|racismo

Homicida de Bruno Candé condenado a 22 anos de prisão

Não restam dúvidas ao Tribunal de Loures. O assassinato do actor de 39 anos, a 25 de Julho de 2020, foi motivado por ódio racial e tratou-se de um acto premeditado.

Manifestação antifascista e antirracista em Lisboa, a 6 de junho de 2020 (foto de arquivo)
CréditosManuel de Almeida / LUSA

O Tribunal Colectivo deu como provada a acusação do Ministério Público. Evaristo Marinho, de 77 anos, foi condenado a 22 anos e nove meses de prisão efectiva, assim como ao pagamento de uma indemnização à família do actor, que deixa três filhos menores.

Bruno Candé foi atingido por seis tiros numa rua de Moscavide, Loures, disparados por uma arma que pertencia à PSP e que o arguido tinha em sua posse. Quatro dos tiros foram disparados quando já se encontrava no chão.

O homicida tentou justificar o porte da arma, no dia 25 de Julho, com um pressentimento, que o terá levado ao local onde tinha discutido com a vítima dias antes e onde já proferira vários insultos racistas, «vai para a tua terra, preto!», «tenho lá armas em casa do Ultramar e vou-te matar».

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Bruno, assassinado na sua terra

Bruno Candé Marques, actor da Casa Conveniente, foi assassinado em plena luz do dia este sábado. Antes dos tiros, ouviu insultos racistas que o mandavam «de volta para a sua terra». Até quando?

Bruno Candé Marques
CréditosBruno Simão

Foi assassinado este sábado Bruno Candé Marques, actor da Casa Conveniente e Zona Não Vigiada. Pai de três filhos, Bruno nasceu em Lisboa em 1980 e iniciou o seu percurso de actor no grupo de teatro da Casa Pia.

Sentado num banco, a passear a sua cadela, foi alvejado por um homem idoso com quem alegadamente tinha tido uma discussão por causa do animal de estimação, na passada quarta-feira. 

Um crime que será punido nos termos da lei, certamente. Mas importa falar dele para alertar para o que há de particular neste assassinato. Os insultos que Bruno ouviu antes de morrer mandavam-no «voltar para a sua terra». Quantas vezes por dia serão proferidos insultos deste tipo? Embora o discurso de ódio contra sujeitos racializados esteja longe de ser uma novidade, este tem sido cada vez mais legitimado, porque há mais espaço hoje do que há uns anos para esta narrativa no espaço público, a começar pela Assembleia da República.

O espaço que estas forças retrógadas têm vindo a ganhar, no poder e no campo mediático, permite tirar das gavetas, legitimar, e dar suporte àqueles que durante muitos anos apenas podiam afirmar os seus preconceitos entre dentes, por causa dos avanços conseguidos no 25 de Abril e dos valores progressitas desta revolução.

Todos os democratas devem tomar posição e impedir que volte a sair do esgoto um conjunto de valores que promovem a divisão e discriminação por forma a justificar as injustiças e desigualdades que prevalecem na sociedade.

O que nos divide não é o que nos torna distinguíveis uns dos outros, fisicamente ou culturalmente. O que nos divide é a ideia de que somos mais parecidos com o nosso patrão porque temos a mesma cor de pele do que do homem negro que trabalha na empresa ao nosso lado e que vive no nosso bairro.

Quantos é que somos, aqueles que vivem do seu trabalho e que vêem os seus direitos ser postos em causa quando se anuncia a próxima crise? A culpa de ter o meu emprego em risco é daquele com quem vou amontoado no autocarro às 7 da manhã cujos avós nasceram noutro país? Ou será dos que optam por direccionar a riqueza que eu e ele produzímos para manter os privilégios de um pequeno grupo?

A este pequeno grupo de privilegiados serve bem que desconfiemos do nosso vizinho, do nosso colega de trabalho, por causa da sua cor de pele.

Tipo de Artigo: 
Opinião
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Estilo de Artigo: 
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Autor de Artigo Livre: 
Inês Pereira

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A condenação, no entanto, é inequívoca: Evaristo Marinho agiu de forma premeditada e estava plenamante consciente dos seus actos. Um relatório produzido a pedido do Tribunal de Loures tinha já concluído que «toda uma organização anterior com vista à concretização de tal acto» descartava a tese de se tratar de um crime passional.

A Casa Conveniente – companhia de teatro onde o actor trabalhava desde 2011 – criticou a desvalorização da «execução sumária» por parte de alguns sectores da sociedade portuguesa, nos dias seguintes ao ocorrido.

Na sua conta do Twitter, o líder do partido Chega, André Ventura, afirmou, no dia seguinte ao assassinato, que «não há neste caso um pingo de racismo, nada neste homicídio aponta para crime de ódio racial». O Chega convocou uma conta-manifestação com o nome «Portugal não é racista», em resposta aos actos de homenagem e solidariedade com Bruno Candé.

Embora não tenha concordado com a realização desta manifestação, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, afirmou em comunicado «que não vale tudo para responder à retórica da extrema-esquerda e à sua visão do País que só existe na cabeça dos seus apaniguados», insinuando que o crime não teria motivações de ódio racial.

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