Milhares de neonazis (cerca de 6000) juntaram-se na segunda-feira em Chemnitz, a terceira maior cidade do estado alemão da Saxónia, para se manifestarem contra a presença de «estrangeiros» no país. Tratou-se do segundo dia de violentos protestos racistas e xenófobos, depois de, na madrugada de domingo, um homem de 35 anos ter sido assassinado, alegadamente, por dois refugiados de países do Médio Oriente.
Algumas fontes referem-se à violência registada como resultante de uma espécie de confronto entre «radicais» de extrema-direita e de extrema-esquerda (uma contramanifestação reuniu cerca de mil pessoas), mas também há quem sublinhe que «os fascistas andaram à caça» – de estrangeiros, refugiados e migrantes.
O portal El Salto informa que certos espisódios ocorridos na segunda-feira fizeram lembrar os «pogroms», com os neonazis a «atacarem, apredejarem e espancarem estrangeiros e quem se atravessava no seu caminho» que não parecesse alemão, e gritando palavras de ordem como «Fora com os estrangeiros!» ou «Alemanha para os alemães».
Procurando não deixar esmorecer a onda racista e xenófoba, o movimento anti-imigração Pegida, o movimento neonazi local Pro Chemnitz e o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) convocaram novas manifestações para hoje e para o próximo sábado, em Chemnitz, contra a presença de refugiados e migrantes na Alemanha.
Jörg Meuthen, dirigente da AfD (actual terceira força no Bundestag e com uma forte presença na região de Chemnitz), disse que «não está a incendiar os ânimos» e defendeu que as manifestações da extrema-direita «reflectem o mal-estar da sociedade com a chegada de mais de um milhão de estrangeiros ao país desde 2015».
A chanceler da maior potência capitalista europeia, Angela Merkel, repudiou o «incitamento à violência xenófoba» e condenou «as perseguições, os motins, o ódio nas ruas», mas sem se referir à exploração dos refugiados na Alemanha, às guerras de agressão imperialistas que, na Ásia, no Norte de África ou no Médio Oriente, levaram milhões de pessoas a abandonar os seus países ou ao panorama socioeconómico na antiga Alemanha Oriental no período pós-reunificação.
A fuga do mandado
Dois refugiados, originários de países do Médio Oriente, foram acusados na segunda-feira de matar um homem de 35 anos, num festival na cidade de Chemnitz, na madrugada anterior.
Entretanto, veio a público que o mandado de detenção de um deles – com dados sobre os suspeitos do ataque (incluindo a morada de um deles), o juiz responsável pelo caso, a vítima mortal e testemunhas – apareceu na segunda-feira em portais de extrema-direita.
O facto está a ser encarado pelas autoridades da Saxónia e federais como um «escândalo», na medida em que a divulgação do mandado terá partido de uma fonte policial, e está ser visto como um dos elementos que terão ajudado a fomentar a manifestação anti-imigração.
Martin Dulig, vice-presidente e ministro da Economia da Saxónia, disse a uma TV local que «a atitude de alguns agentes da Polícia [para com a extrema-direita] é completamente inaceitável, sabendo que estão a cometer um crime», refere a PressTV.
Sublinhou que se trata de um «problema grave», que o Ministério Público já está a investigar, mas defendeu que não é «uma ocorrência habitual».
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