No segundo debate quinzenal do ano, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, foi fiel a si mesmo. Com a ajuda dos partidos da direita, discutiu temas laterais e quando confrontado com os reais problemas do país, procurou fugir.
Este último aspecto foi visível logo na abertura do debate. Luís Montenegro e André Ventura, mais uma vez, protagonizaram um debate que em nada dignifica a Assembleia da República. Casos judiciais e acusações de parte a parte serviram para preencher o espaço e futuras manchetes, mas para trabalhadores, reformados e pensionistas nem uma palavra.
No mesmo sentido esteve o líder da bancada parlamentar do PSD, Hugo Soares, que a cada intervenção procura deixar mais claro qual a táctica do Governo. O parlamentar procurou continuar a alimentar o debate estéril com a extrema-direita, enquanto teceu loas ao executivo liderado por Luís Montenegro, vendendo um país que não existe.
Neste momento, a única coisa que se retirou foi mesmo o anúncio do primeiro-ministro de uma reforma do Regime Jurídico de Instituições de Ensino Superior. Segundo o que foi dito, o novo regime, que será aprovado amanhã em reunião do Conselho de Ministros, visa «dar às Instituições mais condições no seu processo de autonomia». Em termos simples, o Governo procurará dar maior margem às universidades e politécnicos para procurarem mais auto-financiamento com entidades privadas e fazer com que o Estado deixe de assumir as suas obrigações.
Pelo Partido Socialista, Pedro Nuno Santos trouxe a debate a taxa de carbono e o ISP, alegando que o Governo confunde as duas e, como tal, houve um aumento da carga fiscal, ao contrário do que é dito. O secretário-geral do PS pegou ainda no SNS e confrontou o primeiro-ministro com os elevados tempos de espera e o caos no Hospital Amadora-Sintra. Na réplica, Luís Montenegro negou o cenário que estava a ser pintado e disse que das 54 medidas apresentadas, 31 estão executadas e concluídas.
Já Rui Rocha, que podia ter inovado nas bandeiras com a convenção do seu partido realizada no passado fim de semana, voltou à carga com o IRS Jovem, não no sentido de dizer que é uma medida que só serve os jovens endinheirados, mas para dizer que é preciso ir mais longe. A par desta questão, o presidente da Iniciativa Liberal questionou o chefe do executivo sobre os instrumentos anti-corrupção. Luís Montenegro garantiu que o executivo está «a reformar o sistema, a dar melhores condições do ponto de vista de recursos humanos», fazendo crer que existe alguma adesão à realidade.
À esquerda surgiu o confronto, do qual Luís Montenegro fugiu sempre. Mariana Mortágua perguntou sobre a posição do Governo relativamente às declarações de Donald Trump sobre Gaza e se não seria o melhor momento para finalmente reconhecer o Estado da Palestina. O primeiro-ministro limitou-se a dizer que «o mais importante é atender à situação do cessar-fogo» e, nunca referindo a posição americana, disse condenar «qualquer intervenção, propósito ou intenção de haver qualquer limpeza étnica».
Pelo PCP, Paulo Raimundo, considerando que está aberta uma nova fase de ataque aos direitos dos trabalhadores, sobre a intenção do Governo em reformar o sistema da Segurança Social, questionou quais seriam os sectores em que o Governo quer cortar o acesso à reforma antecipada. Mais uma vez, Luís Montenegro recorreu ao PS para não responder e deixou no ar que está apenas a seguir o caminho que foi iniciado pelo ex-governo.
Também numa pergunta directa, Paulo Raimundo perguntou por que é que «a botija do gás custa o dobro do que custa em Espanha», defendendo que «é possível ser fixada em 20 euros». Para terminar, o secretário-geral lançou um apelo ao Governo: que «livre o país de ficar com as mãos manchadas com o genocídio do povo da Palestina» e que «de uma vez por todas, reconheça o Estado da Palestina».
Numa resposta ao Livre, mas que serviu de resposta ao apelo de Paulo Raimundo, o primeiro-ministro quis mandar areia para os olhos de todos. Disse que estará «sempre do lado do direito internacional e humanitário», mas manteve a recusa em condenar as intenções norte-americanas, numa postura de cumplicidade com os crimes do imperialismo.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui