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Agentes encapuçados levam manifestantes: protestos em Portland há mais de 50 dias

Desde Maio que milhares protestam contra o racismo e a brutalidade policial na maior cidade de Oregon. A repressão ganhou nova dimensão com a intervenção dos militares, sem o aval das autoridades locais.

Os agentes federais foram enviados para Portland na sequência de uma ordem executiva assinada por Donald Trump, de acordo com a qual o governo federal pode enviar tropas para os estados sem autorização dos seus governadores
Créditos / Sputnik News

As tropas federais foram enviadas para o estado e o fogo cruzado entre o governo local e a Casa Branca tem-se multiplicado, sobretudo depois das denúncias de que agentes encapuçados, não identificados, prenderam manifestantes e os meteram em viaturas também não identificadas. Um cenário que não é estranho, por exemplo, nas manifestações de estudantes em Bogotá, na Colômbia.

«Estas acções estão fora de controlo […]. Mostram mais as tácticas de um governo liderado por um ditador, não de uma república democrática constitucional», escreveram funcionários locais numa carta de protesto dirigida às autoridades federais, revela o portal Cubadebate.

Por seu lado, o presidente norte-americano, que atribui a responsabilidade dos protestos na sequência da morte de George Floyd a «antifas e à esquerda radical» e se apresenta como «o presidente da lei e da ordem», afirma que as tropas procuram proteger a cidade e os seus habitantes.

«Estamos a tentar ajudar Portland, não prejudicá-la. Os seus líderes, durante meses, perderam o controlo dos anarquistas e agitadores. Não tomam decisões. Temos de proteger a propriedade federal e a nossa gente. Estes não foram simplesmente manifestantes, são o verdadeiro problema!», escreveu no Twitter este domingo.

No fim-de-semana e pela semana fora, houve vários confrontos entre os agentes federais e os manifestantes, enquanto aumentavam os protestos do governo local para que as tropas se retirassem de forma imediata.

A União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) afirmou que a disputa entre as autoridades federais e locais criou uma «crise constitucional» e questionou o modo como as tropas têm estado a deter os manifestantes e a reprimir os protestos.

Mobilizações há mais de 50 dias

Enquanto os protestos pela morte de Floyd às mãos da Polícia iam perdendo fôlego noutros pontos do país, na cidade de Portland as marchas e os confrontos com a Polícia não pararam.

Recentemente, a situação piorou com a presença não solicitada dos agentes federais não identificados. Em vídeos e fotos que se tornaram virais nas redes sociais, aparecem agentes, encapuçados, não identificados, a disparar latas de gás lacrimogéneo e balas de borracha contra as multidões.

Mais controvérsia ainda geraram outras gravações em que se vêem manifestantes nas ruas a serem metidos à força em viaturas em viaturas não identificadas.

Apesar das exigências de retirada das forças federais, na segunda-feira passada o Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) disse que não tinha intenção de sair de Portland. «Não estamos a fazer escalar os protestos, estamos a proteger», disse à Fox News o secretário interino de Segurança Nacional, Chad Wolf, que qualificou os manifestantes como «máfia violenta» e «anarquistas».

Por seu lado, o dirigente do Serviço de Alfândegas e Protecção das Fronteiras dos EUA, Mark Morgan, escreveu no Twitter que a agência irá continuar a prender «criminosos violentos que estão a destruir propriedades federais».

Embora não levem identificação, os agentes parecem pertencer a uma nova unidade do DHS criada na sequência dos protestos em todo o país pela morte de Floyd, em Minneapolis (Minnesota).

Os agentes foram colocados no terreno ao abrigo de uma ordem executiva assinada por Donald Trump no mês passado, de acordo com a qual o governo federal pode enviar tropas e agentes para os estados sem autorização dos seus governadores.

Manobra política

A cerca de três meses das eleições presidenciais, Trump comprometeu-se a controlar os «distúrbios» e lançou acusações contra os democratas de «incapacidade» a lidar com os protestos. Ontem, o presidente dos EUA insistiu no envio de agentes federais para cidades como Albuquerque, Chicago ou Kansas City.

Autoridades locais de Albuquerque (Novo México) e Chicago (Illinois) já manifestaram a sua oposição à medida e acusaram Trump de estar a fazer uma manobra política para desviar as atenções do descalabro da situação da pandemia de Covid-19 no país.


No estado de Oregon e em Portland, as medidas da Casa Branca foram postas em causa, uma vez que as forças federais tornaram o cenário mais tenso e «pioraram a situação», segundo referiu o presidente do Município de Portland, Ted Wheeler.

A governadora do estado, Kate Brown, apoiou os comentários de Wheeler e acusou Trump de mandar tropas federais para um «teatro político». Entretanto, o estado de Oregon apresentou uma queixa contra as agências federais envolvidas nas detenções da semana pasada, acusando-as de detenção ilegal de manifestantes.

A procuradora-geral, Ellen Rosenblum, pediu uma ordem de restrição para evitar que os agentes federais continuem a efectuar detenções. As autoridades locais defendem que, com raras excepções de grupos de «agitadores», as manifestações têm sido pacíficas.

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