo seria impor a reforma à força, uma «manobra afastada de atitudes democráticas». Por via de um comunicado lido esta quarta-feira por Benoît Teste, secretário-geral da FSU, a Intersindical «apela solenemente aos deputados que votem conta o projecto de lei» de reforma das pensões. «Essa rejeição estaria de acordo com a vontade geral que foi amplamente expressa no debate público», afirma o texto divulgado pelo Le Monde. Na ocasião, ficou-se ainda a saber que os dirigentes dos oito principais sindicatos franceses vão dar uma conferência de imprensa esta quinta-feira, às 12h30, em frente à Assembleia Nacional, para tentar influenciar o voto. Os sindicatos acusam o governo francês de ter utilizado «todos os artifícios constitucionais para limitar os debates parlamentares», considerando que se trata de uma «negação da democracia», «indigna e perigosa», bem como de «um desprezo pela expressão amplamente maioritária da população e da democracia social. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Ali, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, anunciou que o governo iria aprovar a reforma recorrendo «por responsabilidade» ao referido artigo da Constituição. «Não se pode correr o risco de brincar com o futuro das pensões, esta reforma é necessária», disse Borne na Câmara Baixa, depois de Macron a ter autorizado a recorrer ao 49.3. De imediato, foram anunciadas duas moções de censura contra o governo, que não conta com o apoio da maioria na Assembleia Nacional, e sucederam-se as declarações de repúdio pela manobra do governo. O secretário nacional do Partido Comunista Francês, Fabien Roussel, afirmou que a decisão governamental é «uma vergonha para a democracia», enquanto o deputado ecologista Julien Bayou a definiu como «um fracasso», indica a Prensa Latina. Por seu lado, o líder de A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, considerou que a reforma das pensões aprovada por decreto carece de legitimidade parlamentar e representa «o colapso da minoria presidencial». Os principais dirigentes sindicais também expressaram o seu repúdio. Philippe Martinez, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), defendeu que «o recurso à força com a utilização do 49.3 deve encontrar uma resposta à altura do desprezo pelo povo. As mobilizações e as greves têm de ampliar-se». Já o secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, destacou a ausência de maioria da parte do governo para aprovar o aumento da idade legal da reforma. «O compromisso político fracassou. São os trabalhadores que têm de ser ouvidos», defendeu. Após o anúncio de Borne na Assembleia Nacional, centenas de pessoas começaram a juntar-se na Praça na Concórdia, em Paris. Seguiram-se muitos protestos, confrontos e cargas policiais – na capital e noutras cidades do país. Mais de 300 pessoas foram detidas durante a noite, de acordo com o Ministério do Interior, esta manhã. Entretanto, reunida ontem ao início da noite na sede da CGT, a Intersindical convocou uma nova jornada de mobilização contra a reforma das pensões para o próximo dia 23 – a nona, depois das realizadas a 19 e 31 de Janeiro, 7, 11 e 16 de Fevereiro, e 7, 11 e 15 deste mês. Em comunicado, os sindicatos denunciam a aprovação «pela força» do projecto e dizem «aferir com gravidade a responsabilidade que o executivo detém na crise social e política resultante desta decisão», que classificam como «uma verdadeira negação da democracia». No seu portal, a CGT sublinha que aquilo que «denunciava ontem como injusto o é ainda mais hoje» e que «isso só nos pode encorajar a intensificar as mobilizações e greves». