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Debate Quinzenal: entre bazófia e desculpas, Governo deixa trabalhadores no bolso

Na sua estreia em debates quinzenais, Luís Montenegro quis puxar para o seu Governo todos os méritos e, simultaneamente, alimentar a mentira do défice. Entre jogos de palavras para manchetes, a vida concreta do povo e dos trabalhadores não é digna de menção.

CréditosMiguel A. Lopes / Lusa

Adivinhava-se o estilo de Luís Montenegro. O primeiro-ministro puxou para si um espírito reformista para classificar uma governação que ainda só vai com pouco mais de um mês (33 dias). Desligado da realidade, o chefe do executivo puxou dos vários anúncios feitos pelo Governo e medidas aprovadas para tentar ilustrar uma suposta eficiência governativa.

Luís Montenegro voltou a falar de diálogo e do interesse nacional, e de seguida passou a anunciar aquilo que, no seu entender, foram os grandes feitos. Anunciou a descida do IRS (que afinal, em grande parte, já vinha do anterior governo do PS); anunciou a retoma das negociações com os sindicatos (que não estão a correr bem, havendo já ameaça de greve dos docentes); anunciou medidas para a habitação (que promovem a especulação imobiliária); e anunciou um novo aeroporto (sendo que prevê satisfazer os interesses da VINCI relativamente ao alargamento da Portela).

Na primeira intervenção de Luís Montenegro houve, então, espaço para tudo, mesmo que esse tudo seja próximo de nada e o que alguma coisa é, gravoso será. Não houve, em todo o discurso, espaço para os rendimentos dos trabalhadores nem para a situação económica e social do país.

Espaço houve para a tese do défice orçamental que dentro do país é dito aos sete ventos e no Eurogrupo guardado a sete chaves. Ainda que mais contido que Miranda Sarmento, talvez por ter entendido o erro político da mentira enfatizada para promover eventuais cortes, o primeiro-ministro procurou resolver a questão dizendo que «não temos uma situação de descontrolo orçamental, mas também não temos um "mar de rosas”», e apelidou o PS de «despesista», sem explicar em quê. 

A ronda de questões ao Governo começou com o PS, mais concretamente com Pedro Nuno Santos, a abrir as hostes precisamente sobre as obras de ampliação no aeroporto Humberto Delgado. O secretário-geral do PS, naturalmente, não questionou se tais obras eram no sentido de agradar aos interesses privados de quem detém a ANA, mas sim para saber quais os estudos técnicos em que incidia a decisão. 

Na ausência de uma resposta convincente, o PS procurou defender-se ainda da questão do défice orçamental, na linha da defesa esgrimida por Fernando Medina, e na senda do legado, procurou ainda defender o pacote «Mais Habitação» que, apesar de altamente insuficiente, o Governo AD dinamitou por completo. 

Quando chegou a vez do Chega questionar o Governo, nada de importante foi dito, apenas a espuma do dias. O Governo foi apenas confrontado com promessas suas relativamente à saúde e sobre o IRS foi constatada a artimanha óbvia do Governo. Ou seja, foi o próprio Governo a alimentar a demagogia e o populismo barato. 

Já a IL, sedenta de ir mais longe que o Governo no aprofundamento da injustiça fiscal, perdeu o decoro e assumiu frontalmente, pela voz de Rui Rocha, que «incomoda» a ideia de que os que têm mais rendimentos não devem ter baixa de impostos e que os alívios fiscais são insuficientes. Vestindo as vestes da bancada que defende os grandes rendimentos, a IL simulou preocupação social, enquanto valentemente salvaguarda os interesses de quem muito tem.

À esquerda do PS surgiram as primeiras críticas coerentes. Pelo Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, disse que quer saber quais as contrapartidas da VINCI para a localização do novo aeroporto e como ficará a concessão com a ANA. Já o primeiro-ministro contradiz-se na resposta, uma vez que, enquanto diz não haver cedências, diz também que ainda irá começar o processo negocial com o grupo francês que gere os aeroportos do país.

Já o PCP optou por colocar a crítica no todo da política do Governo. Da habitação à saúde, passando pelos baixos salários e benesses ao grande capital, Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP disse que fica claro que a política do Governo está ao serviço dos grandes grupos económicos. Já sobre o novo aeroporto, o líder dos comunistas vincou que o processo de novo aeroporto tem mesmo que avançar, apesar deste compromisso não ter aparecido no anúncio que o Governo fez ao país. 

Respondendo a Paulo Raimundo, o primeiro-ministro nunca foi capaz de dizer se achava que a banca e os fundos imobiliários devem ser chamados a responder aos problemas da habitação, ficando evidente qual o compromisso que o seu Governo tem. Fica patente em todo o debate que se depender da AD, o povo e os trabalhadores serão apenas nota de rodapé.
 
 

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