Kylie Jenner, a mais nova das irmãs Kardashian, não gosta de engarrafamentos. Faz grande parte das suas deslocações no seu avião ou o do seu noivo, o rapper Travis Scott. Usa mesmo o jacto privado para fazer trajectos de 12 minutos que podia fazer de carro.
«Vamos no teu ou no meu?», perguntava no seu perfil de Instagram, com mais de 300 milhões de seguidores, o segundo mais seguido do mundo, depois de Cristiano Ronaldo. A pergunta era acompanhada de uma foto com as duas aeronaves do casal. A celebridade das redes sociais e empresária ganhou fortuna graças a uma linha de produtos cosméticos veganos.
Um estudo patrocionado pela Oxfam determinou que o 1% mais rico do planeta vai emitir, em 2030, 30 vezes mais carbono do que aquilo que está convencionado pelo acordo de Paris. Com base no trabalho desenvolvido pelo Instituto para a Política Ambiental Europeia (IEEP, Institute for European Environmental Policy) e o Instituto do Ambiente de Estocolmo (SEI, Stockholm Environment Institute), o estudo identifica claramente os responsáveis pela dificuldade em atingir as metas a que o mundo se propôs: «O 1% mais rico, que é menor do que a população da Alemanha, vai ser responsável por 16% do total de emissões de gases de efeito de estufa». Relatório de instituição intergovernamental traça um retrato negro sobre as consequências das alterações climáticas, mas a responsabilidade dos 1% mais ricos do planeta é convenientemente esquecida, acusa Oxfam. O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, conhecido por IPCC na sigla em inglês, é categórico nas conclusões da sua investigação. O planeta vai mesmo aquecer pelo menos 1,5ºC, isto nas perspectivas mais positivas, até 2030, dez anos mais cedo do que o esperado. A floresta tropical da Amazónia, no Brasil, passou a emitir mais dióxido de carbono do que aquele que consegue absorver. É a primeira vez, desde que há registos, que esta situação se verifica. As conclusões do artigo publicado ontem na revista científica Nature são categóricas: Os incêndios e queimadas que destroem, todos os anos, milhares de hectares da floresta tropical, muitas provocadas deliberadamente com o objectivo de libertar terreno para a exploração agrícola ou pecuária, assim como o abate de árvores, roubou à Amazónia a sua qualidade respiratória. Ambientalistas sublinham que o «crime» é «incentivado pela redução da fiscalização» e directamente pelas autoridades, ao proporem legislação no sentido oposto ao controlo da destruição ambiental. «A cada hora, a Amazónia brasileira perdeu 96 hectares da sua cobertura florestal no ano de 2020. Ao fim de um dia, foram desmatados 2309 hectares. Nesse ritmo, ao terminar de ler esta reportagem, o equivalente a 32 campos de futebol da floresta amazónica terão sido devastados», lê-se no portal Amazônia Real, que se refere aos dados divulgados na passada sexta-feira pela MapBiomas. Em 2020, ano marcado pelos efeitos da pandemia da Covid-19, o desmatamento da maior floresta tropical do mundo aumentou 9% em relação a 2019. De cada dez hectares desflorestados no Brasil, seis tiveram lugar na Amazónia, com a devastação a atingir os 842 983 hectares. Para o Amazônia Real, o governo de Bolsonaro levou a sério o «passar a boiada» (actualizar/flexibilizar normas, no caso, para o avanço do agronegócio) defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que é investigado por crime ambiental e enriquecimento ilícito. O segundo Relatório Anual do Desmatamento 2020, elaborado pelo MapBiomas, mostra que, no Brasil, entre Janeiro e Dezembro, foram emitidos 74 218 alertas de desmatamento para uma área superior a 1,3 milhão de hectares. Por comparação com 2019, o aumento da área abrangida foi de 14%. A MapBiomas, iniciativa que integra diversas entidades dedicadas a estudos e acções de protecção ambiental, verificou que 99% de todo o desmatamento do país sul-americano ocorreu de forma ilegal, ou seja, sem a devida autorização dos órgãos ambientais. Nem mesmo áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas, escaparam da acção dos prevaricadores. Os alertas de desmatamento da floresta amazónica indicaram uma área de 8426 quilómetros quadrados em 2020, o equivalente a cerca de cinco cidades de São Paulo. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na sexta-feira passada e foram registados pelo projecto Deter-B, que indica praticamente em tempo real a localização de acções ilegais em zonas preservadas. A área devastada na Amazónia em 2020 – 8426 quilómetros quadrados – corresponde ao segundo pior índice da série histórica do Deter, que começou a operar em 2015; só é suplantada por 2019, primeiro ano de governação de Jair Bolsonaro, em que foi desflorestada uma área de 9178 quilómetros quadrados. Ou seja, nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, a área desflorestada na Amazónia é 82% superior, em média, à dos três anos anteriores. Mesmo com a redução de 8% de 2019 para 2020, a média de área desmatada nestes dois anos é de 8802 quilómetros quadrados, bem acima da registada entre 2016 e 2018: 4844 quilómetros quadrados, informa o Portal Vermelho. Numa nota à imprensa, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, comentou estes dados afirmando que «Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele». «As queimadas, tanto na Amazónia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo actual governo», sublinhou. Já no início de Dezembro, quando veio a público que a devastação da Amazónia batia recordes no Brasil, o Observatório dirigiu duras críticas ao governo brasileiro, tendo emitido uma nota em que denunciava que os números cumprem «um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazónia». Por seu lado, Rômulo Batista, porta-voz da Campanha Amazônia da Greenpeace, disse que aquilo a que se tem assistido nos últimos dois anos é um desmantelamento de «todas as políticas e conquistas ambientais feitas desde a redemocratização do país». Em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que «Bolsonaro vê o meio ambiente como um entrave económico» e que tanto ele como os seus ministros «apostam na abertura de terras indígenas para mineração e no desmatamento para o aumento da produção agrícola». Destacou que o «desmatamento não traz riqueza» e lembrou que a «ciência aponta que a Amazónia está muito próxima de um ponto de "não retorno" também chamado de ponto de "inflexão", que é quando a floresta perde a capacidade da sua automanutenção». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Marcos Reis Rosa, doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo, afirma que, tendo em conta as informações disponíveis em bancos de dados como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), é possível identificar o autor em qualquer desmatamento ocorrido no Brasil. Dos mais de 5,5 milhões de imóveis rurais cadastrados no Brasil, sublinha, houve registo de desflorestação em apenas 0,99%. «Só um por cento teve desmatamento, o que bastou para fazer este estrago não só ao meio ambiente mas também à nossa imagem lá fora. Mas é este 1% que faz barulho, que tem representantes no Congresso, que está lá para fazer lei para ampliar o desmatamento, lei para amnistiar ocupação ilegal», disse Rosa, um dos autores do relatório da MapBiomas, em entrevista à Amazônia Real. Líder de Conversão Zero do WWF-Brasil – um dos parceiros institucionais da MapBiomas –, Frederico Machado avalia que a fragilidade dos trabalhos de fiscalização em campo por causa da pandemia foi apenas mais uma oportunidade encontrada para o avanço da desflorestação. «O crime não pára. É até incentivado pela redução da fiscalização. Por falas das nossas autoridades, propondo legislação no sentido oposto ao controle da destruição ambiental. Há o desmantelamento das nossas agências ambientais. Isso tudo é muito grave, e a pandemia foi mais um momento de oportunidade», disse Machado. Entre os cinco biomas brasileiros, a Amazónia concentrou 60,9% da área desmatada no país em 2020. Segue-se o Cerrado (31%), a Caatinga (4,4%), o Pantanal e a Mata Atlântica, ambos com 1,7%, e o Pampa (0,1%). Entre os 27 estados da federação, os que compõem a Amazónia Legal lideram o ranking do desmatamento. Só no Pará, registou-se mais de um quarto (26,4%) da desflorestação detectada em todo o país. Seguem-se Mato Grosso (12,9%), Maranhão (12,1%), Amazonas (9,2%) e Rondónia (8,3%). Tanto Mato Grosso quanto o Maranhão integram outros biomas – Cerrado e Pantanal, no primeiro caso, e Cerrado, no segundo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A desflorestação funciona como um efeito dominó, repercutindo-se no que resta da floresta. O estudo demonstra que em qualquer área em que, por queimada ou abate, se verifique uma percentagem de desflorestação superior a 30%, toda a floresta circundante perde a sua capacidade de absorver CO2. A recolha de dados decorreu entre 2010 e 2018, utilizando pequenos aviões, de duas em duas semanas, para recolher mais de 600 amostras a uma altitude de 4500 metros. A investigação constatou que a pegada carbónica da floresta é de 1.5 biliões de toneladas, das quais só um terço volta a ser reabsorvida pela Amazónia. Esta quantidade de poluição é equivalente à produzida pelo Japão, o quinto maior poluente. A destruição de floresta está directamente relacionada com o aumento da temperatura na área e, consequentemente, o agravar das situações de seca, mais severa e com mais consequências na vida vegetal e animal. Outro estudo, dinamizado por um conjunto alargado de cientistas e publicado em Abril, recolheu dados sobre a capacidade de absorção de dióxido de carbono em 300 mil árvores da Amazónia, ao longo de 30 anos, tendo chegado a conclusões em tudo semelhantes, mesmo partindo de um método de recolha de dados totalmente diferente. O estudo demonstra que, só na última década, a floresta reduziu em 20% a sua capacidade de retenção de CO2. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O nível do mar parece também destinado a aumentar significativamente nas próximas décadas, 50cm até ao final do século. Neste caso, as piores expectativas apontam para uma subida de dois metros até 2200, o dobro da pior previsão feita em 2019. O enfraquecimento dos mais importantes absorvedores de gases de efeito de estufa, CO2 e Metano, contribui invariavelmente para o advento de novos cenários catastróficos para o clima no planeta. Para a organização não governamental Oxfam, dedicada à erradicação da pobreza, o artigo é também explícito no contributo dos países mais ricos para o agravamento da situação climática: «A população correspondente ao 1% mais rico do mundo, aproximadamente 63 milhões de pessoas, é responsável por mais do dobro da poluição carbónica que os 3,1 mil milhões que compõem a metade mais pobre da humanidade». Contudo, é esta pequena percentagem, com «dinheiro e poder, que vai poder comprar alguma protecção contra os efeitos do aquecimento global, ao contrário da população desprivilegiada». Mas o relatório do IPCC é claro – «não o conseguirão fazer para sempre». A Oxfam exorta os países mais ricos a pagar a sua «dívida climática aos países em desenvolvimento, aumentando o financiamento destinado à adaptação aos efeitos das alterações climáticas e para a transição para energias limpas». Xie Zhenhua, enviado especial Chinês para as questões do clima, proferiu declarações semelhantes numa reunião sobre este assunto no início de Agosto. Os países mais ricos experienciaram um período de industrialização de mais de 200 anos, não se podendo esperar que os países em desenvolvimento atijam as metas para a descarbonização no mesmo período de tempo. «Num tão curto espaço de tempo, a China enfrenta ainda muitas dificuldades e desafios para atingir a descarbonização», afirma Zhenhua, lembrando que, mesmo assim, o projecto do governo Chinês prevê atingir a neutralidade carbónica em 2060, 15 anos mais cedo do que as previsões dos Estados Unidos e 30 anos antes da União Europeia. O comunicado da Oxfam exige que os países mais ricos «cumpram a sua promessa de entregar 100 mil milhões anuais para ajudar os países pobres a combater as alterações climáticas», denunciando ainda que, até agora, não só não o fizeram como sobre-inflacionaram as suas contribuições, que a organização estima terem sido três vezes menos do que anunciado. