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A OTAN acelera o seu conflito com a China

Enquanto actua para manter a guerra na Ucrânia vigente, a OTAN passa a considerar a China um «facilitador decisivo» da acção russa, com o objectivo de cercá-la.

Navios de guerra filipino e norte-americano, respectivamente o BRP  Jose Rizal e o USS Gabrielle Giffords, durante um exercício táctico no Mar das Filipinas, a 23 de Novembro de 2023. A passagem das embarcações no Mar do Sul da China deu origem a um protesto das autoridades chinesas. 
CréditosArmed Forces of the Philippines / via AP

Na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Washington, o foco foi a Ucrânia. Na Declaração de Washington, os líderes da OTAN escreveram: «O futuro da Ucrânia está na OTAN». A Ucrânia solicitou formalmente sua adesão à OTAN em Setembro de 2022, mas logo descobriu que, apesar do amplo apoio da OTAN, vários estados-membros (como a Hungria) não se sentiam à vontade em escalar um conflito com a Rússia. Já na cimeira da OTAN em Bucareste, em 2008, os membros saudaram «as aspirações euro-atlânticas da Ucrânia e da Geórgia de se tornarem membros da OTAN. Concordamos hoje que esses países se tornarão membros da OTAN». No entanto, o conselho da OTAN hesitou por causa da disputa fronteiriça com a Rússia; se a Ucrânia tivesse sido trazida à pressa para a OTAN e se a disputa fronteiriça aumentasse (como aconteceu), a OTAN seria arrastada para uma guerra directa contra a Rússia.

Na última década, a OTAN expandiu sua presença militar ao longo das fronteiras da Rússia. Na cimeira da OTAN no País de Gales (Setembro de 2014), a organização implementou seu Plano de Acção de Prontidão (RAP, de Readiness Action Plan). Esse RAP foi projectado para aumentar as forças militares da OTAN na Europa Oriental «do Mar Báltico, ao norte, até o Mar Negro, ao sul». Dois anos depois, em Varsóvia, a OTAN decidiu desenvolver uma Presença Avançada (EFP, de Enhanced Forward Presence) na área do Mar Báltico com «grupos de combate estacionados na Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia». A distância entre Moscovo e as regiões fronteiriças da Estónia e da Letónia é de apenas 780 quilómetros, o que está bem dentro do alcance de um míssil balístico de curto alcance (mil quilómetros). Em resposta ao avanço da OTAN, Bielorrússia e Rússia realizaram o Zapad 2017, o maior exercício militar desses países desde 1991. As pessoas razoáveis naquela época teriam pensado que a redução da escalada deveria ter se tornado a maior prioridade de todos os lados. Mas não foi o que aconteceu.

As provocações dos países membros da OTAN continuaram. Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, os países da OTAN decidiram apoiar totalmente a Ucrânia e impedir qualquer negociação para uma solução pacífica da disputa. Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN enviaram armas e equipamentos para a Ucrânia, com altos oficiais militares dos EUA fazendo declarações provocativas sobre seus objectivos de guerra (para «enfraquecer a Rússia», por exemplo). As conversas ucranianas com oficiais russos na Bielorrússia e na Turquia foram deixadas de lado pela OTAN, e o próprio objectivo de guerra da Ucrânia (simplesmente a retirada das forças russas) foi ignorado. Em vez disso, os países da OTAN gastaram milhares de milhões de dólares em armas e assistiram, à margem, à morte de soldados ucranianos em uma guerra fútil. Nos bastidores da cúpula da OTAN em Washington, o almirante Rob Bauer, da Marinha Real Holandesa, que preside o Comité Militar da OTAN, disse à Foreign Policy: «Os ucranianos precisam de mais para vencer do que apenas o que nós oferecemos». Em outras palavras, os países da OTAN fornecem à Ucrânia apenas armas suficientes para continuar o conflito, mas não para mudar a situação no terreno (seja com vitória ou derrota). Os países da OTAN, ao que parece, querem usar a Ucrânia para sangrar a Rússia.

Culpar a China

A Declaração de Washington da OTAN contém uma secção intrigante. Ela diz que a China «se tornou um facilitador decisivo da guerra da Rússia contra a Ucrânia». O termo «facilitador decisivo» atraiu uma atenção significativa na China, onde o governo condenou imediatamente a caracterização da OTAN sobre a guerra na Ucrânia. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse que a declaração da OTAN «é mal motivada e não faz sentido». Pouco depois de as tropas russas terem entrado na Ucrânia, Wang Wenbin, do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que «a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas e mantidas». Isso é exactamente o oposto de incentivar a guerra e, desde então, a China tem apresentado propostas de paz para acabar com ela. As acusações de que a China forneceu à Rússia «ajuda letal» não foram comprovadas pelos países da OTAN e são negadas pela China.

Lin Jian fez duas perguntas importantes na conferência de imprensa de 11 de Julho de 2024 em Pequim: «Quem exactamente está alimentando as chamas? Quem exactamente está ‘possibilitando’ o conflito?». A resposta é clara, pois é a OTAN que rejeita qualquer negociação de paz, são os países da OTAN que estão armando a Ucrânia para prolongar a guerra e são os líderes da OTAN que querem expandir a OTAN em direcção ao leste e que negam o apelo da Rússia por uma nova arquitectura de segurança (tudo isso é demonstrado pela parlamentar alemã Sevim Dağdelen em seu novo livro sobre os 75 anos de história da OTAN). Quando o húngaro Viktor Orban – cujo país ocupa a presidência semestral da União Europeia – foi à Rússia e à Ucrânia para falar sobre um processo de paz, foram os países europeus que condenaram essa missão. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, respondeu com uma dura repreensão a Orban, escrevendo que «o apaziguamento não deterá Putin». Paralelamente a esses comentários, os europeus e os norte-americanos prometeram fornecer à Ucrânia fundos e armas para a guerra. Surpreendentemente, o novo secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, até permitiu que a Ucrânia usasse um jacto F-16 da Holanda, dado à Ucrânia quando Rutte era o primeiro-ministro daquele país, para atacar o território russo. Isso significaria que as armas de um país da OTAN seriam usadas directamente para atacar a Rússia, o que permitiria que a Rússia respondesse contra um estado da OTAN.

A declaração da OTAN que caracteriza a China como um «facilitador decisivo» permitiu que a aliança atlântica defendesse sua operação «fora de área» no Mar do Sul da China como parte da defesa de seus parceiros europeus. Foi isso que permitiu que a OTAN afirmasse, como afirmou o secretário-geral cessante Jens Stoltenberg em uma conferência de imprensa, que a OTAN deve «continuar a fortalecer nossas parcerias, especialmente no Indo-Pacífico». Esses parceiros do Indo-Pacífico são Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul. É interessante notar que o maior parceiro comercial de três desses países não são os Estados Unidos, mas a China (o Japão é a excepção). Até mesmo os analistas do Reserva Federal dos EUA concluíram que «não se prevê uma desvinculação dos processos de produção e consumo globais da China». Apesar disso, esses países aumentaram de forma imprudente a pressão contra a China (incluindo a Nova Zelândia, que agora está ansiosa para se juntar ao Pilar II do Tratado AUKUS entre a Austrália, os Estados Unidos e o Reino Unido). A OTAN disse que continua aberta a um «engajamento construtivo» com a China, mas não há nenhum sinal de tal progresso.


Artigo republicado no âmbito de uma parceria com a Globetrotter, editado pelo AbrilAbril a partir de uma tradução de Raul Chiliani para a Revista Opera.

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