A pouco mais de um ano da realização dos Jogos Olímpicos de 2024 no território francês, com parte principal das competições a ter Paris como cenário, o evento vem merecendo crescente discussão pública no país. Se, por um lado, a realização destes grandes eventos é cada vez mais colocada em causa pelos seus impactos negativos, no que toca às finanças das estruturas públicas de países e cidades, no impacto climático que impõem e numa certa desregulação da vida de quem vive nas cidades, por outro lado, numa França marcada pela contestação social, é natural que cada nova informação sobre os Jogos Olímpicos mereça uma atenta reflexão da parte das populações.
É óbvio que Emmanuel Macron tenta instrumentalizar a realização deste evento desportivo como um momento simbólico da sua Presidência, atraindo atenções sobre a sua atuação política que se tem revelado, de forma mais evidente após a reeleição, levada ao sabor de caprichos pessoais e alguma incapacidade de leitura da sua própria situação, perante os franceses e perante o mundo. O seu desejo de realizar a cerimónia de abertura nas ruas do centro de Paris, confundido evento e parada, tem levado a uma enorme preocupação da parte de quem terá em mãos o garantir da segurança.
«É óbvio que Emmanuel Macron tenta instrumentalizar a realização deste evento desportivo como um momento simbólico da sua Presidência»
Por outro lado, o anúncio da instalação de sistemas de videovigilância com inteligência artificial parece prolongar uma certa tendência de controlo que, ao mesmo tempo que se tem gerado uma preocupação com a atuação da polícia junto dos manifestantes nas ruas francesas, parece atacar de forma evidente os direitos da população. Sob o manto da segurança, impõem-se soluções cujas consequências não são fáceis de prever, nem de medir, em antecipação, preocupando todos aqueles que olham para a cidade e para o país de uma forma mais lata do que apenas como um território para a realização de eventos.
Finalmente, numa organização que é feita com elevado investimento público, o acesso das populações aos momentos competitivos tem sido limitado por um preçário exageradamente elevado, questionado por muitos que procuraram adquirir bilhetes nas primeiras fases de disponibilização, revelando-se impossível que famílias francesas acorram aos eventos e transformando o investimento público num apoio a um evento que não se escapa à etiqueta de elitista. Muito à imagem daquilo que era o sonho de Coubertin.
Com tudo isto, os Jogos Olímpicos de Paris vão-se fazendo à custa e nas costas dos desejos dos franceses. Um erro mil vezes repetido por quem não entende o poder transformador que o desporto pode e deve ter.
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