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «As emissões dos 10% mais ricos do planeta são, por si só, o suficiente para ultrapassar a meta estabelecida pelo acordo de Paris, independentemente daquilo que os restantes 90% façam», informa o comunicado de imprensa da Oxfam, organização não governamental dedicada à erradicação da pobreza. Para atingir o objectivo de limitar o aumento da temperatura a 1.5ºC de aquecimento, até 2030, «as promessas já não são suficientes». Em média, a população mundial teria de reduzir para metade a sua pegada, cerca de 2.3 toneladas de CO2 por ano até 2030. Nafkote Dabi, responsável pela política climática da Oxfam, considera absurda a forma como a sociedade parece ignorar os abusos da elite bilionária: «As suas emissões sobredimensionais estão a inflamar eventos climáticos extremos em todo o mundo, para além de porem em causa os esforços internacionais para limitar o aquecimento global». Pequenos demais para tão grandes problemas. Pela primeira vez as alterações climáticas serão analisadas, pela UNICEF, em função do risco que correm as crianças em todos os países do mundo. Um relatório da UNICEF, «Index de risco climático para as crianças», desenvolvido em parceria com movimento juvenil Fridays for Future, chama a atenção para os riscos e vulnerabilidades a que as mais de duas mil milhões de crianças estão expostas, face aos impactos das alterações climáticas no mundo. Com o objectivo de ajudar «à priorização da acção em prol daqueles que mais se encontram em situação de risco», o relatório tem por base a análise de dados geográficos, estabelecendo um ranking de países em função dos perigos que a sua população infantil enfrenta. Os principais perigos provocados pelas alterações climáticas, identificados neste relatório, são as ondas de calor, ciclones, inundações fluviais ou costeiras (alterações repentinas); escassez de água e exposição a doenças (alterações lentas e a longo prazo); e a exposição à poluição do ar e da poluição com chumbo (degradação ambiental). Relatório de instituição intergovernamental traça um retrato negro sobre as consequências das alterações climáticas, mas a responsabilidade dos 1% mais ricos do planeta é convenientemente esquecida, acusa Oxfam. O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, conhecido por IPCC na sigla em inglês, é categórico nas conclusões da sua investigação. O planeta vai mesmo aquecer pelo menos 1,5ºC, isto nas perspectivas mais positivas, até 2030, dez anos mais cedo do que o esperado. A floresta tropical da Amazónia, no Brasil, passou a emitir mais dióxido de carbono do que aquele que consegue absorver. É a primeira vez, desde que há registos, que esta situação se verifica. As conclusões do artigo publicado ontem na revista científica Nature são categóricas: Os incêndios e queimadas que destroem, todos os anos, milhares de hectares da floresta tropical, muitas provocadas deliberadamente com o objectivo de libertar terreno para a exploração agrícola ou pecuária, assim como o abate de árvores, roubou à Amazónia a sua qualidade respiratória. Ambientalistas sublinham que o «crime» é «incentivado pela redução da fiscalização» e directamente pelas autoridades, ao proporem legislação no sentido oposto ao controlo da destruição ambiental. «A cada hora, a Amazónia brasileira perdeu 96 hectares da sua cobertura florestal no ano de 2020. Ao fim de um dia, foram desmatados 2309 hectares. Nesse ritmo, ao terminar de ler esta reportagem, o equivalente a 32 campos de futebol da floresta amazónica terão sido devastados», lê-se no portal Amazônia Real, que se refere aos dados divulgados na passada sexta-feira pela MapBiomas. Em 2020, ano marcado pelos efeitos da pandemia da Covid-19, o desmatamento da maior floresta tropical do mundo aumentou 9% em relação a 2019. De cada dez hectares desflorestados no Brasil, seis tiveram lugar na Amazónia, com a devastação a atingir os 842 983 hectares. Para o Amazônia Real, o governo de Bolsonaro levou a sério o «passar a boiada» (actualizar/flexibilizar normas, no caso, para o avanço do agronegócio) defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que é investigado por crime ambiental e enriquecimento ilícito. O segundo Relatório Anual do Desmatamento 2020, elaborado pelo MapBiomas, mostra que, no Brasil, entre Janeiro e Dezembro, foram emitidos 74 218 alertas de desmatamento para uma área superior a 1,3 milhão de hectares. Por comparação com 2019, o aumento da área abrangida foi de 14%. A MapBiomas, iniciativa que integra diversas entidades dedicadas a estudos e acções de protecção ambiental, verificou que 99% de todo o desmatamento do país sul-americano ocorreu de forma ilegal, ou seja, sem a devida autorização dos órgãos ambientais. Nem mesmo áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas, escaparam da acção dos prevaricadores. Os alertas de desmatamento da floresta amazónica indicaram uma área de 8426 quilómetros quadrados em 2020, o equivalente a cerca de cinco cidades de São Paulo. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na sexta-feira passada e foram registados pelo projecto Deter-B, que indica praticamente em tempo real a localização de acções ilegais em zonas preservadas. A área devastada na Amazónia em 2020 – 8426 quilómetros quadrados – corresponde ao segundo pior índice da série histórica do Deter, que começou a operar em 2015; só é suplantada por 2019, primeiro ano de governação de Jair Bolsonaro, em que foi desflorestada uma área de 9178 quilómetros quadrados. Ou seja, nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, a área desflorestada na Amazónia é 82% superior, em média, à dos três anos anteriores. Mesmo com a redução de 8% de 2019 para 2020, a média de área desmatada nestes dois anos é de 8802 quilómetros quadrados, bem acima da registada entre 2016 e 2018: 4844 quilómetros quadrados, informa o Portal Vermelho. Numa nota à imprensa, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, comentou estes dados afirmando que «Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele». «As queimadas, tanto na Amazónia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo actual governo», sublinhou. Já no início de Dezembro, quando veio a público que a devastação da Amazónia batia recordes no Brasil, o Observatório dirigiu duras críticas ao governo brasileiro, tendo emitido uma nota em que denunciava que os números cumprem «um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazónia». Por seu lado, Rômulo Batista, porta-voz da Campanha Amazônia da Greenpeace, disse que aquilo a que se tem assistido nos últimos dois anos é um desmantelamento de «todas as políticas e conquistas ambientais feitas desde a redemocratização do país». Em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que «Bolsonaro vê o meio ambiente como um entrave económico» e que tanto ele como os seus ministros «apostam na abertura de terras indígenas para mineração e no desmatamento para o aumento da produção agrícola». Destacou que o «desmatamento não traz riqueza» e lembrou que a «ciência aponta que a Amazónia está muito próxima de um ponto de "não retorno" também chamado de ponto de "inflexão", que é quando a floresta perde a capacidade da sua automanutenção». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Marcos Reis Rosa, doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo, afirma que, tendo em conta as informações disponíveis em bancos de dados como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), é possível identificar o autor em qualquer desmatamento ocorrido no Brasil. Dos mais de 5,5 milhões de imóveis rurais cadastrados no Brasil, sublinha, houve registo de desflorestação em apenas 0,99%. «Só um por cento teve desmatamento, o que bastou para fazer este estrago não só ao meio ambiente mas também à nossa imagem lá fora. Mas é este 1% que faz barulho, que tem representantes no Congresso, que está lá para fazer lei para ampliar o desmatamento, lei para amnistiar ocupação ilegal», disse Rosa, um dos autores do relatório da MapBiomas, em entrevista à Amazônia Real. Líder de Conversão Zero do WWF-Brasil – um dos parceiros institucionais da MapBiomas –, Frederico Machado avalia que a fragilidade dos trabalhos de fiscalização em campo por causa da pandemia foi apenas mais uma oportunidade encontrada para o avanço da desflorestação. «O crime não pára. É até incentivado pela redução da fiscalização. Por falas das nossas autoridades, propondo legislação no sentido oposto ao controle da destruição ambiental. Há o desmantelamento das nossas agências ambientais. Isso tudo é muito grave, e a pandemia foi mais um momento de oportunidade», disse Machado. Entre os cinco biomas brasileiros, a Amazónia concentrou 60,9% da área desmatada no país em 2020. Segue-se o Cerrado (31%), a Caatinga (4,4%), o Pantanal e a Mata Atlântica, ambos com 1,7%, e o Pampa (0,1%). Entre os 27 estados da federação, os que compõem a Amazónia Legal lideram o ranking do desmatamento. Só no Pará, registou-se mais de um quarto (26,4%) da desflorestação detectada em todo o país. Seguem-se Mato Grosso (12,9%), Maranhão (12,1%), Amazonas (9,2%) e Rondónia (8,3%). Tanto Mato Grosso quanto o Maranhão integram outros biomas – Cerrado e Pantanal, no primeiro caso, e Cerrado, no segundo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A desflorestação funciona como um efeito dominó, repercutindo-se no que resta da floresta. O estudo demonstra que em qualquer área em que, por queimada ou abate, se verifique uma percentagem de desflorestação superior a 30%, toda a floresta circundante perde a sua capacidade de absorver CO2. A recolha de dados decorreu entre 2010 e 2018, utilizando pequenos aviões, de duas em duas semanas, para recolher mais de 600 amostras a uma altitude de 4500 metros. A investigação constatou que a pegada carbónica da floresta é de 1.5 biliões de toneladas, das quais só um terço volta a ser reabsorvida pela Amazónia. Esta quantidade de poluição é equivalente à produzida pelo Japão, o quinto maior poluente. A destruição de floresta está directamente relacionada com o aumento da temperatura na área e, consequentemente, o agravar das situações de seca, mais severa e com mais consequências na vida vegetal e animal. Outro estudo, dinamizado por um conjunto alargado de cientistas e publicado em Abril, recolheu dados sobre a capacidade de absorção de dióxido de carbono em 300 mil árvores da Amazónia, ao longo de 30 anos, tendo chegado a conclusões em tudo semelhantes, mesmo partindo de um método de recolha de dados totalmente diferente. O estudo demonstra que, só na última década, a floresta reduziu em 20% a sua capacidade de retenção de CO2. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O nível do mar parece também destinado a aumentar significativamente nas próximas décadas, 50cm até ao final do século. Neste caso, as piores expectativas apontam para uma subida de dois metros até 2200, o dobro da pior previsão feita em 2019. O enfraquecimento dos mais importantes absorvedores de gases de efeito de estufa, CO2 e Metano, contribui invariavelmente para o advento de novos cenários catastróficos para o clima no planeta. Para a organização não governamental Oxfam, dedicada à erradicação da pobreza, o artigo é também explícito no contributo dos países mais ricos para o agravamento da situação climática: «A população correspondente ao 1% mais rico do mundo, aproximadamente 63 milhões de pessoas, é responsável por mais do dobro da poluição carbónica que os 3,1 mil milhões que compõem a metade mais pobre da humanidade». Contudo, é esta pequena percentagem, com «dinheiro e poder, que vai poder comprar alguma protecção contra os efeitos do aquecimento global, ao contrário da população desprivilegiada». Mas o relatório do IPCC é claro – «não o conseguirão fazer para sempre». A Oxfam exorta os países mais ricos a pagar a sua «dívida climática aos países em desenvolvimento, aumentando o financiamento destinado à adaptação aos efeitos das alterações climáticas e para a transição para energias limpas». Xie Zhenhua, enviado especial Chinês para as questões do clima, proferiu declarações semelhantes numa reunião sobre este assunto no início de Agosto. Os países mais ricos experienciaram um período de industrialização de mais de 200 anos, não se podendo esperar que os países em desenvolvimento atijam as metas para a descarbonização no mesmo período de tempo. «Num tão curto espaço de tempo, a China enfrenta ainda muitas dificuldades e desafios para atingir a descarbonização», afirma Zhenhua, lembrando que, mesmo assim, o projecto do governo Chinês prevê atingir a neutralidade carbónica em 2060, 15 anos mais cedo do que as previsões dos Estados Unidos e 30 anos antes da União Europeia. O comunicado da Oxfam exige que os países mais ricos «cumpram a sua promessa de entregar 100 mil milhões anuais para ajudar os países pobres a combater as alterações climáticas», denunciando ainda que, até agora, não só não o fizeram como sobre-inflacionaram as suas contribuições, que a organização estima terem sido três vezes menos do que anunciado. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Metade da população infantil mundial (cerca de mil milhões de crianças), está directamente exposta, em razão do País em que habita, à influência de fenómenos climatéricos extremos. A grande maioria destes países «de maior risco, são os que menos contribuem para as causas das alterações climáticas». Os 33 países com risco extremamente alto «emitem menos de dez por cento do total dos gases de efeito estufa do mundo». Os dados apresentados traçam um cenário dramático. «820 milhões de crianças (mais de um terço do total de crianças no mundo) estão actualmente expostas a ondas de calor», ao mesmo passo que 920 milhões de crianças estão directamente expostas à escassez de água. 90% das crianças do mundo vivem em ambientes com um elevado grau de poluição do ar, enquanto mais de 800 milhões estão em contacto permanente com ambientes contaminados por chumbo, na água, ar, solo e na comida. A transição energética deve ser acompanhada de um processo de reindustrialização, e não do encerramento de unidades industriais, por forma a garantir os postos de trabalho e a sustentabilidade social. Em comunicado divulgado pela comissão central de trabalhadores da Petrogal, esta defende que a salvaguarda do planeta só faz sentido «num quadro de progresso social e económico», pelo que a chamada «transição energética» deve ser «socialmente responsável». Amplamente difundida nos meios de comunicação social e impulsionada em larga medida pelo Governo, a «transição energética» ou a «descarbonização» centram o problema na redução e eliminação das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, suportada num consenso maioritário da comunidade científica sobre o impacto negativo daquelas emissões para o agravamento do aquecimento global. A comissão de trabalhadores refere que «o aplauso de algumas associações ambientalistas e de alguns partidos» à antecipação do encerramento da central termoeléctrica de Sines para Janeiro de 2021 revela uma «visão apocalíptica» que apenas pretende justificar medidas que põem em causa a independência energética. Exemplo disso são as declarações que sugerem uma substituição de emissões a partir de Portugal por outras oriundas de Marrocos em que não se pretende diminuir as emissões globais mas apenas «fazer batota» para manipular os números da União Europeia, afirmam os representantes dos trabalhadores. «O Governo continua a pôr em causa, de forma totalmente inaceitável e irresponsável, a independência energética do País e a destruir centenas de postos de trabalho», pode ler-se no comunicado. No documento afirma-se ainda que a transição energética «não pode surgir contra os trabalhadores», pelo que a preservação dos postos de trabalho deve ser «o elemento central para o pretendido desenvolvimento sustentável». «A transição energética deve surgir numa perspectiva integrada e de fileira com aproveitamento de todos os recursos disponíveis, e com a alavancagem dos investimentos em tecnologias (...) para concretizar a descarbonização e garantir [que é] sustentável e socialmente responsável», afirma a comissão de trabalhadores. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Um combate eficaz contra a pobreza, o investimento em infraestruturas de serviços de acesso a água, saneamento e higiene, a criação de estruturas de apoio médico e nutritivo e o combate ao analfabetismo poderiam diminuir significativamente o risco para centenas de milhões de crianças. Cada um destes progressos isoladamente significaria uma diminuição de 310, 415, 460 e 275 milhões de crianças, respectivamente, se focarmos individualmente cada uma destas áreas de intervenção. A República Centro Africana, o Chade e a Nigéria estão no topo da lista de países mais vulneráveis. Angola e Moçambique partilham, com Madagáscar e os Camarões a 10.ª posição do ranking. Os primeiros países Europeus na lista estão na posição 102, França, Itália e Roménia. Portugal está na posição 135, representando um risco médio-baixo para a sua população infantil. Apenas seis países têm um risco baixo de sofrer consequências graves das alterações climáticas na sua população infantil: Suécia, Estónia, Finlândia, Nova Zelândia, Luxemburgo e, no fundo da tabela, a Islândia. Estes dados não implicam que os efeitos do aquecimento global sejam neutros nos países com um risco baixo, ou médio-baixo, tão somente que estão melhor equipados economicamente e posicionados geográficamente para dar uma melhor resposta aos fenómenos que se agudizarão nas suas áreas geográficas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. É o suficiente para provocar «efeitos catastróficos para a população mais vulnerável no planeta, que já enfrenta, hoje em dia, tempestades mortíferas, fome e miséria». As discrepâncias são gritantes. Em 2030, a metade mais pobre da população mundial vai continuar com um rácio de produção de carbono significativamente abaixo da média de 2.3 toneladas, enquanto uma única pessoa, pertencente ao 1% mais rico, terá de reduzir a sua pegada em 97%, isto só para chegar à média no final da década. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Maiores poluidores sofrem menos
Trabalho|
Transição energética deve ter preocupações sociais
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O opulento post mereceu mais de 42 000 comentários irados dos seguidores da dita celebridade, que na maioria sublinhavam a contradição entre os negócios veganos e a poluição real. «Parte-me a cabeça que Kylie Jenner e o noivo passem o tempo a escolher em que jacto privado vão usar para as suas saídas na Califórnia enquanto nós, os pobres, reciclamos caricas de gasosas para salvar o mundo», ironizava um comentário.
A conta de Twitter Celebrity Jets que monitoriza as viagens em jacto privado de ricos e famosos lançou mais achas para a fogueira, ao mostrar, num tweet, que no dia da fotografia do post do Instagram, o casal tinha optado pelo avião do rapper para fazer uma deslocação ente Van Nuys e Camarillo, na Califórnia, um voo de 12 minutos, numa distância que poderia ter sido, segundo o Google Maps, feita de carro em 40 minutos, com uma infinitamente menor pegada ecológica.
Graças a esta conta é também possível saber que dias antes, a irmã mais velha de Kylie, tinha feito dias antes um voo de 15 minutos, gastando nesse trajecto, 442 litros de combustível e emitindo uma tonelada de dióxido carbono ( CO₂).
A Celebrity Jets também mostrou que o rapper Drake não tem conseguir estar parado, este Verão, no Sul da Europa. Viajou no seu jacto, em apenas uma semana, de Barcelona para Ibiza (emitindo 11 toneladas de CO₂), de Ibiza para Nice (22 toneladas) e de Nice para Barcelona (16 toneladas).
De acordo com Celebrity Jets, Oprah Winfrey, Steven Spielberg, Jay Z, Mark Wahlberg ou Taylor Swift são algumas das celebridades que também optaram por este meio de transporte no último mês.
Segundo um relatório do grupo Transport&Environment, os aviões privados poluem, por passageiro, 10 vezes mais que os aviões comerciais e 50 vezes mais que os comboios.
Portugal tem mais jactos privados que Espanha e Itália
Uma análise realizada pela Colibri Aircraft mostra que o registo de jactos privados, no espaço da Europa Ocidental, cresceu para 2444 aeronaves em 2021, comparado com os 2414 de 2020 e 2344 de 2019.
Relatório de instituição intergovernamental traça um retrato negro sobre as consequências das alterações climáticas, mas a responsabilidade dos 1% mais ricos do planeta é convenientemente esquecida, acusa Oxfam. O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, conhecido por IPCC na sigla em inglês, é categórico nas conclusões da sua investigação. O planeta vai mesmo aquecer pelo menos 1,5ºC, isto nas perspectivas mais positivas, até 2030, dez anos mais cedo do que o esperado. A floresta tropical da Amazónia, no Brasil, passou a emitir mais dióxido de carbono do que aquele que consegue absorver. É a primeira vez, desde que há registos, que esta situação se verifica. As conclusões do artigo publicado ontem na revista científica Nature são categóricas: Os incêndios e queimadas que destroem, todos os anos, milhares de hectares da floresta tropical, muitas provocadas deliberadamente com o objectivo de libertar terreno para a exploração agrícola ou pecuária, assim como o abate de árvores, roubou à Amazónia a sua qualidade respiratória. Ambientalistas sublinham que o «crime» é «incentivado pela redução da fiscalização» e directamente pelas autoridades, ao proporem legislação no sentido oposto ao controlo da destruição ambiental. «A cada hora, a Amazónia brasileira perdeu 96 hectares da sua cobertura florestal no ano de 2020. Ao fim de um dia, foram desmatados 2309 hectares. Nesse ritmo, ao terminar de ler esta reportagem, o equivalente a 32 campos de futebol da floresta amazónica terão sido devastados», lê-se no portal Amazônia Real, que se refere aos dados divulgados na passada sexta-feira pela MapBiomas. Em 2020, ano marcado pelos efeitos da pandemia da Covid-19, o desmatamento da maior floresta tropical do mundo aumentou 9% em relação a 2019. De cada dez hectares desflorestados no Brasil, seis tiveram lugar na Amazónia, com a devastação a atingir os 842 983 hectares. Para o Amazônia Real, o governo de Bolsonaro levou a sério o «passar a boiada» (actualizar/flexibilizar normas, no caso, para o avanço do agronegócio) defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que é investigado por crime ambiental e enriquecimento ilícito. O segundo Relatório Anual do Desmatamento 2020, elaborado pelo MapBiomas, mostra que, no Brasil, entre Janeiro e Dezembro, foram emitidos 74 218 alertas de desmatamento para uma área superior a 1,3 milhão de hectares. Por comparação com 2019, o aumento da área abrangida foi de 14%. A MapBiomas, iniciativa que integra diversas entidades dedicadas a estudos e acções de protecção ambiental, verificou que 99% de todo o desmatamento do país sul-americano ocorreu de forma ilegal, ou seja, sem a devida autorização dos órgãos ambientais. Nem mesmo áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas, escaparam da acção dos prevaricadores. Os alertas de desmatamento da floresta amazónica indicaram uma área de 8426 quilómetros quadrados em 2020, o equivalente a cerca de cinco cidades de São Paulo. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na sexta-feira passada e foram registados pelo projecto Deter-B, que indica praticamente em tempo real a localização de acções ilegais em zonas preservadas. A área devastada na Amazónia em 2020 – 8426 quilómetros quadrados – corresponde ao segundo pior índice da série histórica do Deter, que começou a operar em 2015; só é suplantada por 2019, primeiro ano de governação de Jair Bolsonaro, em que foi desflorestada uma área de 9178 quilómetros quadrados. Ou seja, nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, a área desflorestada na Amazónia é 82% superior, em média, à dos três anos anteriores. Mesmo com a redução de 8% de 2019 para 2020, a média de área desmatada nestes dois anos é de 8802 quilómetros quadrados, bem acima da registada entre 2016 e 2018: 4844 quilómetros quadrados, informa o Portal Vermelho. Numa nota à imprensa, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, comentou estes dados afirmando que «Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele». «As queimadas, tanto na Amazónia quanto no Pantanal, também cresceram por dois anos consecutivos. Não é coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo actual governo», sublinhou. Já no início de Dezembro, quando veio a público que a devastação da Amazónia batia recordes no Brasil, o Observatório dirigiu duras críticas ao governo brasileiro, tendo emitido uma nota em que denunciava que os números cumprem «um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazónia». Por seu lado, Rômulo Batista, porta-voz da Campanha Amazônia da Greenpeace, disse que aquilo a que se tem assistido nos últimos dois anos é um desmantelamento de «todas as políticas e conquistas ambientais feitas desde a redemocratização do país». Em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que «Bolsonaro vê o meio ambiente como um entrave económico» e que tanto ele como os seus ministros «apostam na abertura de terras indígenas para mineração e no desmatamento para o aumento da produção agrícola». Destacou que o «desmatamento não traz riqueza» e lembrou que a «ciência aponta que a Amazónia está muito próxima de um ponto de "não retorno" também chamado de ponto de "inflexão", que é quando a floresta perde a capacidade da sua automanutenção». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Marcos Reis Rosa, doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo, afirma que, tendo em conta as informações disponíveis em bancos de dados como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), é possível identificar o autor em qualquer desmatamento ocorrido no Brasil. Dos mais de 5,5 milhões de imóveis rurais cadastrados no Brasil, sublinha, houve registo de desflorestação em apenas 0,99%. «Só um por cento teve desmatamento, o que bastou para fazer este estrago não só ao meio ambiente mas também à nossa imagem lá fora. Mas é este 1% que faz barulho, que tem representantes no Congresso, que está lá para fazer lei para ampliar o desmatamento, lei para amnistiar ocupação ilegal», disse Rosa, um dos autores do relatório da MapBiomas, em entrevista à Amazônia Real. Líder de Conversão Zero do WWF-Brasil – um dos parceiros institucionais da MapBiomas –, Frederico Machado avalia que a fragilidade dos trabalhos de fiscalização em campo por causa da pandemia foi apenas mais uma oportunidade encontrada para o avanço da desflorestação. «O crime não pára. É até incentivado pela redução da fiscalização. Por falas das nossas autoridades, propondo legislação no sentido oposto ao controle da destruição ambiental. Há o desmantelamento das nossas agências ambientais. Isso tudo é muito grave, e a pandemia foi mais um momento de oportunidade», disse Machado. Entre os cinco biomas brasileiros, a Amazónia concentrou 60,9% da área desmatada no país em 2020. Segue-se o Cerrado (31%), a Caatinga (4,4%), o Pantanal e a Mata Atlântica, ambos com 1,7%, e o Pampa (0,1%). Entre os 27 estados da federação, os que compõem a Amazónia Legal lideram o ranking do desmatamento. Só no Pará, registou-se mais de um quarto (26,4%) da desflorestação detectada em todo o país. Seguem-se Mato Grosso (12,9%), Maranhão (12,1%), Amazonas (9,2%) e Rondónia (8,3%). Tanto Mato Grosso quanto o Maranhão integram outros biomas – Cerrado e Pantanal, no primeiro caso, e Cerrado, no segundo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A desflorestação funciona como um efeito dominó, repercutindo-se no que resta da floresta. O estudo demonstra que em qualquer área em que, por queimada ou abate, se verifique uma percentagem de desflorestação superior a 30%, toda a floresta circundante perde a sua capacidade de absorver CO2. A recolha de dados decorreu entre 2010 e 2018, utilizando pequenos aviões, de duas em duas semanas, para recolher mais de 600 amostras a uma altitude de 4500 metros. A investigação constatou que a pegada carbónica da floresta é de 1.5 biliões de toneladas, das quais só um terço volta a ser reabsorvida pela Amazónia. Esta quantidade de poluição é equivalente à produzida pelo Japão, o quinto maior poluente. A destruição de floresta está directamente relacionada com o aumento da temperatura na área e, consequentemente, o agravar das situações de seca, mais severa e com mais consequências na vida vegetal e animal. Outro estudo, dinamizado por um conjunto alargado de cientistas e publicado em Abril, recolheu dados sobre a capacidade de absorção de dióxido de carbono em 300 mil árvores da Amazónia, ao longo de 30 anos, tendo chegado a conclusões em tudo semelhantes, mesmo partindo de um método de recolha de dados totalmente diferente. O estudo demonstra que, só na última década, a floresta reduziu em 20% a sua capacidade de retenção de CO2. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O nível do mar parece também destinado a aumentar significativamente nas próximas décadas, 50cm até ao final do século. Neste caso, as piores expectativas apontam para uma subida de dois metros até 2200, o dobro da pior previsão feita em 2019. O enfraquecimento dos mais importantes absorvedores de gases de efeito de estufa, CO2 e Metano, contribui invariavelmente para o advento de novos cenários catastróficos para o clima no planeta. Para a organização não governamental Oxfam, dedicada à erradicação da pobreza, o artigo é também explícito no contributo dos países mais ricos para o agravamento da situação climática: «A população correspondente ao 1% mais rico do mundo, aproximadamente 63 milhões de pessoas, é responsável por mais do dobro da poluição carbónica que os 3,1 mil milhões que compõem a metade mais pobre da humanidade». Contudo, é esta pequena percentagem, com «dinheiro e poder, que vai poder comprar alguma protecção contra os efeitos do aquecimento global, ao contrário da população desprivilegiada». Mas o relatório do IPCC é claro – «não o conseguirão fazer para sempre». A Oxfam exorta os países mais ricos a pagar a sua «dívida climática aos países em desenvolvimento, aumentando o financiamento destinado à adaptação aos efeitos das alterações climáticas e para a transição para energias limpas». Xie Zhenhua, enviado especial Chinês para as questões do clima, proferiu declarações semelhantes numa reunião sobre este assunto no início de Agosto. Os países mais ricos experienciaram um período de industrialização de mais de 200 anos, não se podendo esperar que os países em desenvolvimento atijam as metas para a descarbonização no mesmo período de tempo. «Num tão curto espaço de tempo, a China enfrenta ainda muitas dificuldades e desafios para atingir a descarbonização», afirma Zhenhua, lembrando que, mesmo assim, o projecto do governo Chinês prevê atingir a neutralidade carbónica em 2060, 15 anos mais cedo do que as previsões dos Estados Unidos e 30 anos antes da União Europeia. O comunicado da Oxfam exige que os países mais ricos «cumpram a sua promessa de entregar 100 mil milhões anuais para ajudar os países pobres a combater as alterações climáticas», denunciando ainda que, até agora, não só não o fizeram como sobre-inflacionaram as suas contribuições, que a organização estima terem sido três vezes menos do que anunciado. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Pequeno passo para poucos homens, uma pegada gigante para a humanidade
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A Amazónia já não é o pulmão do mundo
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Amazónia perdeu quase 100 hectares de floresta por hora em 2020
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Desflorestação no período de Bolsonaro é 82% superior aos anos anteriores
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«O crime não pára»
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Os dados dessa empresa especializada na comercialização, revenda e compra de aeronaves particulares usadas, revela que a Alemanha possui a maior frota, com um registo de 485 aeronaves, seguida pelo Reino Unido (incluindo Ilha de Man, Guernsey e Jersey) com 453.
Portugal aparece com 128 jactos privados, à frente de países como a Suíça, Itália ou Espanha, um sinal dos níveis de riqueza e desigualdade no nosso pais.
Os aviões privados representam o maior gasto de energia por passageiro, mas os super-poluidores não são apenas os proprietários dos cerca de 22.295 jactos privados, 14241 aviões a hélice e 19291 helicópteros que, segundo o estudo, existiam, em 2020, em todo o mundo, mas também os viajantes que utilizam aviões comerciais com frequência.
Para além da crise ambiental, as alterações climáticas colocam as suas chocantes desigualdades perante a humanidade. Um novo estudo publicado na revista Global Environmental Change, citado por o El País, estima que 1% da população mundial é responsável por mais de metade das emissões de aquecimento global da aviação de passageiros. O investigador Stefan Gössling, professor na Escola de Negócios da Universidade Linnaeus na Suécia e principal autor do trabalho, mostra, embora grande parte da humanidade nunca tenha estado num avião, há uma pequena proporção de super-poluidores que estão constantemente a voar comercialmente ou mesmo a ter os seus próprios jactos privados.
Para dar um rosto a estes grandes emissores, Gössling calculou mesmo as distâncias percorridas por avião por celebridades como Hillary Clinton (1,5 milhões de quilómetros, o equivalente a 38 vezes à volta da Terra, nos quatro anos em que foi secretária de Estado dos EUA), Bill Gates (343446 km, em 2017) ou Paris Hilton (275755 km, em 2017). No entanto, não se trata apenas de uma questão de celebridades, nem se limita apenas aos voos.
Na realidade, este enorme desequilíbrio na forma como poluímos está ligado à utilização de energia e aos níveis de rendimento. Num estudo de 2015, os economistas franceses Thomas Piketty e Lucas Chancel realçaram as enormes diferenças entre os habitantes do mundo e as emissões que provocam as alterações climáticas em geral. Embora se estime que, em média, um africano emite apenas duas toneladas de CO₂ por ano, um europeu cerca de oito e um americano 20, este trabalho salientou que existe uma parte da população espalhada pelos diferentes continentes que excede em muito estas quantidades. Piketty e Chancel chamaram a atenção para o 1% das pessoas mais ricas dos Estados Unidos, Luxemburgo, Singapura, Arábia Saudita e Canadá, que excedem 200 toneladas de CO₂ por pessoa por ano. No caso dos EUA, os economistas estimaram que este 1% corresponde a 3,16 milhões de indivíduos que emitem cada um mais de 318 toneladas de CO₂ por ano: 2500 vezes mais do que as pessoas que vivem nas Honduras, Moçambique ou Ruanda.
Os voos privados crescem exponencialmente
Enquanto o debate sobre sustentabilidade se centra noutros sectores da aviação comercial, o transporte em jacto privado tem crescido exponencialmente. Mesmo a pandemia provou ser um poderoso aliado para o aumento dos voos privados. De acordo com um estudo da Transport & Environment, em Agosto de 2020, enquanto os voos comerciais tinham diminuído 60% de ano para ano, o tráfego de jactos privados tinha regressado aos níveis pré-pandémicos. A sensação de maior segurança contra um possível contágio e, sobretudo, a ausência de restrições aos voos privados significou que muitos indivíduos e empresas abastadas optaram por alugar ou comprar jactos para as suas viagens. Em 2020, 703 jactos privados foram vendidos em todo o mundo, em comparação com 677 em 2019.
Da COP26 já ninguém fala. E afinal, para que serviu? Quais são os compromissos assumidos pelo governo português e como chegou a eles? Como vai dar-se andamento a eles no nosso país? Ou foi tudo encenação? Da COP26, importa continuar a valorizar essencialmente a sã discussão que privilegie os resultados do estudo científico e os dados da realidade. Os relatórios do Painel Intergovernamental para as Mudanças climáticas (IPCC, a partir da sua denominação em inglês) são para arquivar na cesta secção… Mas hoje gostaria de abordar três questões. Uma primeira questão refere-se a considerações reinantes sobre energias alternativas e ao carácter antropogénico das causas das alterações climáticas. 1) Por exemplo, há quem defenda um novo paradigma de energia e transporte. Os carros sem condutor são elegantes, mas o verdadeiro progresso no transporte virá da criação de redes de recarga que tornem a recarga omnipresente para aliviar a ansiedade no seu alcance. Esses são os problemas que impedem o abandono total da condução a gasolina e um rápido declínio nas emissões de gases poluentes. Também existem outras soluções de evitar os gases «poluentes». Porém é necessário evitar as resistências, com a introdução cuidadosa da inovação. Algumas elas – as chamadas energias alternativas, como a eólica ou a fotovoltaica – pesam pouco para as necessidades, agridem ambientalmente paisagens e apoderam-se de terrenos com vocação agrícola em termos inadmissíveis. Para aqueles que querem, mesmo contra as evidências científicas, que as alterações climáticas sejam essencialmente antropogénicas, isso exige alguns compromissos complicados. Pretendem aliviar-se dos piores efeitos dessas acções humanas ao mesmo tempo que não negam a capacidade de a humanidade existir, de forma sustentada, no planeta, acaba por tornar-se um compromisso difícil. O clima sempre mudou de eras quentes e temperadas para eras glaciais. O que é diferente agora é a dimensão humana nessa mudança. Mas a relação causa-efeito de tornar a actividade humana a principal causadora dos desastres climáticos é um salto na imaginação que atropela a Ciência com algoritmos e modelos matemáticos, alheados da realidade concreta. Podemos, por exemplo, converter a economia a uma base eléctrica e podemos remover o carbono do meio ambiente, mas também precisamos de estabilizar a população humana, garantindo recursos e empregos para todas as pessoas. A energia, transporte e comida são hoje actividades para fazer muito dinheiro e os governos devem preocupar-se com a definição de padrões que garantam quantidades, e que devem ter em conta a necessidade de os impostos sobre o valor acrescentado acompanharem as subidas da produtividade e dos lucros. Como disse Demétrio Alves: «se, de facto, as alterações climáticas são um problema tão terrível para o planeta e para a humanidade, e se elas são devidas, de acordo com a teoria oficial, ao CO2 produzido pelas atividades económicas do coletivo humano, por que razão, há uns que suportam os custos das medidas erradicadoras ou mitigadoras (a grande maioria dos consumidores/contribuintes), enquanto outros (uma minoria de investidores/empresários) extraem fabulosos lucros com a política voluntarista que norteia uma descarbonização da sociedade e da economia feita em marcha acelerada?» Quer a China, quer a Rússia têm poderosas delegações nesta conferência, estão a conversar com as outras partes, a prepararem as posições comuns sobre diversas questões para serem assinadas. Tal como na COP25, nesta COP26 velhas ideias estão a ser traficadas, desconsiderando o esforço dos países em vias de desenvolvimento, das organizações ambientais e a discussão da calendarização do combate ao desastre ecológico e os objectivos e datas das acções que o possam conjurar. Uma dessas situações é a luta política conduzida para ajudar a criar a ideia de que se a COP26 fracassar, a responsabilidade é dos políticos que não se teriam entendido. Desde que Joe Biden foi eleito no início do ano, passou a fazer guerra à China e Rússia. Isso hoje está presente em múltiplos aspectos das relações internacionais. Biden também aproveita a oportunidade da COP26 para meter veneno. Joe Biden, no final do G20 expressou «decepção» com o facto de a Rússia e a China «não terem assumido quaisquer