O descontentamento dos agricultores não é novo. As justas críticas às políticas levadas a cabo pelos sucessivos governos têm sido constantes. No caso deste último, a insatisfação tem sido constante, já que há muito se identificava uma política de abandono do mundo rural, de benefícios do agronegócio, de desrespeito pela Agricultura Familiar e de protecção da grande distribuição e da sua ditadura de preços impostos à produção.
O caldo estava criado e pouco faltava para acender o rastilho que levaria à transição para novas formas de luta. A gota de água, associada ao empobrecimento sentido, além da acção do Ministério da Agricultura de desprezo total pelos agricultores pela CNA, foi a reforma da Política Agrícola Comum e o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum no qual as ajudas diminuem e as regras complicam-se.
É neste complexo contexto, de empobrecimento e de legítimo sentimento de revolta que a luta dos agricultores se intensifica. Acompanhando todo este sentimento e tomando na sua acção o combate em todas as esferas pela resolução dos problemas que se encontra a CNA.
Após esta semana ter emitido uma nota em que dava conta que após a reunião da sua Direcção e do seu Conselho Nacional para analisar a situação dos Agricultores portugueses na sequência dos cortes conhecidos nas ajudas da PAC, a CNA e as suas associadas iriam promover um conjunto de iniciativas regionais de protesto (reuniões, concentrações de agricultores, marchas lentas e manifestações), a mesma esteve hoje presente em Bruxelas para dar voz à luta dos agricultores portugueses.
A organização representativa dos agricultores reuniu com o Comissário da Agricultura onde transmitiu, segundo a nota de imprensa «a enorme insatisfação dos agricultores, particularmente da pequena e média agricultura, face à degradação brutal dos seus rendimentos perante uma PAC manifestamente insuficiente para responder às necessidades do sector e perante a total ausência de regulação do mercado que resulta no esmagamento dos preços à produção». A CNA vincou ainda as suas preocupações com os acordos de livre comércio entre a EU e outros países, em especial com o acordo UE-Mercosul, o qual rejeita.
A par deste momento, a CNA participou ainda numa Mesa Redonda com o mote «PAC em Português», num evento que teve o tema «o Acesso à Terra, a Regulação do Mercado e o Reconhecimento da Agricultura Familiar no futuro da PAC». No evento, a delegação da CNA denunciou as consequências da última reforma da PAC, agora em vigor através do PEPAC e sublinhou ainda os cortes discriminatórios nos apoios às áreas baldias, que prejudicam severamente os agricultores e pastores das áreas montanhosas.
Numa longa discussão, foi ainda abordado a degradação dos rendimentos dos agricultores, em especial dos pequenos e médios, devido ao aumento brutal dos custos dos factores de produção e o esmagamento dos preços pagos à produção pelas grandes cadeias de distribuição. De forma construtiva foi apontada a um conjunto de medida que permitiriam solucionar todos os problemas identificados, como a necessidade de proibir a compra dos produtos agrícolas abaixo dos seus custos de produção, assim como assegurar preços justos à produção.
A delegação da CNA, após a mesa redonda, participou ainda na manifestação promovida pela Coordenadora Europeia Via Campesina, uma organização de pequenos e médios agricultores da qual é membro, assim com a organizações de vários países da Europa, para reclamar melhores rendimentos para todos os agricultores, uma PAC mais justa e solidária e o fim dos tratados de livre comércio.
A luta, no entanto, não fica por aqui. Indo ao encontro do sentimento legítimo daqueles que não se revêem nas políticas que só beneficiam agrários e a grande distribuição, para amanhã está agendada uma marcha de tratadores em Estarreja. A acção é promovida pela União dos Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro.
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