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Marcha pela desmilitarização dos territórios mapuche foi alvo de brutal repressão

Uma marcha pela paz e a desmilitarização da Araucânia, em Temuco (Chile), foi reprimida pelos Carabineiros. Os Mapuche afirmam que não havia algo assim desde a chamada «Pacificação da Araucânia».

Os Carabineiros chilenos carregaram com extrema violência sobre a marcha pela paz e a desmilitarização, em Temuco (Chile)
CréditosTomás González F. / Radio Universidad de Chile

Centenas de pessoas, provenientes de diversas comunas e localidades da Araucânia, região no Centro do Chile maioritariamente habitada por população indígena, concentraram-se esta quarta-feira na cidade de Temuco para participar numa mobilização pela paz e pela desmilitarização da região, reafirmar os direitos históricos do povo Mapuche e denunciar a sua violação pelo Estado chileno.

Os manifestantes – entre 600 e mil, consoante as fontes – queriam também evocar a figura de Camilo Catrillanca, que, com 24 anos de idade, foi morto a tiro por agentes do Grupo de Operações Policiais Especiais (GOPE) dos Carabineiros, em Novembro do ano passado. Desde o assassinato do jovem mapuche, que motivou inúmeros protestos em todo o país, as manifestações têm sido mais frequentes na Araucânia.

De acordo com a Radio Universidad de Chile e o Resumen Latinoamericano, a marcha não conseguiu sequer avançar 100 metros, uma vez que os Carabineiros e o seu corpo de Forças Especiais carregaram sobre as pessoas que a integravam com extrema violência, recorrendo a jactos de água, gás lacrimogéneo e balas de borracha.

Na sua conta de Twitter, o jornalista chileno Claudio Arévalo, da Radio Cooperativa, de Temuco, afirmou que, na sequência do impedimento da realização da manifestação – em que foram presas pelo menos 15 pessoas e várias ficaram feridas –, se registaram confrontos ao longo do dia na cidade.

Os que vivem na região há muito dizem nunca ter visto uma repressão deste género – com mulheres, crianças e velhos a correr pelas ruas com os olhos inchados e irritados pelo gás lacrimogéneo.

No meio deste caos, o presidente do Conselho de Todas as Terras, Aucan Huilcaman, que seguia à frente da «tentativa» de marcha pacífica, conseguiu falar à Radio Universidad de Chile sobre o que se passou em Temuco esta quarta-feira.

«É uma repressão brutal, sem paralelo desde a "Pacificação da Araucânia"» [guerra contra os Mapuche, entre os anos 60 e 80 do séc. XIX, com a subsequente integração dos seus territórios no Estado chileno], denunciou, sublinhando que as «reivindicações são justas» e que os Mapuche vão continuar a lutar pela autodeterminação.

«Não aceitaremos mais militarização»

Marcelo Catrillanca, pai do jovem assassinado pelos Carabineiros em 14 de Novembro, foi um dos promotores da marcha e falou à imprensa, tendo lembrado que não era apenas Temuco que se estava a tentar mobilizar, uma vez que havia um apelo à mobilização a nível nacional.


Catrillanca sublinhou que, entre os objectivos da marcha, estavam a «reafirmação dos direitos históricos do povo Mapuche» e o anúncio do caminho a seguir tendo em conta a violação desses direitos por parte do Estado chileno.

«Hoje, isto está cheio de militares; estão a fazer isto porque querem controlar o território. Mas nós não vamos aceitar mais militarização e espero que possamos erguer-nos e estar mais unidos que nunca», declarou.

Denunciados abusos frequentes das forças policiais e militares

O povo Mapuche denuncia com frequência os «abusos das forças policiais e militares» instaladas nas suas terras e que garantem a defesa dos interesses de grupos económicos, face à insistência dos Mapuche em reivindicar a autodeterminação e o reconhecimento dos seus territórios ancestrais – à semelhança do que ocorre na Argentina.

Na Araucânia, uma das reivindicações mais prementes é a saída das forças militares da região, não concretizada pelo governo de Sebastián Piñera, que insiste em manter forças especiais no terreno com o argumento de combater «acções terroristas».

Apesar de a repressão dos Carabineiros ser frequente na região, o lonko [líder] Alejandro Toro frisou que o que se passou ontem «não tem paralelo na história contemporânea».

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