Reeleito líder do PS com um resultado provisório de 96%, no congresso realizado este sábado, o primeiro-ministro admitiu discutir «no momento próprio» propostas de aumentos salariais na função pública, preferindo usar eventuais folgas orçamentais a contratar funcionários públicos.
Contrariando as pretensões dos partidos à esquerda do hemiciclo, António Costa afirmou ao DN que, para o Orçamento do Estado de 2019, é necessário encontrar equilíbrios entre as várias posições, prometendo, porém, que continuarão a ser descongeladas as carreiras na função pública.
«Vamos ter de conseguir um equilíbrio entre aquilo que é a recuperação de rendimentos, que vai ter de prosseguir para os funcionários como para todos os portugueses, e preencher muitas carências que há na administração», afirmou, referindo-se ao aumento de 350 milhões previstos no Programa de Estabilidade de aumento do investimento com o conjunto da administração pública.
O chefe do Executivo lembrou ainda que, nos últimos anos, quem ganha o salário mínimo teve ganhos de 15%, um valor ainda assim abaixo do que a CGTP-IN e o PCP têm reivindicado.
Quanto aos aumentos na função pública, acrescentou, «é um tema que será discutido seguramente na negociação no momento próprio» – uma evolução relativamente ao ministro das Finanças que, numa reunião da concertação social, afastou esse cenário, na versão apresentada pelos sindicatos.
Numa resposta às reivindicações por parte do PCP e do BE sobre um maior investimento nos serviços de saúde, educação ou transportes, Costa escudou-se dizendo que também para estes partidos a redução da dívida era uma prioridade, advertindo que se o valor do défice aumentasse, «voltávamos a pagar mais juros e em vez de termos mais dinheiro para investir nos serviços públicos estávamos a dar mais dinheiro à banca para pagar os juros da dívida».
Macron: «uma grande força de energia para a Europa»
Na segunda parte da entrevista, conhecida hoje, António Costa abordou ainda temas europeus, afirmando que, por vezes, se diaboliza «excessivamente a posição da Alemanha», havendo «outros países que têm posições muitíssimo mais difíceis».
Já sobre o presidente francês, Emmanuel Macron, António Costa afirma que «tem representado uma grande força de energia para a Europa» e, inclusive, «ajudado muito a Comissão Europeia no debate sobre o futuro da Europa», além de dar «grande força a muitas das ideias» como as que «Portugal vinha defendendo sobre a reforma da zona euro».
«Não peçam para assinar de cruz»
Na primeira parte da entrevista, ontem divulgada, quando questionado sobre o Orçamento do Estado para 2019, António Costa afirmou: «Não tenho nenhuma razão para pensar que em 2019 não vamos ter o Orçamento aprovado, quando temos o de 2018, 2017, 2016».
Apesar do «optimismo», o primeiro-ministro adiantou em jeito de chantagem que, «no dia em que esta maioria não for capaz de produzir um Orçamento, esse é o dia em que este Governo se esgotou e, inevitavelmente, isso implica a queda do Governo».
Reagindo às palavras de António Costa, o secretário-geral comunista reiterou que «o PCP não desperdiçará nenhuma oportunidade para fazer avançar direitos e salários. «É isso que temos feito», frisou.
Já sobre a validação do documento, Jerónimo de Sousa alertou: «não peçam ao PCP para assinar de cruz seja o que for», acrescentando que o seu partido «honrará a palavra dada», mas não está disponível para dar «uma palavra no escuro».
Por seu lado, Catarina Martins, do BE, advertiu que o documento terá de ser discutido «sector a sector».
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