A mostra resulta de uma parceria entre o Município do Barreiro e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, assinalando um momento icónico da História do Barreiro do século XX, da resistência ao Estado Novo e da luta pela liberdade e pela paz.
Assinalando os 80 Anos da «Jornada de Agitação e Luta de Fevereiro de 1935» no Barreiro, a Câmara Municipal, com esta exposição, vem homenagear todos aqueles que, na madrugada do dia 28 de Fevereiro de 1935, por toda a Vila do Barreiro, Lavradio e até Alhos Vedros, colaram e distribuíram manifestos e tarjetas com várias paravras de ordem: «Contra a guerra imperialista e o fascismo», «Contra a ditadura de Salazar», pelo apoio ao «Socorro Vermelho Internacional», pela «Jornada de 7 horas sem redução de Salários», entre outras reivindicações. Colam em portas, paredes, janelas, candeeiros. Às centenas.
«Durante as últimas horas da madrugada, a GNR percorreu todo o concelho. Arrancando tarjetas e manifestos, cobrindo com cal as inscrições nas paredes, retirando as bandeiras hasteadas nas ruas»
Nessa mesma noite, foram hasteadas bandeiras vermelhas em algumas das principais ruas do Barreiro e uma delas, a maior, na qual alguém pintara uma foice e um martelo e as iniciais P.C.P., foi colocada na chaminé das Oficinas Gerais da CP, no alto dos seus 36 metros, avistando-se em toda a Vila.
Durante as últimas horas da madrugada, a GNR percorreu todo o concelho. Arrancando tarjetas e manifestos, cobrindo com cal as inscrições nas paredes, retirando as bandeiras hasteadas nas ruas. Restou a Chaminé das Oficinas Gerais da CP. Aí, a bandeira vermelha hasteada durante a noite lançará o seu desafio até meio da manhã, e toda a Vila a viu.
Foram necessárias equipas técnicas da CP para subir os 36 metros da Chaminé das Oficinas Gerais e retirar a bandeira vermelha. Nos dias que se seguiram, a GNR, a PVDE e as Autoridades Administrativas prenderam, interrogaram e acusaram 35 cidadãos de participação no «Processo das Bandeiras». Acácio José da Costa é um dos envolvidos. Preso a 16 de Março de 1935, ele passa pela prisão do Aljube, pela Fortaleza Militar de Peniche, novamente pelo Aljube e, finalmente, por Caxias. É julgado e condenado no Tribunal Militar Especial de Lisboa em 15 de fevereiro de 1936. A pena: 18 meses de prisão correcional e perda de direitos políticos por 5 anos.
A 6 de Setembro de 1936, depois de integralmente cumprida a pena de prisão em que fora condenado, Acácio José da Costa verá serem-lhe aplicadas «medidas de segurança» que, na prática, permitiram à PVDE mantê-lo em prisão preventiva indefinidamente.
A 17 de Outubro de 1936, ele integrará as primeiras levas de presos políticos enviados para a Colónia Penal do Tarrafal, onde passará os 8 anos seguintes.
Em Cabo Verde, cruzar-se-á, entre muitos outros, com J. Nobre Madeira, outro barreirense, e Bento Gonçalves, Secretário-geral do Partido Comunista Português, que perderá a vida no Tarrafal em 1942.
Acácio José da Costa é liberto a 12 de Outubro de 1944, nove anos e sete meses depois da sua detenção.
É esta a história contada aos visitantes da exposição, independentemente da sua idade, porque, segundo a organização, «cabe a cada um de nós travar a batalha da memória».
«Aprisionadas» nos arquivos policiais durante todo este tempo, o retorno das bandeiras ao local de origem – o Barreiro – constitui um momento de homenagem aos participantes e, simultaneamente, «de reflexão sobre um período negro da História de Portugal e muito particularmente da história de gerações de barreirenses».
A exposição pode ser visitada, gratuitamente, de 3ª feira a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h, até ao final do ano de 2016.
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