Quando o desporto se torna atractivo por causa do tamanho do equipamento da jogadora.
No passado domingo, enquanto via o resumo desportivo do Campeonato Europeu de Andebol de Praia, reparei nas imagens das jogadoras com areia no corpo, com equipamento reduzido, e dei por mim a interrogar-me sobre a praticabilidade e funcionalidade do equipamento feminino. Porque não usar calções e t-shirt de alças, como, por exemplo, a equipa masculina usa?
Eis que no dia seguinte, somos confrontados com a notícia do pedido das jogadoras da seleção norueguesa para jogarem com calções em vez do biquíni e a (inaceitável) recusa alegando normas do regulamento daquela modalidade: «Os regulamentos da competição são claros: as jogadoras são obrigadas a jogar sempre de biquíni e estão proibidas que a parte de baixo do equipamento cubra mais de 10 centímetros da parte superior das pernas para que haja "atratividade" e mais patrocínios».
Esta notícia salienta as representações que promovem estereótipos de mulheres com determinados padrões de beleza e uma objectificação do corpo da mulher como activo e mercadoria. Mas, principalmente, salienta o cariz ideológico e de mercado que o corpo da mulher representa nesta sociedade capitalista.
«O que dá força e poder às mulheres é a dignidade, o respeito, o direito a ter direitos, e não ter de mostrar pele para ter direito a uma vida digna.»
Esta questão não é nova e sente-se noutras modalidades e noutros domínios da vida, por exemplo: nas feiras automóveis em que o corpo da mulher serve para sexualizar e vender o carro; na hipererotização e massificação feminina centrada na indústria da beleza; no conceito (ideológico) de uma sociedade em que tudo se vende (e o sexo vende tudo!), principalmente o corpo da mulher.
A presença do corpo da mulher nos media e na publicidade é exacerbado e descontextualizado, reduzindo o corpo à sua dimensão física e sexual. Cada vez mais, a publicidade hipersexualiza e objectifica a mulher como mercadoria que vende mercadoria.
A exploração da vida pessoal, da intimidade à privacidade, do corpo tornou-se uma marca do tempo presente, sinal da vulgarização e da banalização que se quer dar à mulher.
Neste caso, não se tratará de promover o desporto ou a prática desta modalidade, mas somente o corpo da mulher, para garantir melhores audiências e melhores patrocínios (da tal indústria). Nem tão pouco, tem como objetivo promover a emancipação da mulher ao objectificar e hipersexualizar o seu corpo.
O mais curioso é o cariz ideológico (e de mercado) destas representações, centrado na beleza da mulher, nos interesses de uma indústria que promove o mito da beleza feminina perfeita que a todas nos amarra a uma perfeição inatingível, encapotado de liberdade e de emancipação, e à ideia de que a sexualização dá poder às mulheres.
Desculpem-me a ligeireza, mas a exposição dos meus seios ou do meu rabo, não me dá mais força como mulher!
Transformar o corpo da mulher num objecto sexual não empodera ninguém. Bem pelo contrário, reduz-me a um objecto: ao tamanho e forma dos seios e do rabo. Reduz-me a um objecto comercializado, sem vontade, sem desejos, mas alvo de troca, compra e venda.
As pessoas, os seres humanos não deviam estar à venda.
O que dá força e poder às mulheres é a dignidade, o respeito, o direito a ter direitos, e não ter de mostrar pele para ter direito a uma vida digna.
Não confundir liberdade com exploração.
O que dá força e poder às mulheres é a transformação do mundo, da sociedade e, consequentemente, das mentalidades e das representações.
Só a transformação social decorrente de uma sociedade sem desigualdades, sem discriminações nem pobreza, poderá assegurar as condições para igualdade entre homens e mulheres.
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