O relatório mais recente da ONG Oxfam Intermón, publicado na terça-feira com o título «Uma reconstrução justa é possível e necessária», prevê um aumento severo da desigualdade em Espanha e estima que, na sequência da crise associada à pandemia, haja mais 700 mil pessoas em situação de pobreza.
«Com um aumento esperado da taxa de desemprego de 13% para 19%, além de uma queda do PIB [produto interno bruto] de 9% durante o ano de 2020, estimamos que o número de pobres em Espanha possa aumentar em mais de 700 mil pessoas, alcançando 10,8 milhões», lê-se numa das primeiras páginas do relatório.
Realizado pela Oxfam Intermón, o estudo alerta para as consequências da pandemia de Covid-19 ao nível da desigualdade e da pobreza, sublinhando que «os graves danos económicos e sociais se distribuíram de forma muito desigual e muito injusta», e que, «a longo prazo, poderiam chegar a ser mais graves que a pandemia em si mesma».
Em termos percentuais, a organização não governamental afirma que se regista «um aumento da pobreza monetária de 1,6 pontos, atingindo 23,1% da população (face aos 21,5% antes da Covid-19)». No entanto, adverte, «estes números podem ser enganadores, pois a forte queda do PIB também representa uma importante queda no limiar da pobreza. Considerando constante o limiar da pobreza, a pobreza relativa poderia alcançar 26% (mais de 12,3 milhões de pessoas)».
A Extremadura é, segundo as estimativas da Oxfam, uma das comunidades mais afectadas pelos impactos económicos e sociais da crise sanitária. Assim, o estudo situa a comunidade autónoma extremenha como a mais desigual em termos de rendimentos num cenário pós-Covid-19, com uma variação percentual de 7,43 e à frente das Canárias, da Andaluzia e de Castela-Mancha, onde se regista também um grande aumento da desigualdade.
Também no que respeita à estimativa de taxa de pobreza relativa, o relatório coloca a Extremadura à cabeça, com um aumento real de mais de 27 mil pessoas em situação de pobreza (alcançando 416 500 pessoas, que representam 39,19% da população, face aos 36,6% em situação de pobreza antes da Covid-19). Trata-se da comunidade autónoma onde o «vírus» mais impacto socioeconómico tem, apresentando a maior subida de todas as comunidades em termos percentuais (2,59). Em termos absolutos, destaca-se a Andaluzia, que, segundo a estimativa da ONG, deverá um aumento de mais de 200 mil pessoas abaixo do limiar da pobreza. Nesta situação, passam a estar 2 859 279 pessoas, de acordo com o estudo.
Em simultâneo, o dossiê da Oxfam destaca que, em apenas 79 dias, aumentou a riqueza dos multimilionários em Espanha incluídos na lista Forbes. «Todos eles, sem excepção (23 multimilionários, 18 homens e cinco mulheres), aumentaram o valor da sua riqueza», afirma.
Medidas para combater o cenário de pobreza
No relatório, a Oxfam apresenta muitas medidas e recomendações para «evitar que a fase de reconstrução assente em políticas que tragam maior precariedade laboral, mais desvalorização salarial ou o emagrecimento das prestações públicas que se mostraram imprescindíveis».
A ONG defende, entre outras coisas, «um esquema de rendimento garantido mais amplo e ambicioso», a criação de um modelo tributário mais justo e progressivo – «os recursos necessários para a recuperação devem vir de quem menos perdeu», afirma – e medidas de combate à precariedade laboral e de garantia de estabilidade no emprego.
Defende, igualmente, que sejam garantidos os direitos dos migrantes, por via de um «processo de regularização administrativa amplo que permita o acesso à autorização de trabalho e residência por razões extraordinárias» daqueles que vivem no Estado espanhol.
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