|Índia

Vendedores ambulantes resistem em Calcutá e na Índia

Em plena onda de neoliberalização do espaço público e de «ambientalismo burguês», os vendedores ambulantes são expulsos do centro, para que a elite se aproprie do espaço. Mas a «fealdade» da produção resiste.

Vendedor ambulante Créditos / Newsclick

Num artigo publicado esta segunda-feira no portal Newsclick, intitulado «Kolkata Hawkers: Politics of 'Illegality' and Urban Poor» (Vendedores ambulantes de Calcutá: Política de "ilegalidade" e pobreza urbana», Ankush Pal afirma que as cidades indianas se têm estado a tentar colocar a um nível de «classe mundial», com recurso «ao emprego da retórica do "desenvolvimento" para garantir que têm uma aparência estética».

Isso traduz-se na «remoção de sinais de atraso e pobreza», explica, acrescentando que, em muitos casos, se passou a usar o termo «invasores» contra «intervenientes informais urbanos», entre os quais se incluem mendigos, ocupas e vendedores ambulantes, que são deslocados para que «a elite» se consiga apropriar do espaço público, estacionando carros e aumentando as suas casas em vias pedonais, sem grandes objecções.

«A neoliberalização dos espaços públicos levou a um aumento da necessidade de regular a utilização do espaço público», algo a que se pôde assistir no período que antecedeu a Cimeira do G20 em Nova Déli, «quando a lei atingiu de forma desproporcional os mais desfavorecidos, à custa de embelezar a cidade».

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Trabalhadores da limpeza de Calcutá denunciam extrema exploração

Trabalham para o Município de Calcutá (Índia), transportam 600 a 700 quilos de lixo por dia, auferem salários de miséria e não têm férias. Nos seus alojamentos, muitas vezes não há água para tomar banho.

Imagem representativa 
Créditos / indianexpress.com

Nageshwar Ram, de 53 anos, veio de Giridih (estado de Jharkhand), em 1987, trabalhar para a antiga capital da Índia e grande metrópole de Bengala Ocidental, Calcutá.

Pai de três crianças, é obrigado a manter a família na sua terra, uma vez que é funcionário dos serviços de limpeza da Câmara Municipal de Calcutá (KMC, na sigla em inglês) e os alojamentos que lhe são destinados consistem num «pequeno quarto sujo» onde passam as noites entre quatro a seis trabalhadores. «Somos infinitamente explorados», disse Ram, que é um dalit, um intocável no sistema de castas.

A maior parte destes trabalhadores vem dos estados de Bihar, Jharkhand e Uttar Pradesh. Alguns não chegam a receber 2,5 euros (202 rupias) depois de oito horas de trabalho pesado, informa o portal NewsClick.

Ram, enquanto funcionário da KMC, tem de manter a cidade limpa, eliminando os resíduos urbanos de um modo que requer imensa força física. A maior parte dos trabalhadores dos serviços de limpeza urbana vai recolher o lixo a locais pré-determinados e transporta-o em carros de mão até máquinas de compressão, percorrendo cerca de dois/três quilómetros e carregando entre 600 e 700 quilos de lixo.

Más condições e precariedade

De acordo com a fonte, há 14 mil postos de trabalho nos serviços de limpeza urbana da KMC, sendo que apenas 6000 estão preenchidos de forma permanente; os restantes são ocupados de forma temporária e precária, ao abrigo de um programa de cem dias de emprego, embora os trabalhadores com vínculos precários façam o mesmo trabalho que os seus colegas «fixos».

«Somos obrigados a trabalhar em condições severas; muitas vezes, as autoridades utilizam vocabulário ordinário para nos fazer trabalhar e, em vez de um caminho, somos obrigados a limpar dois ou três, o que é penoso», disse Nageshwar Ram ao NewsClick.

«Às vezes, não temos água para tomarmos um banho adequado e nos nossos quartos praticamente não há casas de banho. Os alojamentos estão em condições degradadas; alguns sem portas e janelas, que foram partidas há muito tempo», acrescentou.

«Nestes quartos apertados, colocamos khatias (pequenas camas), uma por uma, ou usamos colchões para dormir à noite, e em cada quarto há quatro a seis trabalhadores», denunciou.

«Os alojamentos não são arranjados. As últimas obras na maior parte dos alojamentos tiveram lugar em 2011, nos tempos do governo da Frente de Esquerda», disse Nageshwar Ram, que dorme nas instalações de Azadgarh da KMC.

Os trabalhadores da limpeza urbana da KMC descansam em alojamentos degradados, por vezes com quatro e seis pessoas em espaços exíguos / NewsClick

Sem gozo de férias e licenças pagas

Narayan Yadav, de 58 anos, também proveniente de Giridih e também um dalit, sublinhou que, desde 2020, os trabalhadores da limpeza urbana deixaram de ter direito a períodos de férias e feriados ou a licenças pagas.

«Agora não há férias para os trabalhadores da limpeza urbana na cidade de Calcutá. É fisicamente impossível trabalhar sem férias. Mesmo quando temos febre ou estamos doentes, somos obrigados a trabalhar como bois nos campos», disse Yadav.

Outro problema que muitos enfrentam, actualmente, é que nem sequer conseguem descansar nos alojamentos degradados da KMC, que são ocupados por pessoas de fora. «Se fizerem um inquérito nos nossos alojamentos, verão que mais de 60% dos quartos estão ocupados por pessoas de fora, e nós temos de viver em bairros de lata perto da nossa área de trabalho», acrescentou Yadav.

Em declarações ao NewsClick, Anutosh Sarkar, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da KMC, confirmou as denúncias feitas por Ram e Yadav, acrescentando que a organização sindical está a realizar acções para ajudar estes trabalhadores.

«Se algum contraísse o vírus, a KMC não pagava o tratamento»

«Eles não têm férias e, durante o período da Covid, não lhes deram equipamentos de protecção, quando eles tinham de remover resíduos sanitários. Se algum deles contraísse o vírus, a KMC não pagava o tratamento», disse Sarkar.

A Frente de Esquerda (FDE), em que se integra o Partido Comunista da Índia (Marxista), governou em Bengala Ocidental de 1977 até ao início de 2011. Em Calcutá, manteve-se à frente da KMC até 2010.

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Índia: milhões de trabalhadores fazem greve para defender o futuro

Lembrando que a Índia celebra 75 anos de independência, Modi fala de «prosperidade», apostando nas privatizações e na precariedade. No primeiro dia de greve geral, milhões mostraram que querem outro rumo.

Trabalhadores em greve manifestam-se no estado de Andhra Pradesh, a 28 de Março 
Créditos / @cpimspeak

A plataforma de dez sindicatos que convocou a Bharat Band de 48 horas fala em jornada «histórica» e em «grande êxito», devido à «adesão massiva dos trabalhadores», de múltiplos sectores de actividade, no primeiro dia. 

No essencial, o protesto visa denunciar as «políticas contra o povo e os agricultores» promovidas pelo governo do actual primeiro-ministro, Narendra Modi.

O Centro dos Sindicatos Indianos (CITU) explicou que a convocatória de greve geral não estava apenas relacionada com exigências imediatas dos trabalhadores, mas visava posicionar-se contra as políticas destrutivas do governo central para a soberania nacional.

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Milhões de trabalhadores indianos dizem «não» às políticas de Modi

Mais de 250 milhões de trabalhadores participaram na greve geral convocada em protesto contra as políticas do governo de Modi, em que se inclui legislação laboral gravosa e a privatização do sector público.

Mobilização em Khammam, no estado de Telangana, no contexto da greve geral de 26 de Novembro
Créditos / AIKS

A jornada de protesto desta quinta-feira, convocada por diversos sindicatos, teve uma «resposta imensa» em todo o país, com forte adesão à greve geral dos trabalhadores portuários e mineiros, das telecomunicações e energia, dos transportes, construção e produção de aço, bem como dos funcionários públicos, dos trabalhadores dos bancos, dos seguros e do sector informal, segundo revelou o Partido Comunista da Índia (Marxista) numa nota de imprensa.

Também o fizeram, em grande escala, os trabalhadores agrícolas, que, representados por mais de 300 organizações, prolongam o protesto esta sexta-feira, em coordenação com as centrais sindicais.

Num comunicado em que saudou as centenas de milhões de trabalhadores e agricultores indianos, por terem erguido a sua a voz unidos, o Centro de Sindicatos Indianos (CITU, na sigla em inglês) afirmou que «a atmosfera em vários estados, incluindo Kerala, Bengala Ocidental, Tripura, entre outros, era de paralisação total, com os transportes parados e as fábricas, as lojas, os escritórios e outros estabelecimentos comerciais a apresentarem um ar deserto».

