Na semana passada, mais de 100 pessoas realizaram uma mobilização em Lewisham, com o intuito de gerar maior sensibilização para a questão da fome crescente nesta região do Sudeste de Londres.
Segundo refere o periódico Morning Star, tratou-se da primeira de várias «marchas da fome» que devem ter lugar este ano na Grande Londres, organizadas pela secção local da campanha Right to Food (Direito à Alimentação).
Casos de pobreza alimentar nas escolas londrinas têm vindo a público, no contexto da crise do custo de vida no Reino Unido, à medida que activistas de base realizam protestos e exigem medidas para fazer frente ao problema.
Anne Williams, que organizou a mobilização em Lewisham, disse ao periódico britânico que o nível de necessidade que vêem em todas as idades é «absolutamente tremendo».
«Há 43 bancos alimentares em Lewisham», disse. «Porquê? Isso é em si mesmo revoltante, porque não devia haver bancos alimentares», acrescentou Williams, que há dez anos trabalha nesta área.
«As nossas crianças devem ser alimentadas, é simples. Aprendem melhor, o seu bem-estar mental, tudo. É absolutamente incorrecto que sejam privadas disso», sublinhou.
A campanha exige refeições gratuitas para todas as crianças, que, actualmente, enfrentam uma espécie de «lotaria dos códigos postais», com apenas quatro distritos (boroughs) a darem ajuda a todos os alunos.
Sharon Noonen-Gunning, responsável da London Right to Food, destacou as desigualdades no acesso à alimentação de emergência na capital do país.
«O conceito de alimentar todos aqueles que necessitam simplesmente não existe, varia de área para área, pelo que tem de ser equilibrado», explicou, exigindo ao município londrino que organize o fornecimento de comida, incluindo refeições escolares grátis para os estudantes da primária e do secundário.
Estudantes com fome, cansados, sem rendimento
Phoebe Stott, estudante de 16 anos e residente na região de Lewisham, diz que muitas vezes partilha a sua comida com amigos que têm fome mas não são elegíveis para refeições escolares gratuitas de acordo com os actuais critérios.
A estudante disse que vê o impacto devastador da pobreza alimentar na sua escola, onde alguns colegas se vêem forçados a pedir dinheiro na cantina, para comprar snacks. Outros simplesmente não comem.
«Vemos alguns mesmo cansados», disse ao Morning Star, acrescentando que, por sentirem fadiga, não querem fazer nada nas aulas e que isso os prejudica bastante.
Phoebe, que tem direito a refeições gratuitas, critica os critérios de escolha, porque deixam crianças a passar fome.
Actualmente, no Reino Unido, todas as crianças entre os quatro e os sete anos têm direito a refeições escolares gratuitas, mas, depois disso, perdem o benefício todas aquelas cujas famílias tenham um rendimento superior a 7400 libras por ano.
De acordo com o Child Poverty Action Group (Grupo de Acção contra a Pobreza Infantil), 3,9 milhões de crianças vivem em situação de pobreza no Reino Unido. Destas, 800 mil não têm direito a refeições escolares gratuitas, estima a organização.
«De repente, não podem comer porque a mãe não lhes deu comida porque não tinha dinheiro para pagar a renda, as facturas e depois a comida na escola», disse Phoebe, preocupada com os colegas.
Para a estudante, as crianças «devem ter direito à alimentação».
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