O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, lançou ontem o repto ao primeiro-ministro durante o debate quinzenal: deixar de pôr o défice à frente das necessidades do País e gastar tanto como se gastou a salvar bancos privados na floresta.
Desde 2008, o Estado já injectou na banca privada mais de 20 mil milhões de euros e o resultado, consumado ontem, é que nenhuma das instituições beneficiárias está sob controlo público. A lista de siglas é longa: BPN, BPP, BPI, BCP, BES, Banif.
Tendo em conta que parte do dinheiro foi emprestado – porque também foi para salvar a banca privada que a troika foi imposta aos portugueses – e que parte desse já foi recuperado, o saldo entre o deve e o haver é de 14,25 mil milhões de euros. Foi este o valor que usámos para perceber o que teria sido possível fazer na floresta se os últimos governos, em vez de salvar bancos, lhe tivessem dedicado este valor.
Usando como referência o valor, estabelecido em Janeiro, de 40 mil euros por seis meses de trabalho, os gastos com a banca pagavam 500 equipas de sapadores florestais, o objectivo traçado para 2019, durante 700 anos. Desde 2009 e até Março deste ano, só uma equipa foi constituída, em 2011, ainda antes da entrada em funções do governo em que Cristas assumiu a tutela, pelo município de Grândola.
Se tomarmos em conta apenas o custo da falência do Banif e da entrega do banco ao grupo espanhol Santander – mais de 2 mil milhões de euros –, este valor representa mais de 100 vezes o corte do governo do PSD e do CDS-PP na despesa do Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), a quem cabe a gestão das matas nacionais e das áreas protegidas, nas quais arderam mais de 25 mil hectares nos últimos dias.
Estes números reforçam o argumento de que os problemas da floresta portuguesa resultam de anos de desinvestimento público na prevenção dos fogos e na defesa da floresta contra incêndios. Não porque não houvesse dinheiro, mas porque foi canalizado para salvar da falência quem perdeu com a especulação bolsista e com os crimes económicos na banca.
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