A greve geral foi também um êxito nos estados de Assam, Karnataka, Bihar, entre outros.

Repressão e tentativa de intimidação

Tanto o PCI (M) como o CITU, que lhe é afecto, denunciaram com veemência a forte repressão exercida sobre os trabalhadores, na greve geral de ontem, pelo governo central e, a nível local, sobretudo nos estados governados pelo Partido do Povo Indiano (BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi).

Em Déli, a Polícia ergueu barreiras nas auto-estradas para impedir a marcha dos agricultores e, acusa o CITU, prendeu centenas de agricultores e dirigentes sindicais, como forma de intimidação. No estado de Tripura, a Polícia e «brutamontes» com o apoio tácito do governo local tentaram forçar lojas a abrir e atacaram escritórios de sindicatos e partidos de esquerda.

Ainda de acordo com o CITU, em todo o país foram presos cerca de 700 trabalhadores da construção e vários dirigentes sindicais foram «detidos preventivamente» no estado de Andhra Pradesh. Vários activistas e dirigentes sindicais foram presos em todo o país.

O PCI (M), que «condena fortemente a repressão» ontem verificada, afirma que Modi e o seu governo devem pensar duas vezes, tendo em conta a dimensão do protesto a nível nacional contra as políticas que «estão a destruir a vida de milhões de pessoas e a impor mais miséria ao país».

Em defesa dos direitos e de melhores condições de vida

Na greve geral desta quinta-feira, os trabalhadores denunciam as medidas gravosas aprovadas pelo governo de Narendra Modi que permitem ao patronato aumentar a carga de trabalho e diminuir os salários, facilitam os despedimentos e a precariedade, entre outros aspectos. A pandemia de Covid-19 serviu de pretexto para agravar a exploração.

Os trabalhadores, que exigem um salário mínimo, incluem nas suas reivindicações a revogação das normas laborais gravosas aprovadas, bem como de três leis agrícolas que abrem o sector ao agronegócio, a atribuição de dez quilos de alimentos às famílias necessitadas, o reforço do sistema de distribuição pública.

Exigem ainda que 5% do PIB seja destinado à Educação e 6% à Saúde (e que a lei garanta cuidados de saúde para todos), bem como o fim do desinvestimento nas empresas públicas e da política de privatizações e de saque aos recursos nacionais.

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Numa nota de imprensa, a estrutura sindical referiu que as zonas industriais na maioria dos estados do país sul-asiático estiveram encerradas e a greve teve grande impacto na cintura industrial de Déli.

Dezenas de milhões de trabalhadores dos transportes, da ferrovia, da electricidade e dos telefones, do carvão e do aço, da banca e dos seguros, dos correios e dos impostos participaram no primeiro dia de greve.

Em Kerala, verificou-se uma «paralisação total» (mesmo com o Supremo Tribunal do estado a proibir os funcionários governamentais de participar no protesto). Em estados como Tripura, Tamil Nadu, Haryana, Bengala Ocidental e Assam o impacto foi grande.

Já em estados como Maharashtra, Déli, Telangana, Karnataka e Haryana, a paralisação fez-se sentir sobretudo no sector industrial, explicou o CITU, que valorizou igualmente a elevada participação de sectores não organizados e onde predomina a precariedade. De acordo com o sindicato, cerca de 800 mil destes trabalhadores participaram activamente na construção na greve.

Trabalhadores em luta no estado de Punjabe / @cpimspeak

Trabalhadores vivem tempos de «angústia», Modi fala em «prosperidade»

A anteceder a greve, a plataforma de sindicatos apresentou um documento com 12 reivindicações fundamentais, lembrando que os trabalhadores do país vivem tempos de angústia, marcados pelo elevado desemprego, salários baixos e preços dos bens a subir.

As lutas travadas pelos trabalhadores – como a dos agricultores, ao longo de um ano – evitaram danos ainda maiores, mas, refere o texto citado pelo Newsclick, tratou-se apenas de «um passo numa luta mais ampla para salvar o povo da miséria e da exploração extremas».

Entre as reivindicações, contam-se matérias pelas quais os trabalhadores lutam há vários anos e outras mais recentes, relacionadas com a deterioração do nível de vida dos trabalhadores devida à pandemia e às medidas que foram tomadas. É por isso que, explica o texto, se exige a atribuição de um apoio financeiro imediato às famílias que vivem dificuldades.

