A Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou, esta segunda-feira, a resolução proposta pela Ucrânia sobre o «problema da militarização» da Crimeia e das águas dos mares Negro e de Azov.
O documento, intitulado precisamente «O problema da militarização da República Autónoma da Crimeia e da cidade de Sevastopol (Ucrânia), bem como de partes do Mar Negro e do Mar de Azov», contou com o apoio de 66 estados-membros, enquanto 19 se pronunciaram contra e 72 se abstiveram.
Na resolução, a Ucrânia afirma que a presença de forças militares russas na Crimeia viola a sua soberania nacional e a integridade territorial. O documento acusa também a Rússia de restringir a liberdade de navegação no Estreito de Kerch e condena o país euroasiático pela construção de uma ponte nesse estreito, a ligar o território continental à Península da Crimeia.
Antes da votação, a Assembleia Geral rejeitou as emendas ao texto propostas pelo Irão e a Síria, no sentido de o equilibrar, refere a agência TASS. As emendas continham referências aos acordos de Minsk (celebrados entre a Rússia, a Ucrânia e as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no Leste da Ucrânia).
Também solicitavam a realização de uma investigação profunda e transparente sobre o incidente ocorrido no Estreito de Kerch a 25 de Novembro último, e instavam as partes a respeitarem as suas fronteiras e não seguirem pelo caminho de «apelos retóricos perigosos».
Referendo nunca reconhecido e «provocação» no estreito
Recorde-se que a Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev – apoiado pela UE, os EUA e a NATO –, em que a maioria esmagadora da população da Crimeia se pronunciou a favor do reintegração na Rússia.
No passado dia 25 de Novembro, três navios da Armada ucraniana foram abordados e apreendidos pela Guarda Fronteiriça russa, depois de terem ignorado ordens sucessivas para pararem, quando avançavam em direcção ao Estreito de Kerch – que liga o Mar Negro ao Mar de Azov.
As autoridades russas acusaram os navios ucranianos de violação das águas territoriais russas, sem terem solicitado autorização para atravessar o estreito, acrescentando que o incidente foi uma «provocação» promovida pelo presidente ucraniano, Piotr Poroshenko, que enfrentava a aproximação das eleições presidenciais ucranianas com uma «taxa de desaprovação superior a 80%».
Poroshenko aproveitou para decretar uma lei marcial, aprovada na Rada Suprema, nas zonas do país situadas ao longo da fronteira com a Rússia, da fronteira entre a Ucrânia e a Moldávia, e ao largo das costas dos mares Negro e de Azov.
Resolução «enganadora» que «não irá mudar nada na Crimeia»
O vice-representante permanente da Rússia junto das Nações Unidas, Dmitry Polyansky, afirmou que estas decisões são um sinal para Kiev de que «tudo lhe é permitido e tudo lhe será perdoado», e que a Rússia «será o bode expiatório», indica a RT.
Ainda assim, destacou o grande número de países que se abstiveram na votação, «não querendo ter nada a ver com a conspiração ucraniana», e deixou claro que, «por mais resoluções enganadoras que sejam adoptadas», «nada se irá alterar na Crimeia ou em seu redor». «A chave para a resolução dos problemas regionais está em Kiev – ou melhor, em Washington, onde Kiev é controlada», frisou o diplomata.
Sobre o incidente no Mar de Azov, Polyansky disse que se tratou de «uma provocação elaborada, e que prossegue à frente dos nossos olhos». «Foi possível graças à aprovação dos Estados Unidos e de outros países, que alinham com a agenda das autoridades ucranianas», disse.
Sergey Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, disse esta segunda-feira que Kiev vai prosseguir as provocações junto à fronteira russa na Crimeia, e afirmou ter em seu poder informações de que Poroshenko está a planear um incidente até ao final do ano. Sublinhando que a Rússia não quer a guerra com a Ucrânia, disse que o seu país responderá duramente caso Poroshenko leve a cabo alguma provocação.
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