|Colômbia

Dois meses de «paro nacional» e os protestos na Colômbia não param

Para denunciar a desigualdade e a violência, exigir um outro modelo socioeconómico e a dissolução do Esmad, milhares mobilizaram-se em cidades como Medellín, Bucaramanga, Barranquilla, Cáli e Bogotá.

As manifestações desta segunda-feira em várias cidades colombianas voltaram a ser alvo de forte repressão 
Créditos / TeleSur

Diversos sectores convocaram uma jornada de mobilização nacional para esta segunda-feira, quando passavam dois meses desde o início da «greve geral» contra as políticas neoliberais do governo de Iván Duque.

Entre as reivindicações apontadas, contava-se a exigência de justiça para os mais de 70 assassinados, as centenas de desaparecidos, os milhares de feridos pela acção da Polícia e do chamado corpo de elite, o Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad).

Ontem, numa jornada de mobilização que teve grande expressão em cidades como Cáli, Bucaramanga, Medellín, Barranquilla e Bogotá, voltaram a repetir-se as denúncias de repressão e violência por parte do Esmad.

Em Medellín, o meio Colombia Informa revelou que os agentes atacaram os manifestantes com canhões de água, com gás lacrimogéneo e, inclusive, com pedras, nomeadamente os que se concentraram na Universidade de Antioquia.

Outra denúncia reiterada foi a do ataque a jornalistas que se encontravam a cobrir os protestos, tanto do Colombia Informa como do Tercer Canal.

Conquistas da luta e divisão no seio dos «organizadores»

Entre as conquistas alcançadas pelo povo colombiano desde o início das greves e protestos, a 28 de Abril, destaca-se o facto de os manifestantes terem trazido para a primeira linha da actualidade a necessidade de pôr cobro à violência estrutural e à violação massiva dos direitos humanos no país sul-americano, bem como de se avançar com uma reforma no seio da Polícia e de discutir a dissolução do Esmad.

O «Paro Nacional» também conseguiu travar a reforma tributária e a reforma de privatização da Saúde, bem como avanços na Educação, ao nível do Ensino Superior, além de ter levado às demissões de dois ministros (Finanças e Negócios Estrangeiros) e de um comandante da Polícia.

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Na Colômbia, os protestos não param e as denúncias de abusos também não

Na cidade de Cáli, a Associação Nacional dos Estudantes do Secundário reportou várias situações de abuso perpetradas pela Polícia contra os manifestantes mobilizados contra as políticas de Duque.

Sucedem-se as denúncias de abusos cometidos pelas forças policiais na Colômbia, sobretudo pelo Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) 
Créditos / Prensa Latina

Em comunicado, a associação estudantil referiu que, ontem à tarde, a Polícia efectuou disparos directamente contra vários jovens – alguns dos quais membros da associação – que realizavam uma acção de luta cultural no chamado Puerto Resistencia, em Cáli (departamento de Valle del Cauca).

Como dois dos jovens foram atingidos pelas balas – um na cabeça e outro numa perna –, alguns estudantes decidiram mudar-se para o Paso del Comercio, onde, refere o texto, a Polícia os recebeu com disparos de pistolas e espingardas.

Neste sentido, a associação estudantil pede ao Município de Cáli que garanta o direito ao protesto e à vida dos manifestantes, exige a retirada imediata das forças policiais e militares dos pontos referidos, bem como a abertura de investigações que permitam esclarecer os factos e condenar os responsáveis.

Denúncias de abusos também em Bogotá e Medellín

Heidy Sánchez, vereadora no Município de Bogotá, denunciou que o jornalista Diego Otavo, do órgão comunitário Noti Barrio Adentro, foi agredido presumivelmente por membros da Polícia colombiana quando cobria uma mobilização social, esta quarta-feira. No hospital, foi-lhe diagnosticado um trauma cranioencefálico leve, indica a Prensa Latina.

Também há registo de diversas denúncias contra a Polícia na cidade de Medellín, onde esta quarta-feira teve lugar uma grande manifestação contra o governo de Iván Duque. De acordo com a TeleSur e vários utilizadores da rede social Twitter, o Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) atacou membros dos serviços de atendimento médico (APH), bem identificados, com bombas atordoantes e gás lacrimogéneo, e agrediu uma fotógrafa que cobria a manifestação.

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Continuam as mobilizações contra o governo de Duque na Colômbia

O Comité da Greve afirma que Duque quer enganar os colombianos. Em Cáli, uma das cidades com mais mortos, feridos e desaparecidos no contexto das mobilizações, o povo inaugurou o Monumento à Resistência.

Monumento à Resistência que o povo erigiu na cidade de Cáli, departamento de Valle del Cauca, Sudoeste da Colômbia  
Créditos / @UnivalleU

As grandes manifestações e greves contra o governo colombiano iniciadas a 28 de Abril, «por causa de uma reforma tributária» que uma boa parte da população rejeitava, continuam a verificar-se no país sul-americano e prevê-se que prossigam pelo menos ao longo desta semana, tendo em conta que as negociações entre o Comité da Greve e o governo de Iván Duque estão paradas.

Milhares de pessoas inauguraram o Monumento à Resistência em Cáli este domingo / Resumen Latinoamericano

Diógenes Orejuela, dirigente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e porta-voz do Comité, afirmou que a proposta avançada pelo governo de realizar negociações a nível regional com representantes do Comité da Greve em cada departamento, com a participação dos governadores e presidentes dos municípios, é uma «acção para os enganar», informa a TeleSur.

Para o Comité, não se trata de negociações mas de «simulacros e negociações para enganar os colombianos», o que é «uma grande falta de respeito para com o país, com os milhões de colombianos que se manifestaram em mais de 800 municípios», disse Orejuela.

