Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita francesa, a União Nacional (antiga Frente Nacional), veio a Lisboa apoiar o candidato a presidente da República, André Ventura, considerando que este representa a entrada de Portugal «numa nova era, na modernidade política do mundo».
Porém, pouco há de «moderno» em propor políticas contra os migrantes e refugiados para desresponsabilizar aqueles que impuseram as medidas económicas que têm castigado os que vivem do seu trabalho. Milhares de pessoas que fogem da pobreza e da guerra em busca de uma vida melhor são assim utilizadas pelos partidos de extrema-direita como bode expiatório, tentando apagar as décadas de políticas de favorecimento dos grandes interesses económicas que apoiam, por sua vez, o crescimento destas forças.
Neste sentido, também a União Europeia que tanto criticam adopta medidas como a chamada união fortaleza, para fazer esquecer a sua política bélica que está na origem dos fortes fluxos migratórios.
Usando uma narrativa «anti-sistémica», estes partidos alimentam-se um pouco por toda a Europa do caldo de cultura criado pela falta de resposta das políticas receitadas pela UE para responder à crise economica. No entanto, a extrema-direita não visa combater verdadeiramente a UE e o seu projecto de integração. Pelo contrário, apoia os caminhos para a sua militarização, subscreve medidas orçamentais que atacam os trabalhadores e as funções sociais dos estados, muitas vezes lado a lado com aqueles partidos que nos trouxeram até aqui.
Com a grande percentagem de portugueses em França, importa lembrar as palavras de Marine Le Pen em entrevista ao Expresso, em Outubro do ano passado: «Reservo primeiro o meu humanismo para os meus, para os franceses». Tal afirmação está em linha com o programa do seu partido no que concerne às comunidades portuguesas.
O partido de extrema-direita francês defende o fim do «direito do solo», retirando a possibilidade de descendentes de cidadãos portugueses requererem a nacionalidade francesa, o fim do acesso à segurança social francesa por cidadãos portugueses residentes em França, ou seja, o acesso à reforma, subsídio de desemprego e de maternidade, e a eliminação do ensino da língua portuguesa nas escolas.
Os perigos da extrema-direita na Europa e em Portugal são reais. Mas estas forças surgem com raízes conhecidas: crise económica e social e destruição de direitos a par de ataques à soberania dos estados, pelo que as medidas a adoptar no contexto da pandemia de Covid-19 são determinantes para não alimentar o crescimento destas falsas soluções.
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