Só no estado de Haryana (Norte da Índia) há dezenas de milhares de ASHA (accredited social health activist), trabalhadores comunitários da saúde que desempenham um papel central na chamada e muito louvada «linha da frente» contra a Covid-19. Louvores não faltam; mas a conversa é outra no que respeita a materias sanitários e a apoios, em vida e na morte.
Suman, uma trabalhadora comunitária da saúde de 36 anos, do distrito de Jhajjar, morreu no passado dia 30 de Abril, num hospital da cidade de Rohtak, devido à falta de oxigénio, dias depois de ter tido um resultado positivo num teste à Covid-19, segundo o seu marido, Bijender Kumar.
Kumar disse que a mulher não recebeu máscaras, luvas, equipamento de protecção sanitário e nem sequer gel para desinfecção. «Ela usava a dupatta [echarpe] à volta do nariz e da boca, e o gel fui eu que lho comprei no mercado», disse Bajinder.
O trabalho de Suman, que já tinha sido vacinada, consistia em andar de casa em casa a ratrear famílias que apresentassem sintomas, bem como em informar as pessoas sobre a doença e a importância de usar máscara e de lavar as mãos. Também visitava semanalmente as famílias de doentes infectados com Covid-19, para lhes entregar medicamentos, informa o portal newsclick.in.
O viúvo de Suman lembra que já passou mais de um ano desde que a pandemia lançou a Índia no caos e que estes trabalhadores da saúde, a quem tudo se pede, ainda não recebem equipamento de protecção ou subsídio de risco.
Recentemente, mais de 19 mil trabalhadores comunitários da saúde no estado de Haryana aderiram a um protesto nacional, convocado pelo Centro de Sindicatos Indianos (CITU). Os trabalhadores, revela o newsclick.in, pararam de trabalhar e manifestaram-se à porta dos centros de saúde e centros de atendimento primário, bem como das sedes dos ministros-chefes dos estados, para chamar a atenção para as «condições deploráveis» em que trabalham.
Dificuldade em receber compensações prometidas
Passou mais de um mês desde a morte de Suman e a família luta para conseguir que o dinheiro estique até ao fim do mês. Bijender está desempregado. Tem um búfalo e faz algum dinheiro com o leite que vende aos vizinhos. Ainda está à espera de que o governo central pague os cinco milhões de rupias de seguro que prometeu às famílias dos trabalhadores da saúde mortos no desempenho da profissão no contexto da pandemia.
«Dirigi-me ao gabinete do magistrado distrital de Jajjhar e foi-me categoricamente dito que a minha família não entra nos critérios para a atribuição do seguro», afirmou Kumar.
No distrito de Panchkula, a família de Kavita, outra trabalhadora comunitária da saúde que morreu com Covid-19, também não conseguiu beneficiar do seguro de compensação. A família mostrou relutância em falar ao newsclick.in, mas a sua colega Surekha, membro do CITU, disse que Kavita tinha tido positivo num teste à Covid-19 e teve de dar entrada num hospital, onde veio a falecer com um ataque cardíaco.
Provar que a morte está relacionada com a Covid ou nada de seguro
Suman e Kavita eram duas entre milhões de trabalhadores que sustentam o sistema de Saúde no terreno. De acordo com o CITU, centenas tiveram resultado positivo e pelo menos dez morreram só no estado de Haryana, e nenhuma das famílias recebeu a compensação que o governo de Modi anunciou o ano passado para estas situações.
Tanto num caso como noutro, revela o newclick.in, as famílias de Suman e Kavita não receberam nada porque foram incapazes de provar que havia uma relação entre as mortes e a doença, aguardando que os hospitais apresentem os documentos necessários ao seguro.
«Nem uma única família de uma trabalhadora morta neste contexto recebeu qualquer seguro. E os hospitais não estão a emitir certificados, recusando que a Covid seja a causa primeira da morte», disse Surekha, do CITU.
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