Com esta atitude, sublinhou, o governo não se pode queixar de que o país está a ser prejudicado pelas greves e as manifestações. «É o país que é terrivelmente prejudicado por este presidente, Iván Duque», frisou.

Louvor à Resistência popular em Cáli

No domingo, na cidade de Cáli, uma das cidades onde há registo de mais mortos, feridos e desaparecidos na sequência da repressão policial e militar exercida sobre os manifestantes, milhares de pessoas inauguraram o Monumento à Resistência no chamado Puerto Resistencia, local de grandes protestos antigovernamentais.

«Sabem porque é o melhor monumento da Colômbia? Porque o fez o povo sem descansar; trabalharam dia e noite com as suas mãos e dignidade para homenagear a luta e os que nela caíram. Obrigado, Puerto Resistencia», disse à Prensa Latina Francisco Romero, presente no local durante a inauguração.

Feliciano Valencia, senador pelo Movimento Alternativo Indígena e Social, destacou aquilo que foi alcançado neste «paro nacional», que já vai em 49 dias, como travar a reforma tributária e a reforma de Saúde, a renúncia do ministro das Finanças, Alberto Carrasquilla, bem como da ministra dos Negócios Estrangeiros, Claudia Blum, e do comandante da Polícia de Cáli, Juan Carlos Rodríguez, entre outras coisas.

Paramilitares atacam agricultores em Norte de Santander

No sábado, houve grandes mobilizações em vários pontos do país, sendo uma das maiores a que ocorreu na cidade de Medellín. Além disso, registaram-se cortes de estrada em diversos locais. Com o que realizaram em Cajamarca (departamento de Tolima), os manifestantes quiseram denunciar a ausência de respostas do governo a temas como a brutalidade policial e a acção dos paramilitares.

Manifestantes este fim-de-semana na Colômbia / Resumen Latinoamericano

Na região do Catatumbo (departamento de Norte de Santander, no Nordeste do país), indivíduos que se identificaram como «paramilitares» atacaram agricultores que se manifestavam, chamando-lhes «guerrilheiros», batendo-lhes e roubando-lhes telemóveis. Depois, efectuaram pelo menos 150 disparos, ferindo múltiplos manifestantes, também com «armas traumáticas», segundo refere o Equipo Jurídico Pueblos.

O mesmo organismo denunciou, esta segunda-feira, que «paramilitares» mantiveram retidos por várias horas representantes dos camponeses, defensores dos direitos humanos e o governador do departamento de Norte de Santander na Escola Mercedes 2.

Enquanto isto ocorria, denunciou o Equipo Jurídico Pueblos, agentes da Polícia Nacional entraram e saíram da escola sem qualquer restrição.

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As mobilizações contra as políticas neoliberais do governo de Iván Duque continuaram em vários pontos do país, apesar de, na segunda-feira, o Comité da Greve ter anunciado que ia interromper temporariamente estas iniciativas, que têm tido lugar no país sul-americano deste 28 de Abril último.

Numa conferência de imprensa, representantes do Comité justificaram a decisão com o facto de o governo de Duque não ter reconhecido o pré-acordo sobre garantias mínimas para o exercício do direito à manifestação e com a necessidade de proteger os manifestantes da violência.

No entanto, a decisão não foi bem acolhida por múltiplos sectores, que anunciaram que iam continuar a fazer greve e a protestar contra o governo «criminoso» de Duque nas ruas do país.

Também houve manifestações nas cidades de Pasto (Nariño) e Bucaramanga (Santander), onde foi denunciada a presença e a acção repressiva do Esmad em zonas residenciais.

De acordo com a informação divulgada esta terça-feira pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), 70 pessoas foram assassinadas desde o início da greve na Colômbia, sendo que 46 homicídios terão sido perpetrados pelas forças policiais.

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No entanto, o governo de Duque recusou-se a assinar um pré-acordo negociado com o Comité da Greve com vista a garantir o direito ao protesto. O Comité decidiu então mudar de estratégia, abandonando as ruas para «proteger as vidas dos manifestantes», isto porque, acrescentou, o governo iria avançar para utilização da força de forma desmedida.

Representantes do Comité da Greve anunciaram então um novo plano, que passa pela criação de projectos de lei sobre assuntos contidos no caderno reivindicativo de emergência, que serão entregues ao Congresso no próximo dia 20 de Julho.

O Comité anunciou para esse dia uma mobilização que terá como lema «Pela vida, paz, democracia e contra as políticas neoliberais do governo de Duque». No entanto, diversos sectores que integram o Comité manifestaram discordância com uma estratégia que passa por abandonar as ruas, tendo decidido continuar a promover a realização de protestos contra o governo de Duque.

Indepaz e Temblores reportam 75 assassinatos no contexto dos protestos

As organizações não governamentais Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) e Temblores apresentaram esta segunda-feira um relatório intitulado «Cifras de la violencia en el marco del Paro Nacional 2021» (Números da violência no contexto da Greve Geral 2021), centrado no grande número de manifestações ocorridas nos últimos dois meses e que «foram alvo do uso de violência por parte das forças de segurança».

O estudo dá conta de 75 homicídios, dos quais 44 terão sido cometidos pelas forças de segurança. Informa ainda que, entre 28 de Abril e 28 de Junho, 83 pessoas sofreram lesões oculares e 28 foram vítimas de diversas formas de violência sexual.

O Indepaz e a Temblores registaram ainda 1832 casos de detenções arbitrárias e 1468 casos de denúncia de violência física por parte dos corpos policiais.

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