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Milhões de franceses dizem que não têm o suficiente para comer

Num tempo em que a novilíngua chama «precariedade alimentar» à fome, um estudo do centro Crédoc afirma que 16% dos franceses não comem que chegue e que o número está a aumentar.

Distribuição de alimentos a estudantes em Paris, em Dezembro de 2022  
CréditosJulien de Rosa / Libération

De acordo com a pesquisa realizada pelo Centro de Investigação para o Estudo e a Observação das Condições de Vida (Crédoc), divulgada esta semana pelo portal francetvinfo.fr, em Novembro de 2022, 39% dos franceses disseram que podiam comer todos os produtos que desejassem, face a 44% em Julho do mesmo ano.

O mesmo estudo revela que 16% dos franceses (quase 11 milhões de pessoas) não comem o suficiente. A percentagem, que o Libération classifica como «intolerável», traduz-se em cerca de um sexto da população francesa a comer mal ou a passar fome, e aumentou quatro pontos percentuais em menos de meio ano. Em 2016, «apenas» 9% da população francesa afirmava encontrar-se nesta situação.

Para o Crédoc, os resultados do inquérito encontram explicação na inflação elevada e no aumento dos produtos alimentares nas prateleiras (superior a 10%, chegando a 14% em Janeiro deste ano).

«Até 2021, quando a inflação se manteve inferior a 2%, o nível de insegurança alimentar sofreu poucas alterações», revela o estudo.

As mulheres, os mais jovens, os desempregados, as pessoas com menores rendimentos e que enfrentam dificuldades ao nível da saúde ou da habitação são os mais afectados pela má-nutrição e a fome.

Entre a população com idade inferior a 40 anos, 24% não têm o suficiente para comer – uma percentagem que desce para 7% na faixa etária 60-69 anos, revela o estudo.

«Neste contexto, há cada vez mais pessoas a recorrerem a estruturas de ajuda alimentar, que distribuem cabazes ou sopas quentes», sublinha.

Outro aspecto referido tem a ver com a «renúncia» a comprar certos produtos, uma vez que os preços «se tornaram inacessíveis em relação aos rendimentos auferidos». Neste sentido, parte da população «não teve outra escolha senão privar-se de carne, peixe ou mesmo de fruta e vegetais», afirma.

«Os franceses tentam adaptar-se», explica o estudo, comprando produtos de marcas brancas, nem sempre de boa qualidade, e menos produtos frescos e caros.

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