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Operários e agricultores indianos unidos contra o esbulho neoliberal

Milhares de trabalhadores manifestaram-se por toda a Índia, a semana passada, em defesa do seu sustento e contra as políticas de direita postas em prática pelo governo liderado por Narendra Modi.

Manifestação de operários e camponeses no estado de Bengala Ocidental Créditos / @KisanSabha

O protesto, que foi convocado conjuntamente por sindicatos nacionais e pela Samyukta Kisan Morcha (SKM), plataforma que reúne dezenas de organizações de agricultores, trouxe para as ruas do país sul-asiático muitos milhares de pessoas, em defesa dos seus meios de sustento e contra a linha sectária e corporativa que, acusam, orienta as políticas do actual governo indiano.

Entre as principais reivindicações dos manifestantes contavam-se a revogação de legislação laboral danosa e a introdução de um preço mínimo de apoio à produção, legalmente garantido para todos, tal como prometido pelo primeiro-ministro Modi aquando dos protestos dos agricultores que varreram o país em 2020 e 2021.

Liderados pela SKM, milhões de manifestantes realizaram, então, mobilizações por todo o país e mantiveram-se firmes nos arredores da capital, Nova Déli, durante mais de um ano, exigindo a revogação da legislação que consideravam prejudicial e alegando que o governo do Partido Bharatiya Janata (BJP) estava a favorecer as grandes empresas do sector agrícola, à custa dos agricultores.

O executivo de direita e nacionalista hindu acabou por ceder, inclusive na questão do preço mínimo de apoio à produção, mas sem que tal medida se tenha concretizado.

Protestos em mais de 500 distritos

Vijoo Krishnan, secretário-geral do All India Kisan Sabha (Sindicato dos Agricultores de Toda Índia; AIKS), disse ao Peoples Dispatch que «trabalhadores e camponeses se uniram em protestos maciços em mais de 500 distritos» da Índia, na passada terça-feira.

O dirigente sindical e militante do Partido Comunista da Índia (Marxista), que integra a plataforma SKM, destacou que a ampla jornada de luta dizia «não» à «linha agressiva» de políticas económicas neoliberais e privatizadoras, promovida pelo governo da Aliança Democrática Nacional (coligação de partidos de direita, encabeçada pelo BJP).

Vijoo Krishnan, secretário-geral do AIKS e membro do comité central do PCI(M), intervém em Patna (estado de Bihar) // @KisanSabha

Também se referiu à legislação laboral danosa introduzida pelo executivo, afirmando que «ataca todos os direitos duramente conquistados pela classe trabalhadora» e que, por isso, deve ser revogada de imediato.

Outras reivindicações apresentadas incluem um salário mínimo de 26 mil rupias (cerca de 290 euros) por mês, segurança social, controlo do aumento de preços, segurança alimentar e outras questões de subsistência.

Políticas de Modi forçam trabalhadores e agricultores a viver mal

Ao longo de semanas, até à jornada de mobilização, a SKM e os sindicatos realizaram acções de campanha e informação em todos os distritos da Índia, chamando a atenção para a situação económica e social do país, e frisando que a maioria dos trabalhadores e agricultores são obrigados a viver com dificuldades devido às políticas corporativas adoptadas pelo governo que Modi lidera.

Entre outros aspectos, a SKM denuncia o agravamento das condições de vida da maioria das pessoas na Índia em função da privatização da educação e dos cuidados de saúde ou o modo como o executivo indiano perdoou milhões de dólares em dívidas a grandes empresas, mas se recusa a fazê-lo no caso dos empréstimos aos agricultores.

Também alerta para o «secularismo em risco» no país, num contexto em que partidos de esquerda e sindicatos acusam o governo de promover políticas neoliberais de braço dado com o sectarismo religioso.

Nesse sentido, Vijoo Krishnan afirmou que as mobilizações de trabalhadores e camponeses eram também contra a união entre patronato e sectarismo, frisando que, se o governo não tomar as medidas apropriadas, os protestos vão continuar – e com maior intensidade.

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