Operários e camponeses exigem a eliminação dos quatro códigos laborais, que promovem a precarização, diluem a fixação dos salários, aumentam as horas de trabalho e favorecem o despedimento fácil.

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Privatizações e leis contra o povo no centro dos protestos «Dia de Salvar a Índia»

Milhares de trabalhadores responderam, esta segunda-feira, ao apelo de sindicatos e organizações agrícolas para denunciar as políticas neoliberais e contra o povo implementadas pelo governo de Modi.

Trabalhadores em protesto contra as medidas do governo de Modi em Chennai, capital do estado de Tamil Nadu 
Créditos / Newsclick

Por todo o país, houve concentrações e manifestações para exigir a revogação das leis que prejudicam os agricultores, contra a legislação laboral, as privatizações, os aumentos de preços, entre outras reivindicações.

A jornada nacional de protesto, designada como «Save India Day», foi convocada pelo Centro de Sindicatos Indianos (CITU), o Sindicato dos Agricultores de Toda a Índia (AIKS) e o Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de Toda a Índia (AIAWU), e contou com a adesão de muitos outros sindicatos e organizações nos vários estados, num dia em que se assinalava também o início do Movimento Quit India (Deixem a Índia) contra os colonizadores britânicos.

Em Nova Déli, centenas de trabalhadores de vários sectores de actividade participaram numa concentração organizada por dez sindicatos, com intenção de seguir para o Parlamento para denunciar as «medidas draconianas» tomadas pelo governo de Narendra Modi contra o povo da Índia e «salvar a Índia» de tal governo, mas tal não foi permitido pela Polícia de Déli, noticia o Newsclick.

Na mobilização, ficaram patentes as diversas preocupações dos trabalhadores, que exigiram a reversão do actual rumo do país e apresentaram uma lista com 11 reivindicações. Tapan Sen, secretário-geral do CITU, disse ao Newsclick que, se os rendimentos dos trabalhadores «morrerem», então «não haverá nada neste país».

No estado de Assam, manifestaram-se mais de 20 mil trabalhadores / Newsclick

Em Uttar Pradesh, agricultores e trabalhadores de outros sectores, coordenados pelos sindicatos, mobilizaram-se em 45 distritos do estado, fazendo ouvir palavras de ordem contra o primeiro-ministro, Narendra Modi, e as grandes empresas.

Mukut Singh, secretário-geral da AIKS em Uttar Pradesh, disse que as mobilizações a nível nacional visavam condenar o saque da riqueza pública na Índia. «Todas as políticas do governo de Modi são contra o povo e os agricultores mas amigas dos empresários», disse Singh.

Por seu lado, o secretário-geral do CITU no estado, Prem Nath Rai, afirmou que «o governo do BJP [partido nacionalista hindu] está a tentar privatizar o sector agrícola para beneficiar uns quantos agentes privados», sublinhando que a legislação agrícola que o governo se recusa a revogar representa um «duro golpe» para os agricultores.

Em Tamil Nadu, milhares de trabalhadores, camponeses, mulheres aderiram à jornada de luta, tendo realizado cadeias humanas e manifestações contras as políticas do governo de Modi lesivas para os trabalhadores e os agricultores, dando especial ênfase à questão das privatizações em curso do sector público.

S. Kannan, dirigente do CITU no estado, acusou o governo central de explorar os trabalhadores para satisfazer as exigências dos empresários, tendo denunciado a aprovação da legislação laboral, que «terá um impacto adverso duradouro para os trabalhadores».

Em Assam, o Newsclick estima que mais de 20 mil pessoas tenham participado na jornada de protesto, que teve expressão em todos os distritos do estado. A quase uma dezena de centrais sindicais, juntaram-se organizações de agricultores, de estudantes e de jovens.

Tapan Sarma, dirigente do CITU em Assam, destacou a repressão levada a cabo pelo BJP: «Os governos central e estadual do BJP estão empenhados na entrega dos recursos naturais aos capitalistas para que estes lucrem; depois, estão a pôr atrás das grades quem os questiona», denunciou.

No estado de Madhya Pradesh, houve protestos em 30 distritos, dinamizados pelo Madhya Pradesh Trade Union Sanyukt Morcha, que reúne 12 sindicatos e entregou às autoridades estaduais, em Bhopal, uma carta com mais de uma dezena de reivindicações.

