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No Conselho Europeu ninguém quis aconselhar à paz porque há quem lucre com a guerra

«Temos de mudar o paradigma e passar para o modo de economia de guerra», afirmou Thierry Breton, Comissário Europeu para a Indústria. Este foi o mote da reunião do Conselho Europeu que ao invés de procurar resolver os problemas da união está a mergulhá-la no militarismo.

Ontem e hoje decorreu o Conselho Europeu. Por Portugal, grande parte da comunicação social somente destacou o facto de ter sido a última reunião de António Costa, mas à parte da constatação, pouco ou nada escalpelizou.

Acontece que a reunião composta pelos chefes de Estado ou de Governo dos países membros da União, pela presidente da Comissão Europeia e pelo presidente do Conselho Europeu decidiu aprofundar o caminho que leva à guerra. 

A notícia não era propriamente nova uma vez que Ursula Von der Leyen tinha já anunciado que iria apresentar uma Estratégia Industrial de Defesa Europeia, mas o nível de profundidade da discussão assusta. 

Face aos reais problemas no seio dos países da União Europeia, a gravidade da crise económica e social, o Conselho Europeu optou por discutir o reforço do militarismo, caminho que leva ao aumento de tensões com outros países. 

A justificação está num suposto apoio à Ucrânia e a possibilidade de, caso Donald Trump ganhe as presidenciais americanas, haja um corte no financiamento e fornecimento armamentista ao país do leste europeu. Já a realidade é completamente diferente. 

Apesar da criação de um Fundo de Assistência à Ucrânia, dentro do Mecanismo Europeu de Apoio à “Paz”, com um orçamento de 5000 milhões de euros para incentivar o envio de armas, munições e outro material militar para Kiev até ao fim deste ano, quase a fundo perdido, o que está em marcha é uma alteração da canalização do investimento comunitário. 

Thierry Breton, Comissário Europeu para a Indústria, disse esta semana: «Temos de mudar o paradigma e passar para o modo de economia de guerra». Sob a capa de uma estratégia de defesa, o objectivo parece passar por utilizar fundos estatais para apoiar, não só a indústria de guerra, mas sim a privada. 

Por outro lado, a ideia também passa por haver uma compra conjunta de armamento, algo que leva a questionar que interesses são servidos com essa suposta parceria, num quadro em que o projecto europeu assenta na submissão de um conjunto de Estados. 

Analisando tudo à distância, a tal Estratégia Industrial corresponde a necessidades de grandes empresas europeias, como é exemplo a Arquus, fabricante de veículos blindados aponta para a mudança da relação geopolítica da França com os países africanos como um dos principais factores que contribuíram para o declínio das suas vendas de exportação. Ou seja, tem a necessidade de dinamizar o sector no seio da Europa.

Se neste último caso há uma necessidade de alterar o rumo, no caso da Rheinmetall, uma empresa alemã que fabrica as peças dos tanques Leopard, há a vontade de manter o rumo dos lucros, uma vez que registou resultados recorde no ano passado e depois de ver o preço das suas acções subir, a empresa sediada em Duesseldorf juntou-se a empresas como a Volkswagen e a Siemens. 

O Conselho Europeu está assim a servir de porta-voz dos grandes interesses da guerra, mimetizando uma táctica já antiga praticada pelos Estados Unidos da América, pelo menos desde 1950 com a Lei de Produção de Defesa. 

Os que se dizem pela paz estão a fazer de tudo para semear a guerra. No final serão os povos a pagar a fatura e espera-se que não seja com vidas.  
 

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