compromissos» para lidar com as alterações climáticas. E que, por isso, as pessoas se sentiriam desapontadas. Porém, nem os EUA nem o G20… assumiram compromissos para parar o financiamento a centrais eléctricas a carvão em países pobres e assumiram um vago compromisso de atingir a neutralidade do carbono por volta de meados do século. De facto, quer a China, quer a Rússia assumiram compromissos. E trabalharam desde a COP25 de Paris para os cumprir. Existem reflexões produzidas sobre as alterações climáticas sentidas em ambos os países, que determinaram uma série de medidas para as resolver. Biden mentiu. Mas os participantes nesta COP26 têm estes relatórios. A RTP e outros media em Portugal não se referiram a eles, enquanto insistem na mistificação e limitam-se a reproduzir sound bites de origens sem credibilidade. Quer a China, quer a Rússia têm poderosas delegações nesta conferência, estão a conversar com as outras partes, a prepararem as posições comuns sobre diversas questões para serem assinadas. Isso apesar de nem Xi-Jinping, nem Putin se terem deslocado a Glasgow por razões que foram conhecidas. Declaração, de natureza completamente diferente da de Joe Biden, foi a de Xi-Jinping na passada segunda-feira. Quando se trata de desafios globais como as mudanças climáticas, o multilateralismo é a receita certa, disse Xi destacando a importância da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), e seu Acordo de Paris. A China, o maior emissor mundial de gases de efeito estufa na actualidade, entregou oficialmente, no passado dia 28, os seus novos compromissos climáticos. Na sua nova «Contribuição Determinada em Nível Nacional (NDC, na sigla em inglês)», Pequim compromete-se a alcançar o seu pico de emissões «antes de 2030», e a neutralidade de carbono, «antes de 2060». Estas metas mantêm-se dentro do que já havia sido antecipado pelo presidente Xi Jinping. Apresentadas no site da UNFCCC, estas novas contribuições prevêem reduzir a intensidade de carbono (emissões de CO2 em relação ao PIB) em mais de 65% em relação a 2005. Na sua anterior NDC, a China comprometia-se a reduzir sua intensidade de carbono entre 60% e 65%, até 2030, e a conseguir seu pico de carbono «por volta de 2030». Neste novo contributo, Pequim lembra que os países desenvolvidos devem «assumir as suas responsabilidades históricas e continuar a assumir, com clareza, a redução de emissões». A China também se comprometeu a aumentar a participação de combustíveis não fósseis a 25% de seu consumo, contra 20% na sua NDC anterior, em particular com o aumento de sua capacidade instalada de energia solar e eólica para 1,2 bilhão de kW até 2030, assim como com o aumento florestal em 6 mil milhões de metros cúbicos em relação a 2005. «Neste novo contributo, Pequim lembra que os países desenvolvidos devem «assumir as suas responsabilidades históricas e continuar a assumir, com clareza, a redução de emissões.» A nova contribuição da China, responsável por mais de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, era, portanto, aguardada com ansiedade antes da COP26. O compromisso chinês era especialmente aguardado, depois do anúncio pela ONU, na segunda-feira, de que os novos compromissos climáticos assumidos nas últimas semanas ainda conduziriam o mundo a um aquecimento «catastrófico» de +2,7°C. Não só os EUA mentiram quanto às metas da China, só publicando as suas, englobadas nas do G20, um dia depois (29), da publicação pela ONU das da China (28), e, como tinham feito até então, tentaram traficar a mentira impondo mais um anátema contra este país. Porque não foi ainda permitido à China apresentar uma mensagem do seu presidente em vídeo? Quanto à Rússia, Vladimir Putin participa na cimeira de forma virtual, com mensagem que já foi emitida. O país é o quarto maior emissor de gases com efeito de estufa e pretende reduzir as emissões em 79% até 2050 face a 1990. Moscovo procura ainda alcançar a neutralidade carbónica até 2060. «Não só os EUA mentiram quanto às metas da China, só publicando as suas, englobadas nas do G20, um dia depois (29), da publicação pela ONU das da China (28), e, como tinham feito até então, tentaram traficar a mentira impondo mais um anátema contra este país.» Putin afirmou no G20 que a participação de fontes de energia neutras em carbono – nuclear, hidroeléctrica, eólica e solar – ultrapassou os 40% na Rússia. Se se contar com o gás natural, que entre os hidrocarbonetos tem a menor pegada de carbono, essa participação seria de 86%. É um dos melhores resultados do mundo. (Abro parêntesis para referir que a comunidade internacional pode vir a considerar como não poluentes a energia produzida pelas centrais nucleares e pelo gás natural – este com a pegada menos poluente.) Putin sugeriu que a comunidade mundial precisa de testar vários projectos climáticos em termos de seu impacto líquido nas emissões por cada dólar de investimento: «Pode muito bem acontecer que, por exemplo, a conservação das florestas na Rússia ou na América Latina seja mais eficaz do que investir em energias renováveis em algumas nações.» Ele acrescentou que a Rússia não apenas reduzirá as emissões de gases de efeito estufa na economia do país, como investirá também em os capturar por meio de projectos de reflorestamento, preservação da natureza e melhoria da eficiência da agricultura. A Rússia também sofreu taxas altas de perda de cobertura arbórea em 2020, em grande parte devido a incêndios na Sibéria. A Sibéria sofreu com temperaturas altas em 2020, incomuns para a Primavera e o Verão, provavelmente devido à mudança climática, que ressecou florestas e levou a incêndios intensos. Os incêndios também queimaram turfas ricas em carbono, que estão habitualmente congeladas. Além disso, a Rússia foi explícita quanto ao esperar vantagens concretas em troca da cooperação em matéria de mudança climática, inclusive na forma do levantamento de algumas sanções. Os EUA são o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa e estiveram durante quatro anos de costas voltadas para o clima, quando o ex-presidente Donald Trump abandonou o Acordo de Paris. O país regressou ao acordo no início deste ano, no próprio dia em que o novo presidente, Joe Biden, tomou posse. Em Abril, durante uma cimeira sobre o clima, Joe Biden prometeu cortar as emissões de gases de efeito de estufa do país em 53% até 2030 (relativamente aos níveis de 2005) e passar a liderar a luta global contra o aquecimento global. Biden também estipulou como objectivo descarbonizar a economia dos EUA inteiramente até 2050. Aguardam-se ainda os seus compromissos para esta COP26. Em 2015, a Índia tinha-se comprometido a cortar a intensidade carbónica em 33% a 35% até 2030 em relação aos níveis de 2005, alcançando uma redução de 24% até 2016. O país também se está a aproximar agora da meta de atingir cerca de 40% da produção de electricidade com base em energia renovável – uma meta colocada até 2030. Aguarda-se a confirmação dos compromissos para esta COP26. Desde a Cimeira de Paris pouco se fez. A Cimeira de Glasgow vai tentar recuperar o atraso, continuando a negociar taxas de carbono e não colocando em causa o modo de produção em que vivemos. No meio do aumento de eventos climáticos extremos em todo o mundo e de protestos contra a falta de medidas tomadas no planeta, governantes e especialistas de quase duzentos países reúnem-se em Glasgow, na Escócia, a partir de hoje, em busca de soluções políticas para conter o aquecimento global. Ao longo de duas semanas, a 26.ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26) vai tentar definir regras para o cumprimento do Acordo de Paris. Aprovado em 2015, o acordo estabeleceu como meta manter o aumento da temperatura média do planeta «bastante abaixo» de 2ºC em relação ao período pré-industrial, de preferência até 1,5ºC. O aumento registado até aqui é de 1,09ºC, conforme o último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), o painel de cientistas da ONU, maior autoridade científica sobre o assunto. Para lembrar a urgência de serem tomadas medidas em defesa do ambiente, na sexta-feira, activistas ambientais participaram em protestos junto de alguns dos principais bancos sediados na capital do Reino Unido, antecipando o início da cimeira do clima das Nações Unidas. Os manifestantes juntaram-se em frente à companhia de seguros Lloyd's, formando com rosas depostas no chão a mensagem «Erguer, Lembrar, Resistir». Reivindicam o fim dos investimentos do sistema financeiro em combustíveis fósseis, uma exigência que repertiram ao longo do dia junto de algumas das principais instituições financeiras de Londres, como o banco Standard Chartered, Banco de inglaterra e outros. Entre os manifestantes estão activistas que viajaram para Londres de países na Ásia e nações insulares do Pacífico onde já se sentem efeitos das alterações climáticas, que já estão a destruir o sítio onde vivem. Os países combinaram que cada um definiria a sua própria contribuição para diminuir a emissão dos gases que estão a aquecer o planeta. É o equivalente a dividir a conta de um extenso banquete com quase duzentos convidados, sendo que nem todos estavam à mesa desde o começo e que cada um comeu e bebeu quantidades muito diferentes. Previsivelmente, a conta nunca encerra: a soma dos esforços que os países prometeram fazer até 2030 colocou o mundo na rota de um aquecimento de 2,7ºC até ao fim deste século, conforme a conclusão de um relatório divulgado esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Em 2020, as emissões globais de gases de estufa tiveram uma redução de 6,4% em relação ao ano anterior, mas a queda não se deve aos esforços dos países para conter a crise climática. O número reflecte apenas a retracção das economias por causa da pandemia. Para este ano, a expectativa é que as emissões globais retornem a um patamar próximo ao de 2019. Restam pouco mais de nove anos até o fim de 2030, prazo adoptado para a realização dos compromissos assumidos por cada país na Cimeira de Paris. A 26.ª Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) decorre de 31 de Outubro a 12 de Novembro de 2021. Assinada na Cimeira da Terra do Rio em 1992, esta convenção compromete todos os Estados a prevenir «interferências antropogénicas perigosas com o sistema climático», o que significa tomar medidas contra a poluição devida às actividades da humanidade no planeta. Esta formulação mostra que os líderes mundiais estão conscientes da gravidade das ameaças há pelo menos um quarto de século, particularmente após a publicação do primeiro relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) em 1990. As negociações iniciais sobre a questão já tinham caído em Toronto em Junho de 1988, com os Estados Unidos a impedir um acordo sobre uma redução negociada de 20% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). A partir de 1995, as COP tornaram-se um evento anual para permitir aos signatários (196 países e a União Europeia) progredir gradualmente no desenvolvimento de medidas de combate ao aquecimento global. Uma das mais conhecidas foi a COP3 no Japão, em 1997, que levou à assinatura do Protocolo de Quioto. Aclamado pela imprensa internacional, este protocolo era sobretudo pouco ambicioso: representava apenas 3% do esforço necessário para resolver o problema. Em 2009, uma campanha de difamação precedeu a COP15, mais conhecida como a conferência de Copenhaga. Os hackers divulgaram emails de um grupo de investigação britânico, tentando fazer crer que o IPCC – que tinha acabado de ganhar o Prémio Nobel da Paz em 2007 – tinha falsificado dados. Apesar de muito modesto e não vinculativo, o acordo final assinado na Dinamarca aprovou no entanto os dois principais objectivos das negociações climáticas: limitar o aquecimento a um máximo de 2°C em comparação com a era pré-industrial e a criação de um Fundo Verde de 100 mil milhões de dólares. Divisões entre países ricos e pobres Em 2015, a COP21 recebeu muito mais atenção dos meios de comunicação social do que as rondas anteriores, como a pressão exercida pelas ONG, movimentos de jovens e uma comunidade científica que foi quase unânime em reconhecer a natureza crítica da situação. O Acordo de Paris mostra uma maior ambição ao comprometer os líderes mundiais a «limitar o aumento da temperatura média global a muito menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e a continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C». O termo «pré-industrial» é importante. Como confirma o último relatório do IPCC de Agosto de 2021, a temperatura média do planeta já subiu 1,09°C, devido aos gases emitidos desde a revolução industrial em meados do século XIX. Além disso, a maioria dos peritos concorda que o aquecimento excederá em qualquer caso 1,5°C por volta de 2040, dada a inércia do fenómeno, mas que este objectivo deve ser mantido durante as décadas seguintes. A uma escala global, décimos de um grau de temperatura contam. As consequências de um aquecimento de 2°C seriam muito mais graves, como mostrou um relatório anterior do IPCC. Isto porque estamos a falar de temperaturas «médias globais», e