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Segundo refere o Peoples Dispatch, estas organizações caracterizaram a intimação de Menesplier como uma «inaceitável tentativa de intimidação», num contexto mais amplo de «repressão contra os sindicatos». Num comunicado publicado na véspera, a CGT sublinha que «o princípio da liberdade sindical é um direito fundamental consagrado na lei desde 1884», mas que «a repressão e a discriminação contra activistas sindicais estão a aumentar». «Estas estratégias de intimidação contra os sindicatos são graves e não são isoladas: mais de 400 militantes da CGT são hoje processados em tribunal por terem realizado acções de luta contra a reforma das pensões», denuncia a central sindical no documento que emitiu dia 5. «Todas estas intimações são altamente políticas: o poder está a dar um novo passo na repressão sindical contra os trabalhadores e dirigentes da CGT, o que contribui para deteriorar a relação entre sindicatos, governo e patronato», alerta. A secretária-geral da CGT, Sophie Binet, esteve presente na mobilização de quarta-feira, tendo declarado que «o governo deve compreender que esta repressão tem de parar». «Se houver processos judiciais contra ele [Menesplier], a revolta social será expressa e a CGT estará lá para organizar essa revolta», afirmou. A central sindical anunciou que a luta iria continuar esta sexta-feira em Niort (Oeste), com uma mobilização de apoio ao dirigente departamental da CGT David Bodin. E continuou, pois milhares de pessoas juntaram-se, ontem, para apoiar Bodin e os demais sindicalistas e activistas, julgados num processo em que são acusados de terem organizado manifestações não autorizadas contra a privatização da água na região de Deux-Sèvres. De acordo com a CGT, há actualmente mais de mil militantes sob ameaça de despedimento, de sanções disciplinares, intimações ou processos judiciais. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Neste momento, temos mais de quinze dirigentes da CGT em toda a França que foram intimados pelos tribunais, que estão preocupados», lamentou, referindo-se a estes processos como «uma perseguição judicial». Para a secretária-geral da CGT na União Regional de Île-de-France, «há realmente uma vontade de asfixiar a CGT, asfixiar a voz do mundo do trabalho que reivindica». No mesmo dia, Nicolas Pereira, secretário-geral da CGT na União Local de Roissy, foi também intimado, pelo que Valérie Lesage considera haver de facto «uma discriminação, uma criminalização de todas as nossas acções», bem como uma «aceleração» neste tipo de práticas. «Nunca tivemos tantos camaradas preocupados com a Justiça. Tentam silenciar-nos, intimidando-nos», alertou, acrescentando que a vontade do governo francês é a de «sufocar as organizações sindicais, porque fazem ouvir a voz de todos os trabalhadores de França». A secretária-geral da CGT, Sophie Binet, afirmou que, nos últimos meses, pelo menos 17 secretários-gerais de organizações da central sindical foram intimados por causa da sua actividade sindical, bem como mais de mil activistas da CGT. «Estamos num contexto de uma vaga de repressão sindical sem precedentes. Porquê? Porque agora, para o neoliberalismo, a democracia é um problema», disse a dirigente da CGT à Anadolu, lembrando como quase toda a população se opôs à reforma das pensões e como Emannuel Macron a aprovou por decreto e «espezinhou a democracia». «Agora, para impor as suas políticas e evitar qualquer contestação, estão a generalizar a repressão sindical em todas as direcções», acrescentou. Dirigindo-se ao executivo francês, Binet disse que tinha «uma mensagem muito simples», relativa à necessidade de acabar com as condecorações ao grande patronato, enquanto os processos judiciais contra sindicalistas se sucedem. «A repressão sindical deve acabar de imediato», frisou. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «E estamos agora a explicar-lhes que devem continuar a trabalhar de cabeça baixa, sem viver com a família e sem ter acesso a direitos sociais?», pergunta a central sindical. Também no seu portal, a CGT divulgou, igualmente esta quinta-feira, uma carta dirigida a Emmanuel Macron da parte de sindicatos, associações e partidos políticos franceses, na qual solicitam ao chefe de Estado que «desista» da lei agora aprovada. «Exigimos solenemente que tome a única decisão que vale a pena: deve renunciar a uma lei que representa um atentado aos valores da nossa República», lê-se no texto, aberto à subscrição. «Nós, forças políticas, sindicais e associativas, não desistimos. Estamos aqui para resistir ao arbitrário e ao desumano», afirmam, apelando a «todas as organizações da sociedade civil, a todas as forças progressistas e republicanas para que actuem face a este grande ataque à nossa República e à sua Constituição». