A líder do CDS-PP lembra-se de referências aos problemas do BES, após o então secretário-geral do PS, António José Seguro, ter sugerido a utilização da parte dos 12 mil milhões de euros do empréstimo da troika destinados à banca que ficaram por aplicar. Fora esta circunstância, Cristas não se recorda de outras referências, nem à Caixa Geral de Depósitos, nem ao Banif, e garante mesmo que nunca houve uma discussão «aprofundada» sobre o tema.
Mesmo a medida de resolução, que ditou o fim do BES com a injecção de 3,9 mil milhões de euros de capitais públicos, através do Fundo de Resolução, teve o seu acordo à distância, sem conhecer o dossiê. Cristas afirma que estava no início de férias e que foi Maria Luís Albuquerque que lhe telefonou a pedir que assinasse electronicamente o decreto-lei do governo que concretizou a medida.
Apesar de, aparentemente, parte dos membros do governo desconhecerem o que se passava no BES até à decisão estar tomada, no dia anterior à comunicação oficial da resolução do banco Luís Marques Mendes anunciava na antena da SIC o que se ia passar. O influente advogado, comentador, conselheiro de Estado e ex-líder do PSD, pelo menos no caso BES, estava mais bem informado que o próprio executivo.
PSD e CDS-PP canalizaram mais de 11 mil milhões para a banca
Durante a anterior legislatura foram vários os casos em que o executivo interveio no sistema financeiro. Se o caso do BES foi o mais relevante, até pela sua dimensão, os maiores bancos portugueses receberam dinheiros públicos sob a forma de empréstimos convertíveis em capital. Foi esse o instrumento utilizado na recapitalização da Caixa em 2012 e na injecção de capital no BCP, no BPI e no Banif, num total de 4,9 mil milhões de euros – um valor inferior à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos em curso, excluídos os 900 milhões injectados em 2012.
O valor global canalizado para o sector financeiro pelo anterior governo ascende a, pelo menos, 11,15 mil milhões de euros, entre obrigações, aumentos de capital e medidas de resolução. Destes, apenas 1,65 mil milhões foram destinados à recapitalização da Caixa.
De acordo com a então ministra da Agricultura, o primeiro-ministro considerava que a competência de decisão sobre matérias relacionadas com o sistema financeiro cabia ao regulador, o Banco de Portugal, e que o governo não devia discuti-las.
A banca «dá tanto trabalho e tantas preocupações»
Em entrevista ao Observador, em Janeiro, a presidente do CDS-PP abordou o futuro do Novo Banco para excluir liminarmente a manutenção da instituição na esfera pública, justificando que «não faz falta» mais um banco público.
Cristas explicou a sua posição, antes de se saber que enquanto foi ministra nunca discutiu o sistema bancário: «Eu confesso que a Caixa já dá tanto trabalho e, como se vê, tantas preocupações, que não vejo que Portugal e os portugueses ganhem em ter mais um banco na esfera do Estado, com franqueza.»
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