No discurso do Estado da União, feito uma vez por ano perante os membros do Parlamento Europeu, Ursula von der Leyen traçou um conjunto de aspirações e auto-elogios, nomeadamente no que toca à pandemia e à campanha de vacinação, não obstante a gestão de ambas ter ficado amarrada aos interesses dos grandes grupos farmacêuticos e de querelas geopolíticas.
Veja-se a questão do levamentamento de patentes, a que inclusivamente o deputado do PS, Pedro Silva Pereira, se opôs, criticando a «ligeireza da questão», mas também o certificado de vacinação, que deixou de fora outras válidas, como, por exemplo, a vacina russa Sputnik V. Por outro lado, não se ouviu a presidente da Comissão Europeia a propósito do esforço realizado pelos serviços públicos de saúde.
Ursula von der Leyen, que disse estarmos numa era de «rivalidades regionais e de grandes potências que se vigiam entre si», reclamou a necessidade de uma «União de Defesa Europeia».
«Haverá missões em que a NATO ou a ONU não estarão presentes, mas em que a UE deverá estar», sentenciou a presidente da Comissão Europeia, que aproveitou para anunciar a realização de uma cimeira europeia em 2022, em parceria com a presidência francesa da UE, bem como a intenção de discutir uma nova parceria com a NATO.
Com o argumento de ser preciso «melhorar a interoperabilidade», Von der Leyen fez saber que está já em curso o investimento em plataformas europeias comuns, desde aviões de combate a aeronaves não tripuladas, passando pelo ciberespaço.
Neste âmbito, a responsável sugeriu mesmo a possibilidade de «renunciar à cobrança de IVA aquando da aquisição de equipamento de defesa desenvolvido e produzido na Europa» como forma de «reduzir as nossas dependências actuais».
Entre as questões abordadas em Estrasburgo por Ursula von der Leyen estiveram as alterações climáticas, sem nunca ligar o problema ao sistema económico e social vigente, nem ter em conta as consequências que tem para países como Portugal a desindustrialização que tem sido levada a cabo a pretexto da transição energética, nomeadamente no que toca ao desemprego e a uma maior dependência externa.
Num discurso que se pretendia emotivo, ao longo de cerca de uma hora, a presidente da Comissão Europeia começou por falar da «alma» e da «vontade política» da União Europeia, citando um dos testa de ferro do projecto de integração capitalista, Robert Schuman.
Entre os exemplos está a chamada «União Europeia da Saúde», que, realçou Von der Leyen, está em curso através da Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (HERA, na sigla em inglês). Apresentada como «um trunfo» para enfrentar futuras ameaças para a saúde, não é mais do que uma nova estratégia para transferir competências nacionais para Bruxelas.
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