De acordo com o Ministério do Interior do Cazaquistão, que se refere aos detidos como «criminosos», foram feridos 18 «terroristas armados». A informação, divulgada hoje pelo canal estatal de TV Khabar-24, acrescenta que 18 membros das forças de segurança foram mortos durante os protestos e que 750 ficaram feridos.
É a primeira vez que as autoridades cazaques divulgam números de mortos no âmbito da operação de «contraterrorismo», depois de uma porta-voz da Polícia ontem ter referido «dezenas de atacantes eliminados», quando tentavam assumir o controlo das esquadras. Uma fonte não oficial, mencionada pela RT ontem à noite, apontava para 30 mortos só em Almaty.
Por seu lado, o Ministério da Saúde deu conta de mais de mil manifestantes e saqueadores feridos, 400 dos quais foram hospitalizados, 62 nos cuidados intensivos, indicou também a RT ontem à noite.
Ordem constitucional «quase reposta» e ordem para «atirar a matar»
O presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, afirmou hoje que a ordem constitucional foi «quase reposta» na maior parte das regiões do país e que as autoridades locais controlam a situação.
Disse, no entanto, que os «terroristas» ainda estavam a utilizar armas para causar danos nas propriedades dos cidadãos e que, por isso, as «medidas de contraterrorismo» continuavam em vigor.
«A Polícia e os militares podem atirar a matar sem aviso», disse Tokyaev, segundo o qual o seu país está a «enfrentar militantes armados e bem-treinados, tanto locais como estrangeiros», indica a RT. «Só em Almaty – disse – há 20 mil bandidos.»
Fortes distúrbios e tiroteios, sobretudo em Almaty
Em Almaty, um grupo de «agitadores» barricou-se esta madrugada nas instalações da Mir TV e, segundo refere a televisão Khabar-24, havia corpos no exterior. Na maior cidade do Cazaquistão ocorreram tiroteios ontem ao longo do dia, que pararam e foram retomados ao anoitecer, aponta a TASS.
As forças de segurança usaram fogo real e, ontem ao final do dia, anunciaram que tinham «libertado» a praça central da cidade e a antiga residência presidencial, depois de, segundo números oficiais, manifestantes, saqueadores, «bandidos» e «terroristas armados» terem queimado pelo menos 120 automóveis, escavacado umas 120 lojas, 180 restaurantes e cafetarias, além de uma centena de escritórios.
Segundo refere a RT, que dá conta de disparos noutras cidades cazaques, os «manifestantes» começaram a organizar postos de controlo nos limites da cidade, onde obrigavam as viaturas militares a parar e os efectivos a despir os uniformes.
A Organização do Tratado de Segurança Colectiva enviou um contingente para «estabilizar» a situação no Cazaquistão, na sequência do pedido do presidente cazaque para fazer frente à «ameaça terrorista». O secretariado da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), um bloco de seis países da ex-URSS composto por Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão, disse esta quinta-feira à imprensa que as forças de manutenção da paz do organismo tinham sido enviadas para o país da Ásia Central, onde deverão permanecer por um período limitado de tempo, com o propósito de «estabilizar e normalizar a situação». Forças militares russas já estão a desempenhar tarefas no terreno, segundo a TASS, e serão acompanhadas na missão de protecção de edifícios estatais e militares cazaques por elementos das forças armadas dos outros países da OTSC. A decisão de enviar um contingente de paz para o Cazaquistão seguiu-se ao pedido realizado pelo chefe de Estado, Kassym-Jomart Tokayev, e «tendo em conta a ameaça à segurança nacional e à soberania da República do Cazaquistão, provocada em particular pela interferência externa», informou esta quinta-feira o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, que preside à OTSC em 2022. Numa declaração transmitida pelo canal Khabar-24, Tokayev classificou os fortes protestos e violentos distúrbios que afectam o país desde 2 de Janeiro como uma «ameaça terrorista», que «está a minar a integridade do Estado». Nesse sentido, considerou bastante «oportuno» o pedido de ajuda que fez aos parceiros da OTSC. Os protestos duram há cinco dias consecutivos. No dia 2, houve manifestações nas cidades de Zhanaozen e Aktau (Sudoeste do Cazaquistão) contra a subida dos preços do gás natural liquefeito. Dois dias depois, registaram-se fortes distúrbios em Almaty, a antiga capital, no Sudeste do país, bem como noutras cidades, como Atyrau e Aktobe (Ocidente), Uralsk (Noroeste), Taraz, Shymkent e Kyzylorda (Sul), Karaganda (Nordeste) e na capital, Nur-Sultan. De acordo com a RT, os protestos, inicialmente «pacíficos», rapidamente se tornaram «descontrolados» e «violentos». Em Almaty, a maior cidade do país asiático, com cerca de dois milhões de habitantes, ontem foi um dia particularmente violento, com multidões a atacarem edifícios governamentais, incluindo a antiga residência presidencial e a sede do município. O aeroporto, tomado pelos manifestantes, foi posteriormente «reconquistado» pelas forças de segurança. Lojas de armas, instalações comerciais, bancos, hospitais foram atacados e saqueados, segundo referem a RT e a TASS. Ontem, Kassym-Jomart Tokayev aceitou a demissão do governo cazaque – que continuará em funções até ser aprovado um novo executivo – e declarou o estado de emergência por duas semanas nas regiões de Manguistau e Almaty, assim como nas cidades de Almaty e Nur-Sultan, que foi posteriormente alargado a todo o país. Ao fim do dia, foi anunciada uma operação de contraterrorismo na cidade de Almaty «para restabelecer a ordem» e fazer frente a «bandidos extremistas» que, além dos saques, estavam «a pôr em causa a vida de civis». Em comunicado, as autoridades afirmaram que os «bandidos» estavam «altamente organizados, evidenciando que foram bem treinados nos estrangeiro». Sobre a operação posta em curso esta madrugada, Altanat Avirbek, porta-voz da Polícia, disse que as forças de segurança tinham conseguido evitar que os edifícios policiais em Almaty fossem tomados pelos manifestantes. Estes tentaram assumir o controlo da sede da Polícia e de várias esquadras da cidade, disse Avirbek esta manhã, acrescentando que «dezenas de atacantes foram eliminados», refere a RT. «As suas identidades estão agora a ser definidas», explicou, sem dar mais detalhes. De acordo com o canal russo, centenas de tropas cercaram a principal praça de Almaty e registou-se troca de tiros com um grupo de «agitadores». De acordo com as autoridades cazaques, pelo menos 13 elementos das forças de segurança foram mortos, dois dos quais decapitados, nos violentos confrontos em Almaty. O número de feridos entre os polícias e outras forças de segurança chega a 353, refere o canal de TV estatal Khabar-24. As decapitações são referidas como uma «prova directa da natureza extremista e terrorista dos grupos» envolvidos nos protestos, segundo as autoridades. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Forças de manutenção de paz destacadas no Cazaquistão
«Ameaça terrorista»
Operação contra elementos «altamente organizados» em Almaty
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Recorde-se que o estado de emergência foi decretado em todo o país, na sequência dos protestos violentos generalizados, no passado dia 4, que se seguiram aos que se tinham registado, de forma mais pacífica, segundo refere a RT, no Sudoeste do Cazaquistão contra o aumento substancial no preço dos combustíveis.
No dia 5, o chefe de Estado demitiu o governo e pediu ajuda à Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), integrado por Cazaquistão, Arménia, Bielorrússia, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão, que aceitou destacar um contingente de «manutenção de paz» para ajudar a «estabilizar e normalizar» a situação, segundo referiu o secretariado do organismo.
Preocupação russa
As autoridades da Federação Russa, que tem uma extensa fronteira terrestre com o Cazaquistão (quase 7000 quilómetros), relações próximas com o país vizinho e uma comunidade numerosa a residir lá, afirmaram desde o início que estavam «a acompanhar a situação».
Ontem, Valentina Matvienko, porta-voz do Conselho da Federação Russa, afirmou que «os distúrbios no Cazaquistão ameaçam a segurança nos países vizinhos» e, em conversa telefónica com Maulen Ashimbayev, representante do Parlamento cazaque, mostrou preocupação com «a dimensão das acções ilegais de extremistas armados», refere a TASS.
Por seu lado, Leonid Slutsky, presidente da Comissão de Assuntos Externos da Duma Estatal, escreveu no seu Telegram que os protestos «não podem ser acompanhados por vandalismo, incêndios criminosos, pilhagens, intimidação da população e rebelião contra as autoridades legítimas».
Referindo-se também à decapitação de membros das forças de segurança, disse que «já assistimos a isto, também na Síria e no Iraque; isto é um padrão claro de intervenção terrorista».
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