O «anúncio» foi feito esta quarta-feira por Ashok Dhawale, presidente do Sindicato dos Agricultores de Toda a Índia (All India Kisan Sabha), quando participava numa manifestação de agricultores na capital do estado de Bengala Ocidental.
Apesar das tentativas em sentido contrário do governo de Narendra Nodi, os protestos dos agricultores têm-se intensificado contra a legislação aprovada em Setembro, que os deixa à mercê dos grandes grupos económicos e que, afirmam os sindicatos, põe fim ao preço mínimo garantido, ameaça a segurança alimentar do país e conduz à destruição da pequena agricultura pelo agronegócio.
«Nem o primeiro-ministro, nem o Supremo Tribunal são capazes de impedir os agricultores de desfilar em Nova Déli», disse Dhawale, referindo-se à mobilização nacional convocada para 26 de Janeiro, Dia da República, que assinala a data em que entrou em vigor a Constituição do país, em 1950.
O presidente do AIKS sublinhou ainda, na presença de milhares de agricultores reunidos em Calcutá, que, desde o fim de Novembro, quando começaram os protestos, a adesão às mobilizações é crescente e que, no estado de Maharashtra, todos os partidos, com excepção do Bharatiya Janata Party (BJP, de extrema-direita), estão a apoiar abertamente os protestos dos camponeses e a recolher apoio para o desfile de dia 26, refere o portal newsclick.in.
Os agricultores anunciaram, no início do ano, que, caso não houvesse avanços nas negociações com o governo, iriam realizar um desfile, com os seus tractores, na capital do país no dia 26, mas sem perturbar as cerimónias oficiais no Rajpath, a avenida de Nova Déli onde tem lugar a parada do Dia da República.
Sobre as alegações de que o protesto vai ser «violento», os agricultores deixaram claro que, pela sua parte, «não há nada a temer». «O desfile dos camponeses será ainda melhor que a parada com os tanques, e haverá canções», disse um dirigente sindical. Posteriormente, precisou que o protesto terá lugar na Circular Exterior a Nova Déli.
Motores a aquecer em Bengala Ocidental e Kerala
Amal Halder , dirigente do AIKS, também falou no protesto desta quarta-feira em Calcutá, para destacar que os agricultores de Bengala Ocidental têm estado a lutar pelos seus direitos nas aldeias. Neste estado do Leste da Índia, as organizações de agricultores estão a promover desfiles de motorizadas e tractores em todos os distritos como forma de apoio à mobilização de dia 26.
No estado de Kerala, no extremo Sul do país, um primeiro grupo de 500 agricultores partiu para a capital no passado dia 11, para se juntar aos protestos do Dia da República. Ontem, um segundo grupo fez o mesmo. Trata-se de agricultores filiados no Kerala Karshaka Sangham – sindicato que se integra no AIKS.
Em Uttar Pradesh, «vão participar, aconteça o que acontecer»
Os sindicatos têm andado a mobilizar os agricultores no estado mais populoso da Índia (cerca de 200 milhões de habitantes), realizando marchas de tractores nas aldeias, apesar das proibições da Polícia. Além disso, tanto agricultores mais novos como mais velhos andam de porta em porta, a contactar as pessoas nas aldeias e a realizar pequenas assembleias para as informar sobre o que está em causa e os direitos a que têm direito.
Naresh Chaudhary, dirigente do sindicato Bhartiya Kisan Union, disse ao newsclick.in que a Polícia tem estado a questionar os agricultores e os sindicalistas sobre os detalhes do trajecto e o número de manifestantes previsto, mas recusando-se a dar-lhes autorização para avançar porque, alegam, o protesto vai causar «inconvenientes» à população de Nova Déli.
Chaudhary diz que «não é a primeira vez que a Polícia de Uttar Pradesh tenta intimidar e acossar os agricultores», sublinhando que os agentes se têm empenhado em manter o movimento sindical debaixo de olho nos 75 distritos do estado. Apesar disso, afirma, os agricultores têm realizado grandes assembleias, e alertou a Polícia para as «repercussões» de uma eventual interrupção da marcha no dia 26.
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