não de temperaturas locais, que flutuam muito mais amplamente. A uma escala global, um aquecimento de 2°C corresponde a uma convulsão considerável. A temperatura média da Terra era 5-6°C mais baixa do que a temperatura actual na altura do último máximo glaciar, há cerca de 21 000 anos. Nessa altura, uma calota de gelo cobria quase todo o Canadá actual, o Norte da Europa e grande parte da Rússia, com o nível do mar cento e vinte metros mais baixo do que hoje. Face a tal urgência, é surpreendente que os signatários do Acordo de Paris tenham protelado grande parte das medidas (a COP26 foi adiada de 2020 para 2021 devido à covid-19). Enquanto a administração Trump obstruía o processo, a maioria dos países aproveitou a posição norte-americana para deixar as suas emissões aumentar de 2016 para 2019, em vez de insistir na necessidade de agir rapidamente. Embora não insignificantes em termos do impacto em cada economia nacional, os actuais compromissos de todos os países estão longe de ser suficientes, pois conduziriam a uma trajectória superior a +3°C até 2100. Daí a necessidade, durante a COP26, de rever estas «contribuições determinadas nacionalmente» para baixo. As discussões também realçam uma divisão Norte-Sul, com os países ricos a tentarem pedir aos países do Sul que façam um esforço máximo, com base em argumentos tendenciosos. Omitindo que os países do Norte serão também muito vulneráveis, particularmente devido à sofisticação das suas economias. Já a multiplicação das secas, incêndios e inundações dos últimos anos prenunciam o caos que resultaria de uma abordagem de laissez-faire. Embora os países emergentes se tenham tornado grandes emissores de gases de efeito de estufa no século XXI – liderados pela China – os países ocidentais têm uma grande responsabilidade histórica, sendo responsáveis por dois terços das emissões acumuladas até à data. Para além disso, se adoptarmos o critério de emissão por pessoa, estes países estão longe de terem a pegada ecológica dos habitantes dos países ocidentais. Finalmente, uma proporção significativa das emissões dos países emergentes está ligada à deslocalização das indústrias, o que mascara o aumento das emissões para produzir bens no Sul que são consumidos no Norte. Os países do Sul tentaram em vão que estas emissões históricas e importadas fossem incluídas nos cálculos. As reacções dos governos à covid-19 mostram que podem tomar medidas drásticas, mas muitas vezes demasiado tarde, o que leva a decisões que são muito mais drásticas do que as que seriam necessárias no devido tempo. No caso das alterações climáticas, o adiamento pode dever-se à magnitude das mudanças necessárias, mas leva a torná-las ainda maiores. Para permanecer abaixo de 1,5°C de aquecimento global, as emissões globais de CO2 teriam de ser reduzidas em 3,3% por ano a partir de 2010; uma vez que aumentaram, precisam agora de ser reduzidas em cerca de 7% por ano. Esta é a ordem de grandeza da redução relacionada com a contenção para o ano 2020. Em vez de aprender com isto, a maioria dos líderes só fala em impulsionar o crescimento e o consumo. Actualmente, três quartos do consumo mundial de energia provém de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), cuja combustão gera a maior parte dos gases com efeito de estufa. A tentação de utilizar a energia nuclear como um recurso para cumprir os objectivos de redução das emissões de GEE tornar-se-á cada vez mais forte. Mesmo que a sua segurança pudesse ser garantida, as reservas de urânio são demasiado limitadas para substituir os combustíveis fósseis. Por outro lado, a energia nuclear revelar-se-á cada vez mais inadequada e perigosa, dada a sua intermitência (secas, envelhecimento das centrais), o aumento do risco de acidentes devido a fenómenos meteorológicos extremos e a ausência ainda total de uma solução para gerir as quantidades crescentes de resíduos extremamente perigosos. A crescente preocupação de uma parte da população e das associações, indo mesmo até à acção judicial contra os governos, bem como a seriedade das conclusões do último relatório do IPCC, poderiam levar a COP26 a assumir um «compromisso global sobre o metano», liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Esta iniciativa de emergência tem como objectivo reduzir drasticamente as emissões deste gás, que é setenta e duas vezes mais quente que o CO2, ao longo de vinte anos. Para além desta medida, a COP26 deveria, na melhor das hipóteses, avançar para subsídios a alguns sectores de «transição» e ajustamentos técnicos ou administrativos. Terá de uniformizar os compromissos nacionais, a fim de chegar a prazos e unidades idênticos, uma vez que cada país tomou a referência que melhor lhe convinha em 2015. Mesmo os esforços que ficam bem no papel são frequentemente tendenciosos. Por exemplo, a União Europeia, apresentada como uma das partes mais mobilizadas na luta pelo clima, está empenhada na neutralidade do carbono em 2050. De facto, a «neutralidade» da União não significa o fim das emissões de GEE, mas depende de projectos de captura de CO2 em sumidouros de carbono, cujos pormenores são, no mínimo, incertos. A Comissão Europeia mantém a ilusão – se não a mentira – de que os europeus «conseguiram dissociar as emissões de gases com efeito de estufa do crescimento económico nas últimas décadas». Mascara, assim, as emissões importadas através da deslocalização. Apesar da sincera boa vontade de muitos investigadores e negociadores, a COP26 poderia mesmo levar a efeitos nocivos, tais como o reforço da financeirização da economia e bolhas especulativas através dos mercados de carbono; apoio à energia nuclear apesar dos seus perigos; ou uma aceitação de «soluções tecnológicas» tais como a geo-engenharia e ainda manipulações climáticas mais arriscadas. O planeta será todo afectado com o crescimento da temperatura, mas pobres e ricos não o vão ser da mesma maneira. Vão-se multiplicar os refugiados ambientais, e os ricos que lucram com os novos negócios do capitalismo verde, que não resolvem o crescimento da temperatura, escolherão os locais menos afectados pelas mudanças climáticas para viver. A superação do capitalismo é a questão que as cimeiras não respondem, e o responsável último deste processo que está a destruir o planeta. Como afirma a cientista política Nancy Fraser, à revista Jacobin: «A financeirização que se espalha cada vez mais segue sendo uma bomba-relógio. Porém, segundo mostra o relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC), nossos infortúnios convergiram com outra crise muito grave, ainda mais catastrófica: o aquecimento global. Essa crise ecológica vem sendo fermentada há muito tempo e agora se torna palpável. Mais e mais segmentos da população global, incluindo segmentos que tinham-se mantido relativamente a salvo dos seus piores efeitos, estão despertando para o problema.» Essa ameaça só terá resolução possível com a superação do capitalismo. As outras hipóteses são apenas um mundo mais terrível em que os pobres serão as principais vítimas das catástrofes ecológicas. Tornou-se urgente a ideia que o socialismo é a única forma de evitar o desastre. «O componente ecológico é o que me faz pensar que podemos estar a enfrentar algo diferente, uma crise de época genuína, cuja resolução requer a superação do capitalismo de uma vez por todas», afirma Fraser. As alternativas ao socialismo são o autoritarismo e um planeta ambientalmente mais destruído. «Existem diversos cenários possíveis. Entre eles estão alguns desejáveis, como o ecossocialismo democrático global. É difícil dizer, é claro, a aparência que ele terá, mas vamos assumir que ele desmantelaria a "lei do valor", aboliria a exploração e a expropriação e reinventaria as relações entre a sociedade humana e a natureza não-humana, entre a produção de bens e o trabalho de cuidado, entre o "político" e "o económico", planeamento democrático e mercados. Esse seria o lado "bom" do nosso espectro de possibilidades. No outro extremo, temos resultados não-capitalistas verdadeiramente terríveis: uma enorme regressão social sob a conduta de brutamontes belicosos ou um regime autoritário global. Há, é óbvio, uma terceira possibilidade, segundo a qual a crise não é resolvida de facto, mas simplesmente continua sua orgia de auto-canibalismo da sociedade até que reste muito pouco de algo que reconhecemos como humano», alerta Nancy Fraser. A par das reduções de emissões, as delegações COP26 terão de pensar em como se adaptar às ameaças, algo que nenhum país, nem mesmo na Europa, se atreveu ainda a fazer em grande escala, de modo a não assustar a sua população. Tendo em conta os dados científicos, a COP26 parece ser uma das últimas conferências susceptíveis de evitar a ultrapassagem de um limiar dramático de perturbação climática. Sem um repensar completo do equilíbrio de poder entre nações – e do consumo em massa – é de temer que os objectivos do Acordo de Paris se tornem rapidamente impossíveis de alcançar. Foi fixada uma data na capital francesa para uma revisão dos compromissos cinco anos mais tarde, o que acontece nesta cimeira. «O que nós faremos nos próximos cinco anos vai determinar o futuro da humanidade no próximo milênio», disse à revista brasileira piauí o químico britânico sir David King, fundador do Centro de Reparação Climática da Universidade de Cambridge. «É sério: esta é nossa última chance», continuou o cientista, que foi assessor científico do governo britânico por sete anos e, por outros quatro, representante especial do governo para a mudança do clima – King liderou os negociadores britânicos na conferência do clima de Paris. «Se em Glasgow tivermos o entendimento do nível e da iminência da ameaça à humanidade, aí poderemos ter as respostas políticas adequadas.» Para o investigador, a resposta política adequada envolve renunciar ao carvão, ao petróleo e ao gás natural para a geração de energia – a queima desses combustíveis fósseis é a principal fonte dos gases que agravam o efeito estufa e são responsáveis pelo aquecimento do planeta. É preciso ainda restaurar o gelo na região ártica e remover gases de estufa da atmosfera em grande escala e com rapidez, além de aparelhar os diferentes países para se adaptarem aos impactos do aquecimento global já contratado pela humanidade. «Esse é [o] meu requisito mínimo para um mundo seguro», afirmou. King reconheceu que seus objectivos são ambiciosos e que parte deles sequer estará em negociação na COP26, antes de apontar o que ele consideraria um resultado satisfatório da conferência: «Acho bastante possível que cheguemos a um bom acordo quanto a deixar os combustíveis fósseis.» Na agenda dos negociadores em Glasgow, está a discussão de regras para a implementação do Acordo de Paris. Um dos principais nós da negociação envolve a regulamentação do mercado de carbono pelo qual países poderão adquirir créditos de outras nações ou de entidades privadas para ajudar a cumprir suas promessas de redução de emissões, entre outros mecanismos. As delegações precisam de decidir como esses créditos serão contabilizados por cada país, de entre outros pontos que vêm causando impasse nas discussões desde a conferência anterior. A criação deste mercado permite aos países ricos continuar a poluir à custa dos países pobres. Outro tema que deve mobilizar os negociadores em Glasgow envolve o financiamento que os países ricos prometeram aos países em desenvolvimento para ajudá-los a diminuir as suas emissões e a adaptarem-se aos efeitos da crise climática. O combinado era que seriam 100 mil milhões de dólares por ano a partir de 2020, e o Acordo de Paris só foi possível depois desse compromisso. No entanto, até agora o volume levantado está em torno de 80 mil milhões de dólares por ano. As negociações vão começar sob um clima de desconfiança se não houver uma sinalização clara de novos recursos. «A capacidade de os países em desenvolvimento voltarem a acreditar nos países desenvolvidos no jogo climático depende do compromisso do financiamento», disse à revista piauí a bióloga Izabella Teixeira, ex-ministra brasileira do Meio Ambiente. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Quanto à União Europeia, os seus 27 Estados-membros apresentaram em Glasgow cinco novas medidas para combater as alterações climáticas. Entre elas está a redução em 30% e até 2030 das emissões de metano, um dos gases que mais contribui para o aquecimento global; a atribuição de mais mil milhões de euros para a preservação das florestas e o envio de cinco mil milhões até 2027 para os países mais desfavorecidos combaterem as alterações climáticas. Mas, estarão os compromissos dos países alinhados com os objectivos a que todos se procuram ajustar? António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), já respondeu a esta questão e é claro: os compromissos dos países «são um caminho para o desastre». Afirmou também que há um «défice de credibilidade e um superavit de confusão sobre as reduções de emissões», com metas e métricas diferentes. Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 °C. Por isso, além dos mecanismos estabelecidos no Acordo de Paris, anunciou, no primeiro dia da conferência, que iria constituir um grupo de especialistas para propor padrões claros para medir e analisar os compromissos de emissão zero de atores não estatais. A forma como os EUA e o Reino Unido declaram ter conseguido «mobilizar mais de 450 instituições financeiras que se comprometeram em deixar de injectar dinheiro nos combustíveis fósseis» é típico de uma mentalidade administrativa que não se compadece com a diversidade de percursos na transição energética de que diferentes países carecem. Atingir a neutralidade carbónica pode ter de passar pelo uso de energias fósseis Foi muito positivo o acordo sobre as florestas. A agência da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) estimava em 7/5/2020 que o ritmo de destruição das florestas tenha descido de 7,8 milhões de hectares anuais na década de 1990 para 4,7 milhões de hectares entre 2010 e 2020 por causa da redução da desflorestação em alguns países e o aumento da cobertura florestal em outros. Segundo esse relatório da FAO, desde 2010, as maiores perdas aconteceram em África e na América do Sul. Entre 2015 e 2020, o ritmo de desflorestação situou-se nos 10 milhões de hectares por ano, menos dois milhões do que nos cinco anos anteriores. No ano de 2015, perderam-se 98 milhões de hectares devido a incêndios, sobretudo nas zonas tropicais, onde arderam 04% da floresta, sobretudo em África e na América do Sul. Globalmente, existem 4050 milhões de hectares de floresta, cobrindo um terço da superfície do planeta. Mais de 90% das florestas regeneraram-se naturalmente, estima a FAO, que analisou dados de 236 países. Os dias da conferência, até ao seu encerramento no dia 12, permitirão novos acordos com discussões, trocas de experiências e ajustes de posições de forma a garantir parte da expectativa que ela criou ao mundo. A credibilidade perdida de algumas previsões mais catastrofistas do passado, exigem compromissos assentes em dados e previsões bem sustentados na realidade para não se repetirem mentiras tão grosseiras como as produzidas por Al Gore no filme Uma verdade inconveniente (2007), que ganhou um Óscar e fez do seu autor Prémio Nobel da Paz… Biden insiste em ser líder neste processo, mas o resto do mundo encara-o como uma construção colectiva assente no multilateralismo. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. 2) Uma segunda questão remete para Fevereiro deste ano, quando Bill Gates publicou um livro em jeito de manifesto que a COP 26 pudesse adoptar (ou garantir-lhe mesa própria nos debates…). O livro Como evitar um desastre climático é apresentado como as soluções que ele tem e as inovações de que precisamos. Nele, Gates apresenta o que diz ter aprendido em mais de uma década «ao estudar as mudanças climáticas e investindo em inovações para enfrentar o aquecimento global». E recomenda estratégias para enfrentá-lo. Avança que «para evitar um desastre climático, temos que chegar a zero emissões de gases de efeito estufa. Precisamos implantar as ferramentas que já temos, como solar e eólica, de forma mais rápida e inteligente. E precisamos criar e lançar tecnologias inovadoras que nos podem levar a fazer o resto do caminho». Na sequência da publicação deste livro em quase todo o mundo, a CBS transmitiu no programa «60 Minutes» uma entrevista com o fundador da Microsoft. Nela defendeu a inovação tecnológica e a cooperação global como as chaves essenciais para resolver o que ele chama «o desafio mais difícil que a humanidade já enfrentou». Um mês depois de lançado o livro, Bill McKibben, do The New York Times, disse que o que Gates indica como energias verdes e outras soluções climáticas são medidas «surpreendentemente atrasadas». Além disso, McKibben diz ainda que Bill Gates ignorou a sua forte influência como bilionário, pedindo uma acção governamental, mas ao mesmo tempo «passando cheques a conhecidos negacionistas climáticos». Se Bill Gates desse uma vista de olhos aos gráficos de mudança climática dos últimos 10 mil anos e dos últimos 415 mil anos, constataria que o clima muda sem a queima de nenhum combustível fóssil pelos humanos. O tempo que estamos a viver recentemente está registado historicamente. Isso acontece em cada espaço de centenas de anos. O que transparece deste livro, também editado em português, é o incrível grau de imprecisão da observação, a clareza simplória de exposição das questões e, sobretudo, o leque de soluções que um homem ignorante do clima nos propõe… Em entrevista encomendada, no Público de 15 de Fevereiro deste ano, o prestidigitador, jogando à cautela, para não perder as camadas sociais que lhe fazem chegar aos bolsos chorudos maravedis, fala em «eliminar as emissões de gases com efeito de estufa, conseguindo chegar ao nível zero as emissões de dióxido de carbono», sem no entanto «mudar o nível de vida dos países ricos»… Mas «não se pode subtrair aos países pobres ou em vias de desenvolvimento o objectivo de chegar ao patamar dos países ricos». Para «tornear» a contradição, avança que «o que há a fazer para evitar um desastre ecológico é reciclar o projecto da modernidade científica, refazer o que foi mal feito com os instrumentos que a ciência e a ficção científica nos fornecem, reconstruir o que foi erradamente construído». António Guerreiro, também no Público, dias depois, chamando-lhe «engenharia climática» refere que, «pelo lado da mecenática Fundação Gates não há adversários nem inimigos a identificar e a combater, há apenas investimentos bilionários a fazer. E eles são, afinal, muitas vezes empresariais e lucrativos, embora cobertos pelo doce manto do Grande Mecenas». Ou, digo eu, o que o que o Bill quer é ficar dono do tal «projecto da modernidade científica», alicerçado numa «engenharia climática» que afastaria os humanos da condução dos processos, para os transfigurar talvez em nenúfares saltitantes num paraíso (finalmente!) recuperado. Uma iniciativa de Geoengenharia em Kiruna, na Suécia, projectada por Bill Gates, foi, entretanto, proibida pelo governo da Suécia, no dia 31 de Março deste ano. Denominado Stratospheric Controlled Disturbance Experiment (Experiência de Perturbação Controlada Estratosférica) previa, em Junho deste ano, resfriar artificialmente o planeta para alegadamente travar o aquecimento global. O ambicioso projecto foi acusado de apresentar risco para o meio ambiente e para as comunidades indígenas que residem no norte da Suécia. Os representantes da comunidade indígena protestaram contra o plano, bem como associações suecas de defesa do ambiente. O plano começaria por despejar, na Esrange (abreviatura para Estação Espacial RANGE, European Spaceresearch RANGE em inglês), toneladas de pó de carbonato de cálcio no sentido de conter a radiação solar. A equipa Gates já tinha fabricado um balão gigante para transportar o pó a uma altura de cerca de 20 quilómetros e, durante vários dias, ir libertando o pó na atmosfera. Também a comunidade tradicional rejeitou a experiência, alegando que se desconhecem as verdadeiras propriedades do material que seria espalhado, o impacto concreto das medidas e a escolha estranha de um local remoto no extremo norte do país escandinavo. O acompanhamento mediático desta COP permitiu desfazer ideias feitas quanto à insistência de os países mais poluentes serem a China, a India, os Estados Unidos e a Federação Russa. Algumas das conclusões As conclusões da COP26 traduzem-se num progresso quanto à definição de responsabilidades que daqui por um ano poderão ser revistas e avaliadas, se o percurso está a ser compatível com manter o acréscimo de temperatura nos + 1ºC, acima dos registados antes da Revolução Industrial, até 2040. A aprovação de um «livro de regras» sobre todos os aspetos de aplicação do acordo era essencial, bem como a necessidade de um consenso em torno de atualizações anuais, em vez dos cinco anos das CND (Contribuições Nacionalmente Determinadas) de todos os países, como forma mais eficaz de sincronizar os compromissos nacionais com o espírito da COP25, de Paris. Os países menos desenvolvidos são os mais afectados e os menos preparados para resistir às alterações climáticas. É uma difícil transição energética, que os países mais ricos têm outras condições para percorrer. O acordo de Paris reconhecia a necessidade de os países mais ricos contribuírem com financiamento foi um dos pontos de maior discórdia. O texto final da COP26 regista «com preocupação» que o financiamento climático para medidas de adaptação «continua a ser insuficiente», já que não foram cumpridos os compromissos de mobilizar 100 mil milhões de dólares em 2020. O Pacto «incita» os países desenvolvidos a duplicar o financiamento até 2025. Importa ter sempre em conta que a «crise climática» é uma das crises que o capitalismo provocou, que as emissões que levam ao cálculo do número 1,5ºC contêm valores acumulados dos países ricos, há muito mais tempo que os países pobres que, por sua vez se apresentam com maior fragilidade no enfrentar os desastres naturais nos dias de hoje. Também foram discutidos os apoios para catástrofes reais provocadas pelas alterações climáticas, as perdas e danos. Foi reiterada a urgência de aumentarem os apoios, financeiros e de tecnologia, para minimizar e enfrentar as perdas e danos, reforçando também parcerias entre países ricos e pobres. Para se cumprir com o limite de 1,5º C até 2030, ficou consagrado o conselho do IPCC de que são necessários cortes de emissões de 45% até 2030, relativamente às de 2010 (mitigação). O livro de regras destinadas a ajudar a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) também impede, por exemplo, a dupla contagem do carbono (pelo vendedor e comprador). A COP26 fala pela primeira vez na questão dos combustíveis fósseis. Um rascunho inicial apelava aos países para que acelerassem a eliminação gradual dos subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis (sem referências explícitas ao petróleo e gás natural), mas o texto final aprovado, apesar dos protestos da União Europeia, da Suíça e mais alguns países, refere «intensificação dos esforços» para reduzir o carvão e eliminar os subsídios a combustíveis fósseis. Ora não é que, no dia 10, a China e os EUA – que representam quase 40% das emissões mundiais de carbono – reconheceram que há uma lacuna entre os esforços actuais e os objectivos do Acordo de Paris. Por isso, os dois países vão «fortalecer em conjunto a acção climática». Uma declaração do Ministério de Ecologia e Meio Ambiente chinês refere que os negociadores concordaram em melhorar a implementação do acordo climático de Paris de 2015, bem como novas medidas baseadas no «princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades». Os EUA comprometeram-se a atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050. A China atingirá o pico de emissões antes de 2030, eliminando-as até 2060, o que, segundo eles, representa a transição mais rápida do carbono de qualquer grande economia. Os dois são actualmente os maiores emissores de gases de efeito estufa, embora a produção per capita da China seja metade da dos EUA e também tenha um histórico muito mais curto de actividade intensiva em carbono. Falando da declaração conjunta, Xi disse que abrange áreas como a implementação da tecnologia de captura de carbono, electrificação da economia, novas medidas para prevenir o desmatamento global e redução das emissões de metano. O metano, que é até 86 vezes mais potente do que o dióxido de carbono como gás de efeito estufa, é uma questão especial para causar o maior impacto nesta década. A China disse que vai produzir um plano de ação nacional para conter a sua descarga no meio ambiente. O apoio aos países em desenvolvimento tem sido um ponto crítico particular na última ronda de negociações sobre o clima, com uma promessa de 100 mil milhões de dólares em fundos anuais, que não foi concretizado. A China disse que havia concordado com os negociadores dos EUA em realçar a importância de cumprir essa meta. Falando numa conferência de imprensa separada, o representante dos EUA, John Kerry, disse que o acordo representa uma determinação de não permitir que as tensões entre Pequim e Washington ameacem a saúde do planeta. E acrescentou, procurando fazer ironia: «Os Estados Unidos e a China não têm falta de diferenças entre si». «Mas, no que diz respeito ao clima, a cooperação é a única maneira de fazer esse trabalho». A aprovação de um «livro de regras» sobre todos os aspectos de aplicação do acordo era essencial, bem como a necessidade de um consenso em torno de actualizações anuais, em vez dos cinco anos das CND (contribuições nacionalmente determinadas) de todos os países, como forma mais eficaz de sincronizar os compromissos nacionais com o ciclo de ambição de Paris. Nesta declaração de ambos os países, ambos reiteraram que observarão o acordo climático de Paris para manter as temperaturas abaixo de dois graus. Eles concordaram em acelerar a redução das emissões verdes e de carbono, trabalhando em conjunto com outros países. A China e os Estados Unidos também chegaram