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Onda de violência em Déli entre apoiantes e detractores da lei da cidadania

Os comunistas indianos estão entre as vozes que acusam dirigentes do partido de Modi de terem provocado a onda de violência, no Nordeste de Déli, contra quem se opõe à polémica Emenda à Lei da Cidadania.

A violência começou no domingo no Nordeste de Déli, instigada - acusa o PCI(M) - por um dirigente do BJP (partido no poder)
CréditosGajendra Yadav / indianexpress.com

No domingo à tarde, horas antes da chegada do presidente norte-americano à Índia para uma visita de dois dias, o bairro de Jaffrabad, em Déli, foi palco de cenas de grande violência, que se prolongaram por esta segunda-feira adentro, entre apoiantes e detractores da Emenda à Lei da Cidadania, aprovada no final de Dezembro pelo governo de Narendra Modi.

Os protestos contra a polémica Emenda duram há mais de dois meses em todo o país asiático e, apesar de alguma violência pontual, têm sido no geral pacíficos, tanto as iniciativas levadas a cabo em universidades como as acções e mobilizações de rua – sendo alvo de repressão constante.

Os oponentes à Emenda à Lei da Cidadania (Citizenship Amendment Act; CAA), defendida pelo Partido Bharatiya Janata (BJP, do actual primeiro-ministro, classificado como nacionalista hindu e de extrema-direita), contestam a «natureza discriminatória» da legislação, uma vez que deixa de fora os refugiados muçulmanos no acesso à nacionalidade indiana.

Sublinham que é mais um passo de Modi para «marginalizar» os muçulmanos e aprofundar as «divisões» do país, e criticam também a Emenda por violar preceitos fundamentais da Constituição indiana, nomeadamente o seu carácter secular, na medida em que a nova legislação faz depender a atribuição do estatuto de cidadania de crenças religiosas.

Violência «organizada» e «incentivada»

O Partido Comunista da Índia (Marxista) acusou um dirigente do BJP em Déli, Kapil Mishra, de ter instigado a violência em Jaffrabad, este domingo; criticou o «discurso de ódio» promovido por ministros, deputados e figuras de topo do BJP; e denunciou a conivência da Polícia, uma vez que grupos violentos pró-BJP foram vistos e filmados a atacar protestos até então pacíficos dos opositores à CAA, com a Polícia ao lado deles, sem fazer nada.

Em declarações à Al Jazeera, Nadeem Khan, da organização United Against Hate! [unidos contra o ódio], também acusou Kapil Mishra de ter instigado a violência em Jaffrabad, sublinhando que «membros de várias organizações de extrema-direita, trazidos de diversos locais, atiraram pedras contra as casas das pessoas [num bairro de maioria muçulmana] e bateram nos habitantes. É claramente um ataque organizado, planeado», disse.

Seguiu-se pedrada de um lado contra o outro – que provocou pelo menos dez mortos e dezenas de feridos. A violência continuou pela segunda-feira adiante, levando as autoridades a decretarem limitações ao direito de reunião na Região Nordeste de Déli e o Metro a encerrar as estações de Jaffrabad e Maujpur-Babarpur.

Os manifestantes anti-CAA afirmam também que estas acções se inscrevem nas operações do partido governante, em curso desde sábado, para «limpar» as ruas da capital antes da chegada de Donald Trump, que passou o dia de hoje em Ahmedabad, no estado ocidental de Gujarate, e na cidade de Agra (no estado de Uttar Pradesh).

PCI (M) alerta para a «agenda unilateral» de Trump

Os comunistas indianos (marxistas), que já tinham anunciado que iriam protestar contra o presidente dos EUA durante a visita ao país asiático, emitiram um comunicado em que exigem ao primeiro-ministro que rejeite a «agenda unilateral» de Washington.


Num documento a que a Prensa Latina teve acesso, afirmam que a administração norte-americana quer promover «uma economia indiana aberta, em prol dos interesses das empresas dos EUA», alertando que, sem protecção, a agricultura indiana seria destruída, assim como o sustento de milhões de pessoas.

Os comunistas alertam também para as pressões de Trump sobre o sector da Saúde indiano – para benefício das grandes empresas farmacêuticas norte-americanas – e defendem que os EUA representam «a maior ameaça a um sistema de comércio assente em normas» e que «minam a segurança dos meios para a vida e a soberania de outros países».

Referem-se ainda à pressão exercida sobre o país subcontinental no sentido de assegurar os interesses estratégicos dos EUA e promover a venda do seu armamento, algo que, entendem, reduz a Índia à condição de «aliado subordinado dos Estados Unidos, contra os interesses nacionais e a independência».

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