Num parque da capital, os trabalhadores gritaram palavras de ordem contra a inflação galopante, a exigir a eliminação da legislação danosa para o sector agrícola, contra a política de privatizações, a reforma do sector eléctrico e a legislação laboral.

Mobilização em Calcutá / Newsclick 

Em Calcutá, capital do estado de Bengala Ocidental, várias organizações promoveram a realização de uma concentração em que ecoaram as mesmas preocupações do resto do país.

Ao discursar, Sanjoy Putatunda, dirigente da AIKS, afirmou que é tempo de correr com os «saqueadores» do país, e o dirigente do CITU, Debanjan Chakraborty, destacou a unidade da luta dos agricultores e dos demais trabalhadores da Índia.

No estado de Kerala, onde governa a Frente de Esquerda, os partidos de esquerda uniram-se aos protestos organizados pelos sindicatos e associações de agricultores em vários distritos.

Anathalavattom Anandan, presidente do Comité Estadual de Kerala do CITU, afirmou que «as medidas do governo central contra o povo e a favor das empresas equivaleram a ceder a soberania do país aos interesses das grandes empresas e do capital financeiro internacional».

«O governo está a trabalhar sob o comando das empresas e a aprovar leis negras que visam facilitar o saque dos bens públicos por elas, num momento em que as pessoas ainda não conseguiram aguentar o impacto resultante da pandemia», frisou.

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No documento, os sindicatos exigem também ao governo que aceite as seis reclamações da coligação de sindicatos agrícolas Samyukta Kisan Morcha; abandone o caminho da privatização das empresas do sector público e a concessão a longo prazo de activos físicos como os da ferrovia, sistemas de transmissão de energia e telecomunicações, que implicará a perda de postos de trabalho.

Exigem ainda que seja ampliado o programa de garantia de emprego nas zonas urbanas e rurais, e que seja garantida a cobertura de segurança social a todos os trabalhadores do sector informal.

Também reclamam a atribuição de um salário mínimo e a cobertura da segurança social aos trabalhadores precários; o aumento do investimento público na agricultura, educação, saúde e outros serviços públicos essenciais; a diminuição do imposto sobre os combustíveis e a regularização dos trabalhadores precários, entre outros aspectos.

No documento, os sindicatos avisam Narendra Modi e o seu partido nacionalista hindu que as suas vitórias eleitorais, com recurso à religião para dividir o povo e ao desvio das atenções das questões económicas prementes, serão «efémeras», porque «cada vez mais pessoas estão a ser esmagadas pela crise económica».

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Nesse período, aos trabalhadores era fornecido um kit com «duas camisas, impermeáveis e botas de borracha para trabalhar, pois a natureza do seu trabalho é perigosa, mas agora tudo isso acabou. Estamos a exigir que o Município entregue novamente esse conjunto aos trabalhadores», disse o dirigente sindical.

Igualmente noutros tempos, houve tentativas para melhorar as infra-estruturas dos alojamentos dos trabalhadores, mas isso também parou, lembrou Anutosh Sarkar, que denunciou ainda o programa de criação de emprego urbano de 100 dias, promovido pela KMC, uma vez que fomenta a precariedade e os baixos salários, além de violar uma norma do Supremo Tribunal de acordo com a qual trabalhadores a exercer as mesmas funções têm de receber o mesmo.

No que respeita às licenças, o dirigente sindical explicou ao NewsClick que existem vários tipos de licenças a que os trabalhadores têm direito – ocasionais, ganhas e médicas –, mas que «ficam no papel».

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Em Calcutá, os vendedores ambulantes representam um dos sectores mais amplos e mais organizados da economia informal e têm enfrentado, ao longo dos anos, a ameaça constante de serem deslocados, ao mesmo tempo que resistem a ela, lembra o autor.

Em simultâneo, apela ao conceito de «ambientalismo burguês» por via da socióloga Amita Baviskar, que explica como «um sentido de moralidade e estética da classe alta» domina o discurso do espaço público, que pede a remoção da «fealdade» da produção para fora da vista, empurrando-a para fora da cidade.

