Numa mensagem transmitida pela televisão, Merino anunciou este domingo que renunciava ao cargo de presidente interino do Peru, depois de 13 dos 18 ministros do seu gabinete se terem demitido e de o presidente do Congresso, Luis Valdez, o ter instado a renunciar, «para acalmar os ânimos nas ruas».
Merino substituiu, por nomeação parlamentar, o presidente até agora em funções, Martín Vizcarra, que há uma semana foi destituído por alegado envolvimento num esquema de corrupção. Vizcarra tinha assumido o cargo em 2018 por ser o vice-presidente de Pedro Pablo Kuczynski, também acusado de corrupção.
Além de Vizcarra e Kuczynski, nas últimas décadas vários outros presidentes peruanos foram acusados de participação em esquemas de corrupção, nomeadamente Alejandro Toledo, Alan García e Ollanto Humala.
Festa nas ruas, depois de grandes manifestações e forte repressão
Mal Merino tornou pública a decisão de renúncia ao cargo, milhares de pessoas vieram para as ruas do país sul-americano expressar de forma ruidosa a sua satisfação, considerando terem sido elas, nas ruas, que conseguiram anular uma decisão das elites para blindarem os seus interesses, ao arrepio dos das maiorias.
Desde que Vizcarra foi destituído e Manuel Merino assumiu o cargo para formar governo, no pasado dia 9, surgiram sinais de descontentamento, com as pessoas a virem para as ruas, e a exibirem faixas em que se lia «Merino não me representa» ou «Merino não é o meu presidente».
Na quinta-feira e no sábado, houve grandes manifestações em vários pontos do país, as maiores na capital, Lima, muito dinamizadas por jovens, que deixaram claro que as mobilizações não eram pelo regresso de Vizcarra – que querem ver julgado –, mas contra a corrupção e por «estarem cansados dos políticos de sempre, que dividem o bolo entre si e impõem os seus interesses pessoais».
No sábado, quinto dia consecutivo de protestos, os manifestantes defenderam também uma «mudança constitucional» e viram-se faixas em defesa de uma Constituinte, refere o Resumen Latinoamericano.
A Polícia respondeu com grande violência às maiores manifestações das últimas décadas no Peru. No sábado, foram mortos dois jovens – Inti Sotelo e Bryan Pintado – e mais de cem pessoas ficaram feridas como consequência da acção policial.
Além disso, a Coordenadora Nacional dos Direitos Humanos reportou a existência de 44 pessoas desaparecidas. Tal como Tribunal Constitucional, exigiu às forças policiais a imediata identificação e localização das pessoas desparecidas nos protestos recentes.
Ontem, um grupo de jovens dirigiu-se a casa de Inti Sotelo, onde, informa a Prensa Latina, deu as condolências à família e prestou homenagem a Inti, cujo pai os animou a comprometerem-se politicamente, organizarem-se para as eleições previstas para Abril de 2021 e lutarem por uma nova Constituição.
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