Centenas de jovens universitários juntaram-se aos protestos que a Plataforma pela Defesa da Saúde e da Educação tem promovido contra a privatização destes sectores no país centro-americano, bem como para exigir a demissão do presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández (amplamente conhecido pela sigla JOH).
De acordo com a Prensa Latina, os estudantes estiveram concentrados, primeiro, nas imediações das instalações universitárias, em Tegucigalpa, tendo-se refugiado nelas quando da chegada dos efectivos da Polícia Nacional e Militar.
Por seu lado, o Comité de Familiares Detidos Desaparecidos nas Honduras (Cofadeh) afirma que as unidades policiais lançaram «uma feroz caça» aos estudantes no interior da UNAH, contra os quais lançaram bombas de gás lacrimogéneo e dispararam balas reais. Houve vários feridos e pelo menos quatro estudantes, atingidos a tiro, tiveram de ser internados em unidades hospitalares.
A Polícia Militar justificou a entrada ilegal nas instalações universitárias na capital do país com o alegado sequestro de um dos seus membros por parte dos estudantes – uma versão do que se passou ontem na UNAH que foi desmentida pelos estudantes, revela o Confidencial HN.
Manifestações contra as privatizações vão continuar
Ontem, a Plataforma pela Defesa da Saúde e da Educação, que junta estruturas representativas de ambos os sectores, fez um apelo à continuidade e à intensificação dos protestos no país, para reivindicar que a saúde e a educação são direitos, tendo convocado para esta terça-feira novas manifestações, segundo informou a presidente do Colégio Médico das Honduras (CMH), Suyapa Figueroa.
Em declarações à imprensa, a que VTV faz referência, a dirigente sindical denunciou a violação dos direitos humanos por parte do governo de JOH, tendo recordado, a este propósito, que Eblin Noel Corea Maradiaga, de 17 anos, foi morto a tiro quando participava nos protestos na localidade de Yarumela (departamento de La Paz), na semana passada.
Os dirigentes da Plataforma chamaram ainda a atenção para os perigos que o povo hondurenho enfrenta depois de o governo ter dado ordem aos militares para ocuparem as ruas do país e, nesse sentido, vão apresentar uma denúncia formal junto do Gabinete da Alta Comissária da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O «presidente do FMI»
Juan Orlando Hernández, aliado de Washington e apoiado pelos militares, foi alvo de forte contestação popular há menos de dois anos, quando foi reeleito presidente por entre acusações de fraude.
Com a aplicação de políticas de austeridade (que lhe valeram a designação de «presidente do FMI»), as privatizações e a submissão aos interesses norte-americanos – bem visíveis no que respeita à questão dos emigrantes, que procuram escapar à miséria, à violência e à falta de perspectivas no seu país –, JOH aprofundou a grande crise em que as Honduras mergulharam na sequência do golpe de Estado perpetrado contra o governo legítimo do presidente Manuel Zelaya, em 2009, executado com o apoio do então presidente norte-americano Barack Obama e da sua Secretária de Estado, Hillary Clinton.
Encarado como «autoritário» mesmo por sectores que lhe são afins e criticado também pela Conferência Episcopal, o presidente hondurenho continua a responder com a força a esta nova onda de protestos, que já se prolonga desde o final de Abril e no âmbito da qual já foram mortas pelo menos três pessoas e centenas ficaram feridas.
«Enquanto Washington e os militares o apoiarem, a mudança não estará à vista», disse à Prensa Latina o jornalista Noé Leyva. Uma mudança «necessária» quando, de acordo com o Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG), mais de metade dos hondurenhos não tem emprego e cerca de 60% são pobres.
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