Em Janeiro, centenas de trabalhadores viram afectadas as suas colheitas pelas chuvas fortes que devastaram algumas cidades no estado de Minas Gerais (Sudeste do Brasil). Agora, com a pandemia do novo coronavírus, cerca de 350 mil trabalhadores rurais lutam para conseguir manter e escoar a produção.
«São duas facadas num lugar só, então o sangramento está grande», lamentou Lucimar Martins, trabalhadora rural e coordenadora da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf/MG).
Com o isolamento social, feiras e escolas estão fechadas – uma situação que tem impacto directo nas famílias de agricultores, uma vez que o escoamento da produção costumava ter lugar nas feiras e por via de programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos.
«A gente vai perder muito produto porque as escolas consomem muita coisa. A gente não sabe o que fazer, o governo precisa de ajudar a gente», disse ao Brasil de Fato a agricultora familiar Sonia Terezinha, residente na cidade de Simonésia (região oriental de Minas Gerais, perto da fronteira com o estado de Espírito Santo).
Maira Santiago, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entende que a actual situação dos agricultores familiares resulta também de um longo processo nacional de desmantelamento do sector.
«Esse enfraquecimento da produção familiar vem desde o golpe de 2016, com a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e intensificou-se com os cortes no orçamento de programas e políticas públicas no ano passado», sublinhou, aludindo às políticas nefastas para o sector dos governos de Temer e de Bolsonaro.
Exigência de apoios às famílias e à produção
Para fazer frente este período de crise, os trabalhadores rurais exigem ao governo estadual medidas de apoio às famílias e à produção, informa o Brasil de Fato. Na semana passada, dezenas de organismos do sector assinaram a «Plataforma Estadual de Emergência», um documento em que exigem ao governador do estado de Minas Gerais, Romeu Zema, acções como a compra directa de alimentos aos agricultores familiares e em áreas da reforma agrária.
Para Lucimar Martins, esta medidas afiguram-se urgentes e salvaguardariam tanto os agricultores como a restante população mineira. «O que vai definir se o povo na cidade vai [enfrentar] ou não falta de abastecimento é o governo. Porque plantar nós continuamos plantando, agora precisamos de saber é como esse alimento vai chegar à mesa do povo», alertou.
O texto «Plataforma Estadual de Emergência», divulgado no passado dia 2, foi assinado por mais de 190 organizações em Minas Gerais, com propostas e exigências que os signatários consideram urgentes, «nestes tempos de crise na saúde pública e na economia», nas áreas da saúde, trabalho e educação, de modo «a garantir a vida e os serviços básicos para os mais pobres e sanar a insuficiência das medidas até agora anunciadas pelos governos Bolsonaro e Zema» – ambos acusados de «adiar iniciativas que são urgentes para salvar vidas», lê-se no portal do MST.
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