Em declarações ao programa «La Zanzara», da Radio24, Antonio Tajani, líder do Parlamento Europeu (PE) e vice-presidente da Forza Italia (que, tal como PSD e CDS-PP, integra o grupo do Partido Popular Europeu), afirmou que Mussolini, «até ter declarado guerra ao mundo inteiro, seguindo Hitler, e ter promovido as leis raciais [contra os judeus, a partir de 1938], além da questão dramática de Matteotti [dirigente socialista assassinado em 1924], fez coisas positivas», informa o portal askanews.it.
Tajani acrescentou que o líder fascista italiano «realizou infra-estruturas» no país: «Do ponto de vista dos factos concretos realizados, não se pode dizer que não tenha feito nada», frisou.
«Depois – disse – pode não se partilhar o seu método. Eu não sou fascista, nunca o fui e não partilho o seu pensamento político. Mas há que ser honesto: fez estradas, pontes, edifícios, centros desportivos, reabilitou tantas partes da nossa Itália. Quando se faz um juízo histórico, deve-se ser objectivo», sublinhou, citado pelo askanews.it.
Tajani defendeu que «as leis raciais foram uma loucura» e que «a declaração de guerra [II Guerra Mundial] representou um suicídio», mas, questionado pelo entrevistador sobre se algo se salva do fascismo, do «legado de Mussolini», Tajani acrescentou: «Certamente que sim. Claro que não era um campeão da democracia, mas algumas coisas fez. É preciso dizer sempre a verdade. Não é necessário ser faccioso no julgamento», sublinhou, insistindo que os fascistas italianos deixaram obra feita.
Depois das primeiras críticas por estas declarações, tanto em Itália como no PE, Tajani recorreu à sua conta oficial de Twitter para se defender, afirmando que «sempre [foi] um antifascista convicto» e que «não admit[e] que ninguém sugira o contrário».
Insistência no discurso de «normalização do fascismo»
O portal ilfattoquotidiano.it lembra que não é a primeira vez que «figuras políticas destacadas proferem declarações que tendem a reabilitar o fascismo e Mussolini». Antes de Antonio Tajani – bem conhecido pelo seu posicionamento anti-Venezuela bolivariana no PE –, já Silvio Berlusconi, seu companheiro de lides na Forza Italia, tinha dito, em Dezembro de 2017, que «talvez Mussolini não fosse propriamente um ditador».
Foi também Berlusconi que disse, pouco tempo antes, que o seu lema favorito era «Credere, obbedire, combattere» [«acreditar, obedecer, lutar»], o slogan oficial do Partido Nacional Fascista.
O portal italiano referido considera «incríveis» as afirmações «branqueadoras» proferidas por Tajani e pergunta como «um presidente do PE não reconhece a natureza do fascismo».
Os deputados do PCP no PE – João Ferreira, João Pimenta Lopes e Miguel Viegas – denunciaram no parlamento as «declarações inaceitáveis», proferidas por Antonio Tajani, que «procuram desculpabilizar o fascismo em Itália e no mundo», segundo divulgou Miguel Viegas na sua página de Facebook.
Os deputados comunistas portugueses exibiram cartazes em que se exige a demissão do presidente do PE e se afirma, em italiano, castelhano e inglês, «Fascismo nunca mais».
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