Numa cidade, Calcutá, em que sempre se encarou os vendedores ambulantes como destruidores da estética – «construída e enraizada numa ideia de glória colonial» –, no final de Junho, a ministra-chefe de Bengala Ocidental, Mamata Banerjee, levantou preocupações sobre «invasões» dos passeios e extorsão, ao discursar numa reunião com várias autoridades civis e altos funcionários da Polícia.

No dia seguinte, Polícia e outras autoridades entraram em acção, removendo bancas de vendedores ambulantes em Calcutá e noutros pontos do estado, deixando os vendedores preocupados com as perdas que iriam sofrer e algumas das zonas mais movimentadas de Calcutá com um ar deserto.

«A venda ambulante tem sido vista como um obstáculo e uma obstrução à imagem de "classe mundial" que as cidades de todo o país perseguem há já algum tempo», afirma Ankush Pal, sublinhando que isto ocorre num contexto em que académicos e activistas se posicionam a favor dos vendedores, mostrando «como são parte integrante da economia informal que contribui para a riqueza do país».

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Em Déli, arrasa-se bairros pobres com empenho

As demolições de shanties (bairros de lata) têm-se sucedido. A mais recente, em Dhaula Kuan, voltou a criar polémica, porque centenas de pessoas ficaram ao relento, com fome e sem alternativa.

Demolição em Dhaula Kuan (Déli) 
Créditos / Kamran Yousuf

A demolição de shanties no Bairro de Dhaula Kuan (Sul de Déli), levada a cabo este sábado pelo Departamento das Obras Públicas, deixou centenas de pessoas sem local onde ficar – e muitas nem sequer tiveram a possibilidade de recuperar os seus pertences: ficaram sem nada.

Segundo revela o Newsclick, a revolta apoderou-se dos residentes, que, em desespero, viam as suas casas serem destruídas, e a Polícia reforçou a presença no local, para garantir a segurança.

Uma das questões principais levantadas pela população, pobre, tem a ver com as promessas que lhes foram feitas pela administração do estado. Segundo referem, os avisos e as ameaças de demolição foram-se repetindo ao longo do tempo, mas, num sinal contraditório, também receberam garantias das autoridades de que o Departamento das Obras Públicas não estava autorizado a avançar com as demolições.

Família abriga-se num parque das redondezas // Kamran Yousuf / Newsclick

Além disso, denunciam, durante a campanha eleitoral, tanto o Bharatiya Janata Party (BJP), que governa a nível central, como Aam Aadmi Party (AAP), que governa em Déli, garantiram aos residentes nos bairros de lata de Dhaula Kuan que, onde houvesse um shantie, haveria uma casa («Jahan Jhuggi Wahan Makan»).

Com base nessa campanha, o governo do estado de Déli chegou mesmo a atribuir certificados nos quais garantia aos cidadãos o direito a uma habitação decente. No entanto, as demolições ocorreram, este sábado, e as pessoas ficaram ao relento.

Neste sentido e tendo em conta a situação de desespero em que se encontra uma população pobre e vulnerável, o Newsclick tentou obter respostas do governo de Déli sobre as demolições, sem conseguir obtê-la.

Alguns testemunhos

Samintra, angustiada, falou dos problemas que ela e a sua família enfrentam. «Vivemos aqui há 20 anos. As nossas crianças não têm comida. Não nos deixaram trazer os nossos pertences ou preparar comida. Não temos sítio onde viver e estamos muito assustados», disse.

No local das demolições // Kamran Yousuf / Newsclick

Hukum, outro residente de há muitos anos, relatou que a Polícia chegou ao local de noite e disse à população que o bairro de lata iria ser arrasado. «Os meus filhos, um com três e outro com treze anos, não têm para onde ir. Vamos voltar para a nossa terra. Como destruíram a casa às seis da manhã, ficámos sem comida», contou.

Um outro habitante no bairro, Ram Sati, mostrou-se desapontado. «As autoridades do Departamento das Obras Públicas prometeram-nos construir casas em vez de shanties, mas destruíram o sítio onde vivemos e despejam-nos, apesar de vivermos aqui há 30 anos. Exigimos ao governo que nos dê um sítio onde viver», afirmou.

Outra vítima dos despejos, Bharati Dewai, também mostrou revolta e tristeza. «Destruíram as nossas casas sem nos avisar com antecedência ou permitir que levássemos os nossos pertences. Só encontramos políticos nas campanhas eleitorais. Eles estão-se a borrifar para nós, nos seus gabinetes com ar condicionado. Proibiram-me de levar os meus pertences», insistiu.

Demolição em Tughlakabad

No início do mês, o governo indiano, em conjunto com a entidade responsável pela Arquelogia no país, levou a cabo a demolição de um bairro de lata em Tughlakabad, também no Sul de Déli, que afectou cerca de 20 mil pessoas.

Entulho no local da demolição // Kamran Yousuf / Newsclick

Tughlakabad, uma zona pobre e de trabalhadores domésticos, da construção civil, da segurança, de vendedores de rua e empregados fabris, é adjacente a outros bairros, ricos, aos quais os pobres dos bairros de lata acedem para trabalhar mas onde não têm hipótese de viver, devido ao preço das casas.

Com as suas casas arrasadas, sem sítio onde viver e sem pertences, muitos encontraram refúgio debaixo de árvores ou em tendas improvisadas. Segundo refere o Newsclick, a situação destas pessoas tornou-se desesperada, porque estão a passar fome, não estão a conseguir levar os filhos à escola e temem pela sua segurança – no calor tórrido do Maio indiano.

Alguns habitantes, além de denunciarem a acção de uma administração que arrasa bairros sem colocar as pessoas em casas, também se referiram à falta de empatia geral. Ritu, de 35 anos, disse que uma ONG andava a distribuir comida a cães abandonados, «sem ver milhares de seres humanos de barriga vazia».

Um dos habitantes de Dhaula Kuan, sem casa, procura refúgio do calor tórrido de Maio num parque // Kamran Yousuf / Newsclick

Alguns também mostraram preocupação pelo facto de terem ficado sem quaisquer documentos – estão debaixo do entulho.

Contactada pelo Newsclick, a Archaeological Survey of India (ASI) defendeu a acção do governo e sublinhou que as pessoas não podem residir em zonas arqueológicas.

No que respeita ao realojamento dos habitantes (quase 20 mil pessoas), a instituição disse que isso cabia ao Estado e «não comenta questões do Estado».

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«A venda ambulante evoluiu como um meio de sobrevivência para os marginalizados, adoptado principalmente pelos que foram afectados pelas crises económicas e pela migração em grande escala induzida pela Partição [de Bengala, em 1947]».

Na obra Streets in Motion. The Making of Infrastructure, Property, and Political Culture in Twentieth-century Calcutta, o historiador Ritajyoti Bandopadhyay mostra como os grupos sociais que se envolveram na venda ambulante foram mudando com o tempo, e como «a profissão sobreviveu e foi útil para quem dela necessitava».

Um «espectáculo planeado»

Bandopadhyay – refere o autor – acha que a campanha de despejos levada a cabo pelo executivo de Bengala Ocidental é «um espectáculo planeado e um acto de equilíbrio» por parte do governo liderado por Mamata Banerjee, para poder «dar à classe média uma sensação de segurança», de que também liga aos seus interesses.

Trata-se de uma nova classe média e que «tem encorajado políticas de transformação das metrópoles em cidades de classe mundial». Tal como eles, também os que vivem nos condomínios fechados pedem que «as cidades sejam limpas e postas na ordem».

No entanto, o historiador lembra que é a própria classe trabalhadora que vai trabalhar nas limpezas desses condomínios que depende dos vendedores ambulantes, que lhes fornecem as suas refeições diárias – seja porque transportar alimentos é pouco viável, seja porque alguns acham mais conveniente comer num vendedor do que cozinhar de madrugada, antes de saírem para trabalhar todo o dia.

Uma parte integrante da vida de Calcutá

Apesar da repressão, das tentativas de despejo e recolocação sucessivas que têm sofrido, os vendedores ambulantes têm resistido ao longo dos anos, junto a mercados, escritórios ou universidades, sobretudo porque um grande número de pessoas prefere comprar a preços mais baixos do que no comércio estabelecido.

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Mais de um milhão erguem «alternativa popular» num comício em Calcutá

Um mar de gente juntou-se este domingo em Calcutá, onde o Partido Comunista da Índia (Marxista) sublinhou a importância da unidade das forças de esquerda e seculares para travar a «safronização» do país.

Sitaram Yechury, secretário-geral do PCI(M), dirigindo-se à multidão reunida em Calcutá
Créditos / @cpimspeak

Organizado pelo Partido Comunista da Índia (Marxista) – PCI(M) – e forças aliadas, o comício de ontem na capital do estado de Bengala Ocidental teve lugar no Brigade Parade Ground – o maior espaço a céu aberto na cidade.

