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Eleições: Direita usa imigração como fonte de discórdia para esconder concórdia

No debate que juntou os oito partidos com assento parlamentar, a crítica à extrema-direita foi elemento central. Na aparente discórdia proclamatória, na política de direita encontra-se a concórdia com o «projecto europeu» que criou o caldo que permitiu o crescimento do racismo e xenofobia.

Soam os alarmes do crescimento da extrema-direita por toda a Europa, crescimento esse que não está a ser devidamente enquadrado, nem explicado. Está criada a narrativa de um crescimento do vácuo, de uma ameaça que pura e simplesmente apareceu. PS, AD ou Iniciativa Liberal procuram distanciar-se, naturalmente, do discurso xenófobo e racista, apesar de ser a sua visão «europeia» que cria estes fenómenos com o impacto das suas políticas.

Assim como o AbrilAbril já tinha noticiado, apesar das trocas de argumentos em relação ao chamado «Pacote em matéria de migração e asilo» e da tentativa de demonstrar divergências, PS e AD convergiram na criação deste mecanismo que visa o reforço da «Europa Fortaleza». PS, PSD e CDS-PP têm convergência nas votações no Parlamento Europeu, mas, fora dele, a Iniciativa Liberal disse acompanhar a posição favorável do Renew Europe.

Eis que neste último debate que juntou os oito partidos com assento parlamentar, PS, AD e Iniciativa Liberal convergiram nas críticas à posição anti-imigração do Chega, sem nunca dizerem que também os partidos de extrema-direita, que partilham a matriz ideológica deste último, acompanham o «Pacote em matéria de migração e asilo» e a evolução da União Europeia. 

Claro está que a posição do Chega visa dividir os trabalhadores, colocar uns contra os outros, e, por essa mesma razão, é criado o espantalho da «imigração descontrolada». Foi esse mesmo discurso que levou Giorgia Meloni e o Fratelli d'Italia ao poder em Itália, e foi esse mesmo discurso que mereceu apoio institucional da Comissão Europeia. Importa recordar que Von der Leyen (candidata do PPE e da AD à Comissão Europeia) tem trabalhado proximamente de Meloni em várias questões, incluindo migração e estratégias políticas em África.

Actualmente, tanto o grupo Identidade e Democracia, assim como os Conservadores e Reformistas Europeus, que podem vir a juntar-se, têm na sua composição um grande número de partidos que vêem nas políticas levadas a cabo pela União Europeia um baluarte na defesa do que entendem que deve ser o rumo da Europa. 

Quer isto dizer que, além da política migratória, a direcção do projecto europeu no que toca aos elementos económicos e políticos, que PS, AD ou Iniciativa Liberal defendem e salvaguardam, são também acolhidos pela extrema-direita como o Chega. Ou seja, defendem a União Europeia que tem na sua génese um projecto de defesa do grande capital e da exploração. Se for para salvaguardar isso, a discórdia passa a concórdia. 
 

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