A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) pôs em marcha uma petição para dar seguimento a uma exigência que, não sendo nova, e já houve várias resoluções da Assembleia da República neste sentido, ganha especial actualidade quando se avizinham os 50 anos da Revolução de Abril.
Durante mais de quarenta anos funcionou na Rua do Heroísmo, no edifício confinante com o Cemitério do Prado do Repouso, a delegação no Porto da polícia política da ditadura fascista, com os nomes que teve (PVDE, PIDE e DGS).
A URAP recorda que ali estiveram presas mais de 7600 pessoas, entre mulheres e homens, cujo delito era o de lutarem pela democracia, a liberdade, a paz, a justiça social. «Por isso tantos foram agredidos e torturados, em pelo menos dois casos, até à morte», frisa-se no texto da petição.
Sob tutela do Ministério da Defesa, em 1977 o edifício foi transformado em Museu Militar, mas nem por isso pararam de crescer «as vozes e testemunhos individuais e colectivos dos que entendem que a memória da luta contra a repressão fascista deve ser preservada junto das novas gerações» e que o «espaço natural para um Museu que guarde a memória da resistência é o edifício da Rua do Heroísmo, onde a polícia política exerceu durante décadas a sua tenebrosa função».
Os primeiros subscritores, como o deputado na Assembleia Constituinte Adelino Teixeira Carvalho, o ex-preso político Domingos Oliveira, a médica Joana Bordalo e Sá, o jornalista Alfredo Maia e o historiador Manuel Loff, entre muitos outros, nomeadamente dirigentes da URAP, recordam aspectos que apoiam o projecto museológico promovido pela União de Resistentes Antifascistas.
A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) assinala o segundo aniversário da petição que travou a concessão do Forte de Peniche a privados, numa sessão pública, a partir das 18h, em Lisboa. Foi a 5 de Outubro de 2016 que deu entrada na Assembleia da República uma petição com 5000 assinaturas com o objectivo de travar a intenção do Governo de concessionar o Forte de Peniche para fins hoteleiros. Para assinalar a efeméride, a URAP realiza esta tarde, pelas 18h, na Casa do Alentejo, um «fraterno convívio entre democratas», onde serão prestadas informações sobre o processo de criação do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que é também fruto da luta dos antigos presos da Cadeia de Peniche. Entre os primeiros subscritores do abaixo-assinado em defesa da memória dos que lutaram contra a ditadura de Salazar estiveram José Pedro Soares, Marília Villaverde Cabral, Domingos Abrantes, António Borges Coelho, Catalina Pestana, José Barata Moura, Paulo de Carvalho, Viale Moutinho, Sérgio Godinho e Maria do Céu Guerra. Na comunicação da iniciativa desta tarde, a URAP recorda que, no Forte de Peniche, «em condições terrivelmente opressivas, cumpriram penas de prisão por motivos políticos 2498 antifascistas». A identificação de 2494 deles, entre outros coneúdos, surge no livro Forte de Peniche – Memória, Resistência e Luta, cuja primeira edição foi lançada pela URAP em Abril do ano passado. Ontem, nos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo, na Terceira (Açores), foi feita uma apresentação prévia do livro As prisões políticas de Angra do Heroísmo – Fortaleza de São João Baptista e Forte de São Sebastião (Castelinho). Segundo um levantamento feito pela URAP, durante o fascismo passaram por Angra cerca de 500 presos políticos, dos quais 40 açorianos e duas mulheres. Entre 1933 e 1943, recebeu alguns dos mais destacados dirigentes do movimento sindical da época, como Mário Castelhano, Bento Gonçalves, Sérgio Vilarigues ou José Gregório. Bento Gonçalves, primeiro secretário-geral do PCP, esteve na Fortaleza de São João Baptista, antes de ir para o Tarrafal, onde acabou por morrer. Entre os primeiros presos políticos a rumar a Angra do Heroísmo terão estado também os operários vidreiros da Marinha Grande, que a 18 de Janeiro de 1934 se revoltaram contra a ditadura e as condições de vida da época. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
Ex-presos comemoram luta em defesa do Forte de Peniche e criação de museu
Passaram 500 por Angra do Heroísmo
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Em 2004, o Governo Civil do Porto mandou afixar uma placa onde se refere «Homenagem do povo do Porto – Aos democratas e antifascistas que neste edifício foram humilhados e torturados pela PIDE/DGS». Também em frente da entrada foi colocada uma escultura em memória da engenheira Virgínia Moura, uma das muitas mulheres que ali estiveram presas.
«É por isso de apoiar e valorizar o projecto museológico, promovido pela URAP, "Do Heroísmo à Firmeza – percursos da memória na casa da PIDE do Porto 36/74", bem acolhido pela Assembleia da República, em sessão plenária de Julho de 2015, pela Direcção-Geral de Arquivos e pelos responsáveis do Museu Militar do Porto e respectiva hierarquia militar, e objecto do Protocolo assinado em 1 de Setembro de 2015 pelo Exército Português e pela URAP», refere-se no texto.
Os signatários defendem a necessidade de se desenvolver este projecto para que o público tenha acesso a novos espaços e melhor conhecimento do funcionamento da prisão», preservando «mais consistentemente» a memória da luta antifascista.
Neste sentido, apelam ao Governo e às chefias militares que, sem prejuízo do projecto museológico em curso, tomem as medidas necessárias para a criação do Museu da Resistência Antifascista no Porto, no edifício do Heroísmo, com o envolvimento da URAP.
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