Nas redes sociais, o PCI(M) referiu que uma «estimativa conservadora» apontava para um milhão de pessoas – um dos actos políticos com maior adesão no mundo e com uma «mensagem poderosa» para os partidos que governam em Nova Déli e em Calcutá, respectivamente, o BJP (Bharatiya Janata Party) e o TMC (All India Trinamool Congress) – antes das eleições para Assembleia Legislativa em Bengala Ocidental.

O secretário-geral do PCI(M), Sitaram Yechury, sublinhou que a Frente de Esquerda – aliança em que o PCI(M) tem posição de destaque e que governou o estado de Bengala Ocidental por mais de 30 anos – é um adversário à altura de TMC e BJP.

Destacou, além disso, a necessidade de derrotar o TMC, de modo a travar o «rolo compressor» do BJP no estado, alertando que, se não tiver maioria, o TMC poderá voltar a juntar-se à NDA (aliança de direita) para formar governo com o BJP de Narendra Modi.

Yechury lembrou a luta dos agricultores, às portas de Déli, contra as políticas anti-populares para frisar que, também ali, em Calcutá, em Bengala Ocidental, se pode lutar, refere o portal newsclick.in.

Defender os direitos face ao extremismo religioso

No mega-comício, o dirigente comunista falou ainda de corrupção, do modo como a juventude é maltratada no estado – «O governo de Mamata Banerjee está a fazer aos jovens o mesmo que Narendra Modi está a fazer aos agricultores», disse – e da importância da unidade das forças de esquerda e seculares para pôr um travão a BJP e TMC, que usam a religião para afastar as atenções dos problemas das pessoas, no país e no estado.


Falando para a multidão, num evento que pretendia erguer uma «alternativa popular» às políticas de direita, de modo a travar «a safronização, a privatização e a corrupção» do país, o dirigente e deputado comunista Mohammed Salim afirmou: «Enquanto os media se centram nos vira-casacas [os que vão do TMC para o BJP], nós falamos de emprego, democracia, transparência, educação e saúde para todos.»

Por seu lado, o secretário do PCI(M) de Bengala Ocidental, Surjya Kanta Mishra, declarou: «Lutaremos pela garantia de direitos iguais para homens e mulheres de todos os sectores da sociedade, e contra o ataque à expressão do pluralismo.»

As eleições para a Assembleia Lesgislativa em Bengala Ocidental irão decorrer em oito fases, a 27 de Março e 1, 6, 10, 17, 22, 26 e 29 de Abril. Os votos serão contados no dia 2 de Maio, informa o newsclick.in.

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É disso que fala Sukriti, uma estudante de Direito, que lembra que os vendedores não trabalham numa lógica de «lucros abissais» mas são capazes de se sustentar ao apresentarem uma alternativa a quem não tem possibilidade de comer em complexos comerciais.

Os preços nos cafés e restaurantes são no mínimo cinco vezes superiores, aponta, ao mesmo tempo que justifica o facto de tantos estudantes e trabalhadores recorrerem aos vendedores de rua: «Nem toda a gente pode gastar mais de 500 rupias [5,5 euros] por dia em comida.»

Por seu lado, Rounak, membro da organização Jatiyo Bangla Sammelan (JaBaS), que também coordena um sindicato de vendedores ambulantes, defende de modo enfático que estes «sempre existirão» e que, «por mais que os super-ricos argumentem, a ausência dos vendedores de rua seria preocupante, com as grandes corporações a ganharem o monopólio».

Nabarun, um vendedor ambulante de comida chinesa na zona de Rabindra Sadan, acredita que o governo não os pode manter afastados, a ele e aos outros vendedores, e chama a atenção para outras questões.

«Os do partido e da Polícia extorquem-nos dinheiro com regularidade, e nós podemos pagar-lhes porque as pessoas compram na minha banca e noutras por aqui», afirma.

«Sabes, as outras grandes lojas aqui não são acessíveis à maioria das pessoas que vão para a faculdade ou trabalham nos escritórios das redondezas, e eu estou aqui para elas. Claro que ganho o meu e sustento a minha família, mas também sirvo as pessoas, disponibilizando-lhes alimentos a preços acessíveis», declarou.

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