No seu discurso, esta terça-feira, na Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral dessa organização, António Guterres, falou da crise de energia que assola o mundo, principalmente na Europa, Guterres criticou os movimentos de alguns países em voltar a investir em energias sujas, com a reativação de centrais termoeléctricas movidas a carvão e o regresso de incentivos para a compra de combustíveis poluentes.
«O nosso mundo é viciado em combustíveis fósseis. Está na hora de uma intervenção. Precisamos responsabilizar as empresas de combustíveis fósseis e seus facilitadores. Isso inclui os bancos, fundos de investimentos, gestores de ativos e outras instituições financeiras que continuam a investir na poluição por carbono», disse Guterres. «Isso inclui a enorme máquina de relações-públicas que fatura muitos milhares de milhões de dólares para proteger a indústria de combustíveis fósseis do escrutínio».
O secretário-geral aproveitou a crítica para citar as ondas de calor que atingiram o hemisfério norte nos últimos meses, dizendo que «os verões mais quentes de hoje podem ser os verões mais frescos de amanhã» e que o mundo «ainda não viu nada» em relação ao aquecimento global.
«Choques climáticos que ocorrem uma vez na vida podem em breve se tornar eventos anuais», disse Guterres. «Os poluidores precisam pagar [pelos seus atos]».
Os mais recentes estudos parecem justificar as preocupações de António Guterres.
Com 3°C de aquecimento global até ao final do século, mais de 5 mil milhões de pessoas poderiam ser expostas a calor e humidade perigosos durante a maioria dos dias de cada ano.
As temperaturas são consideradas perigosamente quentes e húmidas para os seres humanos quando o índice de calor – uma medida de humidade relativa e temperatura do ar – excede os 39°C (102°F). Dias com este calor podem levar a cólicas térmicas e exaustão, enquanto que aqueles com um índice de calor acima de 51°C (124°F) podem causar insolação e morte e são considerados extremamente perigosos.
Lucas Zeppetello da Universidade de Harvard e os seus colegas modelaram uma série de cenários de emissões de gases com efeito de estufa baseados na população global e no crescimento económico até ao final do século. Descobriram que a temperatura média global aumentaria entre 2,1ºC e 4,3ºC até 2100.
Analisaram então como este aquecimento global iria alterar o calor e a humidade à escala local. Os investigadores assumiram que o tempo diário futuro se assemelharia a padrões históricos. «Esperamos que os nossos dias tenham o mesmo sabor que temos vindo a ver nos últimos 20, 30 anos. Apenas um pouco mais quente. E mais seco e húmido em alguns lugares», diz Zeppetello à New Scientist.
Segundo a maioria dos cientistas, o cenário mais provável de aquecimento é de 3°C até 2100, e as regiões tropicais e subtropicais experimentariam, assim, dias perigosamente quentes durante um quarto a metade de cada ano até 2050, e durante a maior parte de cada ano até ao final do século. Neste cenário, 5,3 mil milhões de pessoas na Índia, África subsariana e península da Arábia estariam expostas a um calor extremamente perigoso – com o índice de calor a atingir 51°C (124°F) – em 15 ou mais dias por ano até 2100.
Lugares muito mais afastados do equador poderiam ver entre 15 e 90 dias de calor perigoso todos os anos. Um olhar detalhado sobre Chicago - onde uma rara onda de calor de 1995 matou cerca de 500 pessoas - mostrou que tal calor poderia tornar-se um acontecimento anual.
Cascade Tuholske da Universidade Estadual de Montana, que não esteve envolvida no trabalho, declara, à New Scientist, que os resultados do estudo são muito alarmantes e que a melhor maneira de evitar os impactos do calor extremo é parar as emissões.
«Precisamos que as pessoas compreendam: o calor mata», reforça Kristie Ebi da Universidade de Washington em Seattle, à mesma publicação.
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