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Da mesma forma o fazem dirigentes associativos, personalidades ligadas à religião e muitos artistas, académicos e intelectuais. «Se quisermos liderar a luta prioritária pelos valores, contra a extrema-direita, precisamos de uma grande união, que vá para lá das diferenças e dos compromissos políticos. Condenamos esta lei porque mina muitos dos fundamentos da nossa República e do nosso lema», disse Patrick Baudouin, presidente da Liga dos Direitos Humanos. A iniciativa, surgida um dia após a votação da lei da imigração na Assembleia Nacional francesa, a 19 de Dezembro, tem um objectivo primordial: juntar o maior número possível de pessoas nas ruas para exigir a Emmanuel Macron que não promulgue o texto, lembra o periódico de esquerda. «O Presidente da República tudo fez para que esta lei fosse "adoptada" antes das férias de fim de ano para que não se fale mais dela», disse Fabien Roussel. «Mas muita gente me perguntou como iríamos reagir a essa lei aprovada pelo RN [partido de extrema-direita, de Marine Le Pen] e que não dá respostas às grandes questões ligadas à imigração», acrescentou. «É um momento de esclarecimento: esta lei é uma revelação, uma fronteira clara entre aqueles que estão dispostos a mudar e a negar o programa do Conselho Nacional da Resistência, ao ponto de assumirem as teses da extrema-direita, e os outros», afirmou a secretária-geral da CGT, Sophie Binet. Fim da universalidade dos direitos, introdução da preferência nacional, questionamento dos direitos da terra, restrição do acesso à residência… «Devemos ser muitos no dia 21 para garantir a protecção das potenciais vítimas deste texto», disse Marine Tondelier (Ecologistas). Trata-se de uma questão importante «para restaurar pontos de referência no debate público face à obsessão etnizante de uma parte do mundo político», segundo Dominique Sopo, presidente da SOS Racisme. «Daí o lema da manifestação de 21 de Janeiro: "Marchamos pela Liberdade, pela Igualdade, pela Fraternidade"». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Na sua conta de Twitter (X), Sophie Binet, secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), deu conta de manifestações em cidades como Marselha, Lyon, Nantes, Lille, Grenoble ou Paris, onde, segundo a dirigente sindical, se manifestaram 25 mil pessoas entre o Trocadero e os Inválidos.
Na capital, os manifestantes exibiram faixas e cartazes a denunciar «a lei da vergonha», a lembrar os princípios republicanos e a vincar a defesa dos direitos humanos para todos.
«Esta lei constitui uma ruptura com os princípios franceses desde 1789 em matéria de direitos à terra e desde 1945 no que respeita à universalidade da protecção social», criticou Sophie Binet, citada pelo portal tf1info.fr.
Binet integra a frente de oposição à chamada lei de «asilo-imigração» em que se uniram figuras como Manuel Bompard (França Insubmissa), Marine Tondelier (Ecologistas), Olivier Faure (PS), Benjamin Saint-Huile (Liot), Fabien Roussel (PCF).
Nas manifestações deste domingo, os participantes exigiram a demissão do ministro do Interior, Gérald Darmanin, bem como a regularização da situação de milhares de trabalhadores estrangeiros sem documentos – no sentido oposto ao da lei que o executivo aprovou em conjunto com extrema-direita.
A lei, classificada como «racista e xenófoba», restringe o direito de permanência, bem como o direito ao asilo, à terra ou à reunificação familiar, além de limitar os apoios em matéria de habitação e pretender fazer o mesmo ao nível da assistência médica.
«Se quisermos liderar a luta prioritária pelos valores, contra a extrema-direita, precisamos de uma grande união, que vá para lá das diferenças e dos compromissos políticos. Condenamos esta lei porque mina muitos dos fundamentos da nossa República e do nosso lema», disse Patrick Baudouin, presidente da Liga dos Direitos Humanos e um dos signatários do apelo dos 201, em que se juntaram dirigentes associativos, partidários e sindicais, personalidades ligadas à religião e muitos artistas, académicos e intelectuais.
O «não» à promulgação da lei da imigração fez-se ouvir ainda em cidades como Rennes, Bordéus, Estrasburgo, Amiens, Montpellier, Pau ou Cannes, refere a imprensa.
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