a um consenso sobre o financiamento do clima e as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) de Paris (fundos de apoio aos países com dificuldades em cumprir com a transição verde). Ambos manterão um diálogo político sobre as energias renováveis num esforço para reduzir o poder do carvão. O acompanhamento mediático desta COP permitiu desfazer ideias feitas quanto à insistência de os países mais poluentes serem a China, a India, os Estados Unidos e a Federação Russa. Só um jornalista inculto pode aceitar tais afirmações que são baseadas apenas na emissão total de CO2 sem ter em linha de conta o número de habitantes desses países. Os valores per capita destes países são, respectivamente, e referindo-se a toneladas de CO2 emitidas em 2018 (dados do Banco Mundial), a China 7.4, a India 1.8, os EUA 15.2, e a Federação Russa 11.1. Isto é, os EUA produzem o dobro das emissões da China, mais oito vezes que a Índia, ou mais um terço do que a Rússia. Não nos referimos a outros países, como vários países árabes que chegam a emitir o mesmo ou muito mais que os EUA... Depois existem os que debitam opiniões falsas, como é o caso (incurável) de Teresa de Sousa, que no Público deste último domingo escreveu: «Não foi por acaso que Xi e Putin não encontraram tempo para se deslocar a Roma, para o G20, e a Glasgow, para a COP26. Não admitem ser confrontados, nem nas salas das reuniões, nem nos protestos e nas denúncias das ruas». Será que a jornalista estava à espera de grandes refregas entre manifestantes e dirigentes de alguns países? Ao longo da última semana foram discutidos três rascunhos das conclusões. Mas até se chegar à aprovação em plenário das delegações dos vários países, ainda houve mais dois rascunhos, em consequência das negociações por grupos de países que não se reviam em versões anteriores e até no plenário de aprovação, um grupo de dezenas de países, representado pela Índia, e onde se incluíam a China, os EUA, a Rússia, com sérias reservas da UE, Suíça e outros. Se a Conferência de Paris de 2015 definiu metas importantes – nalguns casos de longo prazo –, o que é certo é que não foram definidas as acções que se foram desenvolvendo, por opção de cada país, e os CND (Contribuições Nacionalmente Determinadas) por eles apresentados, analisados ao longo deste ano, foram de modo a que o Secretário-Geral da ONU falasse na abertura desta conferência de estarmos «no caminho para um desastre climático». De facto, foram seis anos em que só alguns países definiram um planeamento de acções de transição energética que executaram. Se a COP25, de Paris, popularizou metas a atingir, terminando em grande confiança, ao longo de 2021 foram-se acumulando presságios que geraram um clima de desespero que persistiu até ao final da COP26. E nos primeiros dias da conferência, Joe Biden, John Kerry e Barack Obama criticaram a Rússia e a China por subestimarem a conferência pela ausência física dos seus presidentes, pouco se importando com o facto da generalidade dos países presentes não seguirem tal narrativa. Foi lamentável a criação de um ambiente visando atribuir responsabilidades por eventuais resultados negativos, omitindo o contributo dos EUA para isso. E omitiram o trabalho feito por centenas de técnicos de ambos os países e de muitos outros países, incluindo dos EUA. Foi um trabalho de negociação, procurando harmonização de compromissos nos temas mais difíceis, procurando mais metas de curto prazo do que encher a boca com as metas de longo prazo. Nesta COP26, ficou claro ser importante passar do diagnóstico para a «prescrição». As alterações climáticas têm soluções. Mas ninguém nos vai dar um novo ambiente. Vai ter que se trabalhar para isso mudando políticas e paradigmas, planos e prescrições. Assim se prosseguirão caminhos de progresso, longe do simples diagnóstico e em direcção a soluções viáveis de serem trabalhadas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. 3) Finalmente, a terceira questão que queríamos abordar é que o clima é um sistema natural muito complexo, de muito difícil compreensão na sua totalidade, embora muitos cientistas entendam os seus diferentes aspectos parciais. Por norma, o cientista ou especialista numa área científica do conhecimento, quando se trata de outras áreas, acredita nas afirmações de colegas, considerados especialistas nesse domínio. Sucede que algumas dessas áreas são tão restritas e especializadas que todos se conhecem uns aos outros e mutuamente se promovem como únicos e inquestionáveis conhecedores do tema. Foi este tipo de comportamento que gerou o escândalo conhecido como climategate, com origem na revelação pública de manipulação de dados paleontológicos para forçar a conclusão, amplamente promovida pelo 3.º Relatório do IPCC (TAR-2001), de não ter havido qualquer aumento significativo da temperatura média global antes do início da industrialização e da utilização massiva de combustíveis fósseis. Essa ideia sustentou e promoveu a convicção de que as emissões de CO2 seriam as grandes responsáveis pelas anunciadas catástrofes climáticas. Por outro lado, as afirmações alarmistas acerca de alterações climáticas globais provocadas pelas emissões de CO2 têm como único fundamento as simulações numéricas obtidas com a utilização de modelos climáticos. Estes modelos são estruturalmente idênticos aos modelos meteorológicos utilizados na previsão do tempo, nos quais têm a sua origem. Matematicamente, são uma manifestação de caos determinístico que, em termos simples, se traduz no facto de as suas previsões terem uma intrínseca limitação temporal. No caso da previsão do tempo, uma previsão razoavelmente segura não ultrapassa 1-2 semanas. No caso do clima existe a mesma limitação intrínseca. Recorro ao meu professor no IST, J. Delgado Martins, que tem um pensamento sobre as alterações climáticas, o petróleo e as oportunidades das energias renováveis, ou a energia eólica em particular. Para ele o clima é a estatística do tempo, os modelos climáticos baseiam-se no pressuposto de que fazendo a estatística de muitas simulações do tempo, cobrindo décadas, se lhes pode atribuir uma probabilidade estatística fiável. E conclui afirmando: «não existe, até hoje, nenhuma prova convincente de que assim seja mesmo partindo da hipótese adicional de que os modelos reflectem com rigor os fenómenos físicos determinantes, o que não sucede, por exemplo, com a formação e evolução das nuvens, que têm um papel crucial nas alterações climáticas». Independentemente de considerandos de natureza fundamental e inultrapassáveis como o da previsibilidade temporal da evolução do clima, um teste empírico objectivo e convincente é, por exemplo, imaginar que estamos em 1880 e utilizar os modelos para «prever» o que se passou até 2012. Segundo o autor, «estes testes foram feitos e o que se verifica é que nenhum dos modelos utilizados pelo IPCC consegue prever os períodos conhecidos de aquecimento e arrefecimento sem fazer batota, isto é, sem ajustar subjectivamente e em cada período parâmetros fundamentais para se obterem os resultados desejados» Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
COP26: sim, mas…
Opinião|
COP26 – do descrédito a alguma construção
Internacional|
Quando se discute o aumento da temperatura no planeta sem falar do capitalismo
De cimeira em cimeira a empurrar com a barriga
COP26 e os combustíveis fósseis
É o capitalismo estúpido
Desafiar o equilíbrio de poder entre nações
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Da COP26, alguma coisa saiu, contrariando maus presságios
A China e os EUA na COP26
Alguns pontos nos ii
Outros apontamentos
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Em 2019, 21 979 jactos privados foram registados em todo o mundo. Os Estados Unidos, com 15 547 aviões (71% do total mundial), e a Europa, com 2 760 (13%), lideram um segmento com diferenças notáveis entre regiões: África representa apenas 2% dos jactos privados e Oceânia 1%.
De acordo com o relatório Transport & Environment acima mencionado, as pessoas que possuem ou utilizam um avião privado têm um nível de poder de compra muito elevado: em média, a riqueza das pessoas que possuem uma destas aeronaves é de 1,3 mil milhões de euros. E utilizam as aeronaves principalmente para fins de lazer e de tempo livre (os picos de tráfego aéreo privado são observados nos meses de Verão e para destinos turísticos) e viagens curtas/médias para a maioria das quais existe uma alternativa terrestre ou directa por companhia aérea regular.
Mas o mundo da aviação privada não é exclusivo de indivíduos ricos. A esfera institucional é também conhecida pelo o uso irresponsável do transporte aéreo privado. Como por exemplo, a utilização do jacto privado pelo antigo primeiro-ministro britânico Boris Johnson, logo após o seu discurso na COP26 em Glasgow, para ir a um jantar privado em Londres.
Marcelo viajou 71 vezes de jacto privado num ano
Em Portugal, entre Abril de 2021 e Abril de 2022, os Falcon 50 da Força Aérea Portuguesa realizaram 71 viagens ao serviço do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de membros do governo, entre os quais o primeiro-ministro, António Costa, e, os na altura, ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Defesa Nacional, João Cravinho.
Neste último ano, Marcelo Rebelo de Sousa requisitou o Falcon da FAP em 30 ocasiões (quase metade do total), a maioria das quais para viagens dentro do território português. Aquele mesmo aparelho da FAP (são três ao serviço do Estado português) foi utilizado pelo governo 41 vezes no mesmo período temporal.
O custo comercial da viagem nos Falcon 50 da FAP é de 7287 euros por hora. Para ter uma ideia do impacto poluidor destes voos, o Falcon 900, ligeiramente maior que o utilizado pelo governo português, gasta 1300 litros de combustível por hora, podendo emitir duas toneladas de dióxido de carbono nesse período de tempo. Tenha-se em conta que por cada tonelada de CO₂ emitida na atmosfera derretem-se três metros quadrados de gelo no Ártico.
Segundo estimativas da Transport & Environment, entre 2005 e 2019, as emissões de CO₂ das aeronaves privadas na Europa aumentaram quase um terço (31%), um crescimento muito mais rápido que as emissões da aviação comercial.
Como alerta Pablo Muñoz Nieto, coordenador das campanhas sobre limitação da aviação nos Ecologistas en Acción, em artigo publicado no El Salto, tais níveis desproporcionados de emissões são acompanhados por uma série de elementos que, invisíveis ao público, privilegiam injustamente o sector. A maioria dos jactos privados não são obrigados a comunicar as suas emissões - e a pagá-las - no Regime de Comércio de Emissões da UE.
Acresce que a aviação comercial na UE não paga impostos sobre o combustível que utiliza. Isto significa que enquanto cada cidadão da UE paga uma média de 0,48 euros em impostos por um litro de combustível, os proprietários ricos de jactos privados não pagam nada pela energia que alimenta os seus aviões. Num contexto de grave crise ambiental, social, económica e energética isso é inaceitável. Não se pode permitir privilégios para os mais ricos que, simplesmente devido ao seu elevado poder de compra, têm o direito de continuar a poluir legalmente, prejudicando assim o interesse da sociedade.
É preciso fazer com que se reduzam ao máximo todos os voos, de jacto privado, com alternativas viáveis por terra ou serviços aéreos regulares. Para ter uma ideia da importância disso é preciso notar que entre as 10 viagens de jactos privados que geram mais emissões poluentes estão destinos como Paris-Genebra, Roma-Milão, Paris-Nice ou Paris-Londres, que poderiam facilmente ser substituídos por viagens de comboio com um impacto muito menor.
Uma política fiscal agressiva que dissuada os ricos de usar de uma forma irresponsável os jacto privados é um bom começo, mas não resolve a questão de fundo: o capitalismo e as suas consequências em termos de desigualdade social e de poder são as grandes causas da incapacidade de combater devidamente a crise ecológica.
«As desigualdades sociais são de facto factores importantes de crise ecológica: aumentam a a irresponsabilidade ecológica dos mais ricos da sociedade”, defende Éloi Laurent, que leciona na Sciences Po-Paris, Stanford University e Harvard University, no seu estudo Inequality as pollution, pollution as inequality, explicando que para além dos ricos poluirem mais, também «as crises ecológicas [que resultam dessa poluição] criam novas formas de desigualdade estrutural. As "desigualdades ambientais" estão a aumentar tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, e desencadeiam consequências sociais. Se não forem resolvidas, colocarão um ónus considerável para as políticas públicas e para o Estado social, onde este existe. Pelo mesmo motivo, as catástrofes "sócio-ecológicas", como a devastação causada pelo furacão Katrina em 2005, são tudo menos naturais: a sua causa é cada vez mais humana e o seu impacto é determinado por factores sociais como o desenvolvimento, a desigualdade e a [falta] de democracia.»
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