Depois de Odair Moniz ter sido morto a tiro pela polícia, na Cova da Moura, o Governo resolveu fazer suas as dores do Chega e achar que os problemas dos trabalhadores dos bairros periféricos são resolvidos pela repressão policial.
O primeiro-ministro lançou uma operação sobre as populações imigrantes no centro da capital e prometeu mão dura sobre as pessoas que não têm a sua permanência no país regularizada. Tudo para combater a percepção sobre a criminalidade, supostamente ligada a um «país de portas abertas», mesmo que as estatísticas o desmintam.
Temos mais imigrantes quando há mais empregos, e os imigrantes saem do país, como durante a crise financeira e a intervenção da troika, quando a economia deixa de pedir mais trabalhadores. Neste momento, segundo as entidades patronais, seriam precisos mais 100 mil imigrantes para a economia se manter.
Luís Montenegro, numa conferência de imprensa que usou as polícias como adereço de cenário, reconheceu que «Portugal é um dos países mais seguros do mundo», mas que não podia viver «à sombra da bananeira» e que era preciso multiplicar as acções contra populações periféricas e imigrantes para combater a tal percepção de insegurança.
«O Governo da direita naturaliza e legitima a campanha do ódio da extrema-direita pensando que consegue ficar com os votos de alguns segmentos da população que votaram no Chega.»
As estatísticas garantem que as taxas de criminalidade são baixas no país, e que elas são ainda mais baixas nos concelhos que mais imigrantes acolhem. Todos os números mostram que os imigrantes vêm para Portugal para trabalhar e que não há nenhuma correlação entre o maior número de imigrantes no país com um suposto aumento da criminalidade.
No entanto, o Governo da direita naturaliza e legitima a campanha do ódio da extrema-direita pensando que consegue ficar com os votos de alguns segmentos da população que votaram no Chega.
A direita assume a política da extrema-direita, não só porque quer esses votos, mas porque uma imigração clandestina sem direitos sociais e políticos é uma garantia de um exército industrial de reserva que assegure centenas de milhares de pessoas a trabalhar abaixo do salário mínimo. Promovendo a maior das misérias e tornando possível mais lucros aos exploradores e pressionando o salário de todos os trabalhadores para baixo.
Para os poderosos e os patrões, os imigrantes não passam de números e pessoas instrumentais, para os marxistas, os imigrantes são elementos da classe trabalhadora que criam a riqueza do país e que deviam ter um Estado que promovesse os seus interesses.
É urgente um combate ao neoliberalismo, à sua financeirização e globalização, à perda de soberania dos povos e à afirmação que toda a classe trabalhadora, independentemente da sua origem, nacionalidade e etnia, tem de ter direitos políticos e sociais totais.
Conseguir uma sociedade em que a classe trabalhadora tenha mais poder e seja mais valorizada passa pela unidade na luta de todos os trabalhadores, imigrantes ou não.
A construção desse campo político exige uma definição daqueles que são amigos e inimigos, que leve o fulcro do combate social e político para o conflito de classes, e recuse qualquer discurso xenófobo e racista que divida os trabalhadores.
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