«É uma bomba-relógio. É uma questão de tempo até se perceber que o Porto de Lisboa não está a trabalhar normalmente», disse à Lusa o presidente do Sindicato dos Estivadores e Actividade Logística (SEAL), António Mariano, assegurando que «nos últimos dias houve trabalhadores portuários a fazerem 16 horas de trabalho diário e outros 24 horas».
Na passada sexta-feira, a Associação de Operadores do Porto de Lisboa (AOPL) anunciou que o porto já estava a trabalhar normalmente, mesmo sem os 134 estivadores da A-ETPL (Associação-Empresa de Trabalho Portuário de Lisboa), que está em processo de insolvência, e afirmou que os trabalhadores daquela empresa não só tinham sido despedidos como já não integravam o efectivo do Porto de Lisboa.
Mas, para o presidente SEAL, a realidade é bem diferente, e a situação do Porto de Lisboa é «insustentável» face ao reduzido número de trabalhadores das empresas de estiva, que sempre recorreram aos trabalhadores da A-ETPL.
«Metade dos trabalhadores do Porto de Lisboa, que antes trabalhavam diariamente, e que há poucos dias ainda estavam a trabalhar sob requisição civil, foi descartada e não estão a trabalhar por opção das empresas», denunciou António Mariano.
«A outra metade está a trabalhar dois e três turnos consecutivamente, num ambiente complexo em termos psicológicos e de saúde», acrescentou o dirigente, advertindo para as consequências que a actual situação poderá ter em tempo de pandemia da Covid-19, não só para o abastecimento da população de Lisboa, mas também para as regiões autónomas da Madeira e dos Açores.
Em comunicado, o SEAL afirma que o número de estivadores dos quadros das empresas de estiva «não é, nem nunca foi, suficiente para o Porto de Lisboa trabalhar normalmente», e considera que a prova desse facto são as pressões que estarão a ser exercidas sobre alguns trabalhadores para assinarem contratos de trabalho com outras empresas criadas para substituírem a A-ETPL.
O sindicato afirma também a intenção de requerer a realização de uma assembleia de credores da A-ETPL, propor um plano de recuperação da empresa e pedir a substituição do administrador judicial, que acusa de desrespeitar a lei em vigor.
Com agência Lusa
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